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Mostrando postagens de novembro, 2012

A penúlltima Volta do Parafuso

Diante do espetáculo sombrio Dessa gente morta de pouco afeto Pulsa o sangue aberto no pulso frio Como lágrimas vermelhas em chão repleto Verte a gota nesta cama amarga e sombria Como sopram os ventos segundos do dia Em cada pingo em chão o abraço Uma fenda esfumaça a pena se revela E sofre como açoite em velho hábito O cantar de sofrimentos ocultados Não senão pior é o castigo O sofrer sem razão direta, concebida O morrer de pouco sem saber o que te mata Seja em corpo ferido e infecto Seja infeta alma que acorrenta. Ainda sendo o verbo que te maltrata. Não cabe em ti o amargor externo Como se não coubesse nuvem de ressaca Em cabeça de inverno. Ventania, carrega o passageiro solitário Que desloca a poeira dos dias, lentamente Já não será tamanha a dor Não sendo sua ferida aberta. Cede o caminho adiante Ante o obstáculo terno O invível de uma imagem que aprisiona Para liberta a corrente uma palavra basta Uma palavra vale mais que mil imagens Para a libe

“Não contendas com alguém sem razão, se te não tem feito mal”. (Pv. 3:30)

“Não contendas com alguém sem razão, se te não tem feito mal”. (Pv. 3:30) Mas para muitos evangélicos que conheci isso era uma desculpa para pairar na alienação e na preguiça de lutar pelo seu próximo. Quando me questionam porque abandonei completamente a religião eu deixo claro que me causa repulsa o individualismo e o consumismo do cristão, e mais me causa repulsa ainda a sua associação de benção com bens materiais. Mas nada disso me deixa mais decepcionado do que o fato de não assumirem tal comportamento. Se Jesus fosse realmente conhecido de alguns, seria odiado pela Igreja e seus fiéis seguidores (da Igreja, não de Jesus), pois ele lutou pelo que acreditava, até o fim. Não seria ele alguém que participou e causou muitas contendas com um fim? Existe uma censura silenciosa, agressiva e injusta pairando nas Igrejas cristãs, quando você, por mais jovem que seja, questiona alguma prática, é rotulado de pecador, e tão logo deve ser afastado por ser o "irmão que gera con

Brasil, um país de um mundo atrasado.

Durante toda a minha vida escurtei a frase: "O Brasil é um país atrasado". Vinha da boca dos mais velhos, obviamente; bancários, funcionários públicos, motoristas e cobradores de ônibus, dos pais, tios, padrinhos, amigos dos pais, taxistas, pedreiros, religiosos, enfim, este era o meu círculo social na época. Mas de todos estes, dos que mais ouvi vieram da boca dos meus professores, especialmente de geografia e história. Era um bombardeio diário à imaginação e auto-estima: "O Brasil é um país atrasado", e tão logo vinha a inevitável comparação com os ícones da economia da época: EuA, Japão, e uma parcela ínfima de países da península ibérica que todos teimam em chamar de Europa. "O Brasil é um país atrasado" sempre esteve em meu imaginário quando eu posso ver reflexos de avanço representados pelas mais finas e altas classes sociais, que desfrutam de parte disso, geralmente trazidos do exterior, repetindo gole a gole, de seja lá qual for a sua b

Só mesmo Trindade

Estação Sto Amaro do Metrô Escuta, o som dos trilhos Mas não dá pra entender O que ele tá querendo dizer Tem gente com fone tem gente com fone tem gente com fone Sobrevoa nas cabeças dispersas Serpenteia-se por olhares perdidos Uma pálpebra caída e um bocejo Tem gente com fone tem gente com fone tem gente com fone Numa tela de tinta homogênea Pra que o preto, o branco, o marrom É tudo muito cinza Tem gente com fone tem gente com fone tem gente com fone Uma mulher morde uma maçã Um homem toma o seu pedaço Mas aqui nunca foi o Edem Tártaro metálico, homem bateria Saúde e alegria é uma calunaria Recolham o corpo esquartejado do Mário Tem gente com fone Tem gente com sono Tem gente sem fome. Só mesmo trindade Para azedar esta verdade.

Frase XLI

Sua liberdade de expressão não te dá o direito de inibir a liberdade do outro. Enquanto estivermos tentando converter os outros em nós mesmos, a ideia de liberdade permanecerá como uma vaga ideia.
Quando eu era pequeno não achava justo meus bonecos não falarem. Eu sabia que eles não falavam, era bobagem eles não falarem. Mas eu tinha um boneco do Buzz Ligthyear, totalmente High Tech para a minha simplicidade. Ele era meu único amigo em casa. Conversando com ele uma vez me disseram: "Seu idiota, que coisa mais idiota brincando de conversar com os bonecos". Não era justo Deus, Jesus e todos os santos terem o direito de falarem, mas os meus bonecos não.
Quem será mesmo senhor de si? - Por que me socou os dentes? - Porque te detesto - esta é a excusa. O senhor de si diria: porque meu cérebro ordenou que meu braço se movimente até a tua boca. - Por que me quer senhor de si? - Para te comer todos os dias. O senhor de si vive só em uma caverna desconhecida e nunca é o senhor do presente, é o senhor de um futuro distante e caótico que busca explicação para a própria miséria. Bata com o pau no chão, fazendo o barulho antropomórfico. Seremos animais mudados em humanos.

Raio-X Número 1: O meu direito de egocentrismo

Não tenho muitos amigos ou simpatizantes, e os poucos que tenho vejo com tão pouca frequência, mediados apenas pela rotina, pela irreparável e inescapável rotina. Sou um antipático nato. To dizendo isso não porque eu gosto de ser assim, mas porque essa condição me incomoda e eu tento contorná-la diariamente, muitas vezes sem sucesso, porque a visão primeira de todo mundo é pior do que religião fundamentalista. Mesmo que você fique nu diante de todos, elas não querem saber, você vai ser antipático. Você vai ser mais você mesmo pelo que os outros estão dizendo de você do que o que você diz de si mesmo. Essa é o meu maior obstáculo na hora de me relacionar.
O mar azul Grande como inconsciência Grande como o sonho de todos Mergulhou e quis sumir Só o mar conheceria Só o mar queria conhecer Só dele que saberia falar Que existiu O mar azul Coisas assim ninguém acredita E se de repente sumisse o mar Sumiria o grande espelho do céu E todos nadariam nas nuvens O mar azul como se respirasse os nossos segredos Ninguém sabe

Borboleteando

Virou uma semente Quando caminhava na mata Desde quando não soube como Cada história que é extraordinária por não sabermos quando quem começou como onde terminará Perdeu-se na mata de borboletas coloridas Todas borboleteando Cada uma mais risonha para o espírito E mais saborosa para a alma Tinha a de círculos azuis e vermelhos Tinha a preta, branca e amarela A de listras vermelhas e violetas A borboleta marrom, que se confunde com o seu nascer A borboleta gigante E a borboleta inexistente Que ninguém nunca não viu Até que brotou no ar Virou uma árvore flutuante Copa grande, folhas de pluma e tronco de folhas briófitas Criou asas e começou a voar Para sempre E sem a nossa necessidade de final

Ritual de Libertação

      Vou te dizer sinceramente, até porque aqui não tenho risco de me comprometer, ontem foi um dia difícil pra caramba. Dia de trabalho, todo dia de trabalho é difícil. Ficar repetindo a mesma reclamação todo dia, isso é redundância de espírito. Piora até, a situação, me dizem. Não importa na verdade, se as coisas acontecem assim, e eu chego em casa e fico pensando é porque não to sabendo separar minha vida pessoal da profissional. Todo emprego começa com um sonho, normalmente de consumo. Troquei meu sonho por desejos pequenos, desejos de meia hora. A tentativa de grandeza é calada com a porrada diária, isso é duro pra caramba. Vou te dizer que tem horas, não to aguentando mais. O desrespeito coletivo pra tudo o que era correto, não é mais. Nosso lado correto é pura imaginação, é pura fantasia da nossa cabeça, parece às vezes. É só discurso. A gente acha que está tudo bem, mas quando vai ver, isso aqui está tudo uma merda. Ninguém respeita mais o farol vermelho no trânsito.