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Mostrando postagens de abril, 2020

Gênesis

Meu Pai, Meu Divino Pai Tua autoridade Cuja retumbante voz No eco do meu coração Impera Erigiu em mim Nesta oca urna De pó e água Me falha Teu servo Confuso, quem, sou Parte em carne e sangue E etéreo ar da vida Teu ermo Rouba  o que a Ti pertence Só não a tira A vida Ela é Tua Ela é Minha Ela é de Quem Quiser Na subserviência Uma fenda aberta Não quebra a urna porosa Rachada pelo vil portento Diga-me o Que quer Deixai-Me só Sob Teu eterno alento. Meu Pai, Meu Divino Pai Entro em Tua Barca Carregado Até a Montanha Ermitão dos Gafanhotos Falando em Muitas Línguas Braços de Urso e de Mel Nas Cidade Luxuosas Tempestade de Fogo no Céu Tua vontade em mim Me dói Em Tua promessa Paciente aguardo Confio Meu Pai, meu Querido Pai. Estive Lá Estou Lá Estarei Lá Estarei sempre Aqui. Falo em Uma Língua Talvez A Mim Não Entenda Olhai para Mim Teu Povo meu Pai! Preencha de Pó Mas dai-Me a Água Em minha boca

Fala Certa

Quando viu um escolástico Que um homem camponês De corpo firme de elástico Que nunca havia visto antes Estava falando assim meio enfezado Deixando o cidadão matutado - Dos três quilos de tomates que colhi Sobraram-me apenas quinhentos gramas - disse o homem mal habituado. Deveras espantado, o acadêmico o julgou errado: - Pois não é assim a sua fala E nem tão certa da sua natureza. Fale errado que assim Se preserva a sua beleza Sua fala não se segue na escola não E sem a sua fala errada, não teremos motivo de argüição. O homem pouco atento percebeu Que ia sendo criticado. Não ficou triste nem feliz, - Ficou mudo - E ao homem de pompas lhe atirou Um olhar ignorado.

Coração Sem Fé

E assim diria o romântico desacreditado: Compartilho com vocês, desgraçados de vida, essas parcas palavras sentimentais cheias de feridas. Palavras de um espírito já frouxo e cansado. Pensar demais desgasta a alma e destrói as esperanças. Vivamos o que há de melhor, dizem-me. Mas olhemos à nossa volta com sinceridade, ao menos uma vez. Apenas olhem, não precisam me dizer nada, não precisam me dar sua opinião e nem assumir publicamente. Assumam para si mesmos, vergonhosamente, ou com o típico desdém das juventudes: o que há de bom para se viver? Onde há alegria e oportunidade, eu vejo apenas covardia e medo. Eu vejo um superficialismo barato e vendido. Uma hostilidade ao que é verdadeiramente humano, unicamente por sermos egoístas demais para assumirmos os nossos erros e tentarmos outra vez. Não digo tentar de novo subir a escada invisível da montanha financeira. Não, não vou me calar, e nem vou mudar o meu discurso. O que mais é revoltante é saber que muitos daqui acreditarão que é ver

A Porta

Quando despertei num quarto fechado, sem janelas, sem decoração, apenas eu, uma cama, e uma porta,  ouvi a está voz de um arcebispo suntuoso e elegante, que me fazia companhia. Ele era meu único alívio de solidão. Curioso, ele já me alertou: "O excesso de perguntas é o que leva o homem a loucura. A única resposta que precisamos, está em Nosso Senhor Deus. Todas as perguntas devem partir dele, e todas as respostas levam a ele, pois escrito está que Ele é o Alfa e o Ômega,  portanto tudo veio Dele e  tudo volta a Ele." Dito isso, o arcebispo suntuoso desapareceu como uma nuvem de poeira, e se sobrou dele alguma coisa, foi o desconforto alérgico na respiração. E como se fosse fruto da minha imaginação,  não mais o escutei. Mas havia diante de mim aquela porta. Era simples, de madeira, e maçaneta de ferro, lisa, sem ornamentos, sem enfeites, sem detalhes. Apenas uma tábua que separava um espaço do outro, o único obstáculo que me confinada neste pequeno cômodo de 3 x 3. Não er

Corona Vayrãs: A Grande Comédia Brasileira (That shit IS real man!)

Eu não sou idiota, negacionista, ou cego. Eu sei o que se passa no mundo atualmente. Sei que estamos vivendo no meio de uma pandemia virológica, e que isso pode ser um dos maiores desafios que já vivemos nesse século. Não sei dizer se da história, como muitos jornalistas gostam de manchetear para ganhar a atenção das pessoas. Essa ressalva não é para minimizar a pandemia, mas é porque eu não perco a oportunidade de maldizer o veículo de informação. Jornais sofrem do duplo mal de que, ao mesmo tempo em que informam, eles também precisam fazer publicidade, então daí tiramos a nossa alta desconfiança sobre o que eles dizem.  Porém, é este um dos raros momentos em que eu poderia dizer que a imprensa é uma das poucas instituições que tem exercido um papel crucial para superarmos este momento, juntamente com a divulgação constante dos cientistas, em que sequer um simples espirro parece passar longe da documentação criteriosa, pois não estamos vivendo um momento comum. Fala-se até em solidar

Liebe Ist Für Alle Da

Eu me lembro do quanto nossa vida era repleta de música. Eram músicas ora obscuras, ora festivas, ora eletrônicas, ora progressivas, sim, músicas polêmicas, nada melhor do que isso para ser a trilha sonora do que se aconteceu.  Ninguém entende, ninguém entenderia. Se soubesse o vazio que existe agora, um vazio de tudo. Vazio até mesmo de música. Uma sensação intensa de que algo muito importante se acabou para sempre. Eu acho que precisamos reconhecer quando essas coisas acontecem, e hoje entendo melhor os motivos dos homens tristes. Algo morreu, e não existe ressurreição, isso é o mais trágico de seguir existindo. E eu percebo cada vez mais o quanto tudo era especial, único, marcado para sempre na memória, e digno daquela tamanha dor quando ficou para trás. Nunca houve nada tão digno para ter tanto pranto, e a vida seguiu apesar de tudo.  Não sei como será o futuro e desde aquele tempo parei de me importar com ele, acredite, não vale a pena. Mas sei como foi meu passado, u

Impressionismo à Brasileira

Escapa da mão distraída o pincel Que borra escuro o restante do dia Na velocidade de um negro corcel. É o passo do sonho, rápido, incongruente Às vezes, cruel. Cruel como uma chuva de homens de fato. E dói  Como quem dói na solidão: Praça de alimentação do shopping center popular Copo de milk shake  da famosa franquia Muitas risadas debaixo dos guarda-sóis Qual o sentido de guarda-sol dentro do shopping? Nada faz sentido nessas risadas Toma o milk shake Deita o pincel. A noite vem comigo Nessa borra escura na bata preferida Enquanto a dança segue a vida pelas calçadas Uma nota soturna embala o coração. Do outro lado da rua Uma menina não vê, que com ternura, sorrio também Debaixo de um guarda-sol. Eu corto minha orelha se me reparasse É tudo pintura.

O Erro Divino

- Quem é que bate na minha porta a uma hora dessas? - Sou Deus! - Quem? - Deus, Deeeus! Abre! - deus? - Não, não deus, Deus, Deus meu bom homem. - Pois não conheço Deus, apenas deus. - Não é assim que se refere a mim. Sempre fui Deus e sempre serei Deus. - Mas para mim é só deus, porque eu mal te conheço. - Não me conhece? De forma alguma? - Não, não conheço. Nunca ouvi falar de Deus. - Espera um momento. Que dia é hoje? - Hoje é Quarta-feira. - De que ano? - Quarta-feira de 1922. - Aquilo ali é uma lâmpada? - Sim, é uma lâmpada. - E aquilo ali é uma TV Holográfica? - Sim, é. Uma TV Holográfica de resolução em 32K pixels. Precisa usar esses óculos aqui pra não doer a vista. Uma coisa visa a outra. - 1922 você disse? - Sim, 1922. É Deus o seu nome? E você é o que? Vendedor?  - Não meu filho, eu sou Deus! Mas 1922 e TV Holográfica? 1922 depois de Cristo? - Depois de quem? - Depois de Cristo, meu filho. - Cristo? O que seria isso? - Não conhece a Deus e nem a Cristo? O homem que enviei ao