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Mostrando postagens de agosto, 2020

Nihilumbra

Ainda vivo pelo ódio Que eu sinto de você Porque esta vida é uma mentira Mas você é ainda mais. Cada vez que eu te vejo Uma parte de mim morre Já morreram tantas partes Que o que sobra é uma penumbra Nihilumbra amores vãos Não existe mais pulsar Nem pelo nobre sentir Do pobre coração O que sinto é a derradeira sede Temo saciar com um último gole E o que restar é só vazio Tédio e vazio Como queria que com trovejar Caísse em mim e me dividisse Com o raio da renovação. E nada mais temo. Não temo deitar em vã espera Tal a morfina da névoa da manhã Recita em silvos o sacrilégio Dos sussuros da aurora É só o crepúsculo das horas A falta de fome na fartura E o nado urgente em mar raso O vôo em salto de colchão Segue em corpo são Mas em espírito tardio Como se a tudo visse E a tudo cheirasse Já nem há mais o ódio A mágoa cavada em estaca A ressaca da conviva inesperada Ou mesmo a depressão O que há é pior que o morrer Em retrasada musculatura De esganar-se nas próprias mãos. O que há é ar sem

Insistência

Assim como o aleijado aprende A conviver sem o seu pé Consegui entender os caminhos Que exortam a minha fé Mesmo sem o seu mestre,  Descobre-se o aprendiz. Aprendi também a viver Sem o vício de ser feliz Na leitosa abóbada do cosmos Do ululo voo circulante Entendi que para ser-se vivo Vive-se em vacilo constante Igual ao ganancioso ardil Que a tudo rouba com a mão Arranquei de dentro de mim Os ócios vis do meu coração.

Senciente

Não há obstáculo entre o abismo e a luz Da necessidade de bater paus Ao infinito universo observável. Não há, porém, remédio ou consciência Que cure este abismo. Entre o vasto sentir E o animal racional Desobediente.

Lua Verde

Do vazio vem Ao vazio vai E o som silente de tudo o que se forma É o assobio do sábio alado O som chiante da espuma sob os pés cansados do viajante Ele marca atrás de si Suas pegadas na areia vacilante Mas seu peito não Seu peito é um universo flamejante Do vazio vem No seu invólucro preenche Com a luz que pode absorver Ao vazio vai Virar uma estrela cadente. Cortando o mistério do espaço Calando-se em cada néctar do tempo. A primeira palavra do universo Esta que esquecemos de dizer Razão do quanto esquecidos somos Sorve como a gota do deus da Lótus Quando em piedade, chorou E chorou até que os duros chãos do deserto Se fizessem florir com a riqueza de um mundo Que hoje fingimos conhecer. Palavras são tão leves como o ar. Só existem quando nos lembramos De que o ar precisamos respirar. Do vazio eu venho Ao vazio eu vou E no meio de tudo Apenas um vazio que sou. No céu em busca de conforto Avisto apenas uma lua verde.