Ah, se minhas letras tivessem cor! A cor dos meus desejos, das impulsões. Tivessem a cor dos dedos, e apontassem a direção dos meus segredos. E te mostrassem a direção dos meus braços, das minhas pernas. Das minhas pernas paradas nas esquinas. Que me levam para duas direções - vou para onde primeiro me puxarem - E se elas tivessem voz... A voz de gritar Alto Máscula Áspera Rouca A máxima expressão de minhas paixões A dor máxima do frio das esquinas Dos meninos das meninas O máximo frio dos velhos lençóis e colchões Se elas tivessem o cheiro azul das camas dos hospitais O gosto cinza das guias das avenidas Os sons amarelos das alamedas aformigadas O toque branco, fosco, da luz espelhada no chão noturno. E se ainda, e por último, por enquanto Tivessem calor! O abraço brando eriçando os pelos! Ai, os pêlos! Hum, os pêlos! E a maciez das madeixas me cobrindo o corpo Tapando-me o sofrimento Preenchendo-me o vazio Por fora e por dentro Ao menos neste mome...