Entardeceu cedo esta noite, pois já ouço o sino das dezessete horas. É tarde demais, diria, pois já ouço o badalar dos sinos. Quem badala o sino? E a sina? É assim mesmo. Tem horas que a vida é feita de um monte de frases curtas. Deixa. Para. Olha. Só. Arre. Esquece...
Essa coisa que aquece de vez em quando é verdade ou só brincadeira de ser feliz? É tipo um calorzinho assim no peito, mas esse calorzinho é esperança? Por que o amargo é tão certo? Por que o doce é vindo de um processo tão difícil e complicado? A natureza já nos apresenta isso, pois existem mais desertos quentes e frios do que florestas tropicais, mas a gente insiste em ganhar nosso lugar à sombra.
Assim que souber da sina, assina embaixo e só espera o sino. Essa hora, tarde demais, parece que as coisas funcionam assim, com trocadilhos pobres, mas deixa. E se for só isso mesmo? Queria chegar no oitavo andar, mas e se nasci para o segundo, porque não hei de por a minha poltrona num lugar melhor onde bata luz, sol, aqueça o peito, e de vez em quando, dever-me uma sombrinha? Mas sobra espaço, e espaço é o que não falta. Existe mais fora do que dentro, muito mais. Mas dentro parece ser tão mais importante, mas é essa mania frouxa de querer ser mais a gente mesmo.
Eita gente, que mesmo que a gente seja o agente das boas feitorias, haja quem passa de saber disso. Mas é só isso, então assina, e vai embora, olha bem para o sino.
Se bem reparo, entardece cedo todo dia, ou de repente, sempre é tarde, sempre é assim, um escuro meio inconveniente, que faz um frio, e faz essa analogia desconfortável com algo que é tão desse planeta. Oh Terra, perdoe-nos por sermos tão ingratos com o que nos dá, mas às vezes sinto que não nos queria por aqui, e às vezes sinto isso mais do que os outros quando me sento e fico cansado de brigar.
Tudo o que me resta são estas palavras soltas, isso é tudo o que posso lhes dar, pois depois daqui, não tem mais nada além da Terra. Às vezes acho que eles querem me ensinar alguma coisa, mas eu preciso aprender isso para que afinal? Para que aprender a Matemática e a Geografia, se mal cálculo onde é o meu verdadeiro lugar? Não tenho raízes, não estou preso, mas meus pés pesam demais, e sem a Matemática, não consigo precisar o seu tamanho, e nem a sola dos meus sapatos.
O sapato consola o cansaço dos meus pés, é assim mesmo, agigantado, óbvio, previsível. Parece mesmo que tudo é muito mais deserto frio e quente do que a vontade da tropicália.
Caetano cantando Gilberto e Gil caindo de cima da planta mais alta. Ela faz sombra bem diante do meu prédio, mas bate mais no oitavo andar do que no segundo, dessa forma sem lógica mesmo, porque não entendi ainda a matemática, e parece que a geografia às vezes está de brincadeira comigo.
Essa torneira aberta às vezes me confunde com um homem rico, está de brincadeira. A água é de graça, o homem não, por isso me preocupo. Tem horas que dói saber que preciso pagar para viver, pagar para ver, pagar para ser, pagar até mesmo para apagar. Peço licença pra me dar um pouquinho de ar, não sabia que seria escravo do mundo, se soubesse, teria ficado lá mesmo, nos pólos, nos gelados desertos.
Você tenta dar um pouco de carona, mas imagino que a montanha não entenderia o mar, que quando bate com força no seu pé, o machuca de pouquinho, arrancando pedacinho em pedacinho. Será que a montanha está pronta pra deixar de ser montanha e virar areia? Seria possível se contentar em virar algo que fosse menos do que já se foi? Mas e se o menos for mais, o que tem de mais? Por que seria melhor entender a Geografia como sendo sempre algo que segue para cima? Mas você tenta dar um pouco, e não ganha mais o suficiente. É assim mesmo, um mero acidente. Acontece. Para. Erra. Arre. Esquece...
Assina a minha sina, bate o sino no entardecer desse dia onde a primeira hora é sempre assim mesmo. O que escorreu da torneira virou gelo, e logo arrebatou um cardume, que sabe bem pra onde vai porque não sabe pra onde quer ir. Eu já sei, e por isso é fria.