Estou habituado às alegrias complexas:
Um olhar de verdade
Um toque de verdade
Uma voz de verdade.
Trocar a noite pelo dia...
Não, não.
Não é do meu feitio.
Encarar a face magenta da multidão
E descobrir pacientemente ali no meio
Alguma perebazinha digna de nota.
Pular de praia em praia
Correr de braços abertos
E cantar a liberdade
(Com notas desafinadas)
Abraçar a espuma corrosiva da água do mar
Cheirando a enxofre e peixe morimbundo.
Rir para o nada
Pois o nada é mais engraçado
Fazer nada
Pois fazer nada, é mais confortável.
Não estou habituado
A não sofrer como os desgraçados
Que se embebedam de livros e idéias
E não conseguem debater alguma
Pois a música é muito alta
E os ouvidos são muito surdos.
Só estou habituado à voz
Que em silêncio sagrado atinge
Os tímpanos da alma doente
Que lamenta ao fantasma impassível
Aquele que com apenas um dedo
Amargura o espírito inquieto.
À voz que me tange de água fresca
E me faz pensar por hora
Que sou imortal.