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Poema De Repente

O poema agora

Não pode ser feito

Ele se faz sozinho

Nas nossas retinas mudas

E na nossa garganta seca

Na nossa palma lisa

E cara marruda.


O poema agora 

É sempre

E antes e depois

Não só agora

Mas muda de hora em hora

e tapa na cara

O hipo credo

Da crise crisia

É tapa na cara

A hipocrisia.


O poema agora

É flor e jardim

Que nasce sem demora

Do sorriso que chora

De alegria demora

De tristeza agora

Que muda de hora em hora

De muda de rosa em rosa.


O poema agora

É mão enxada

É calejada

É passo curto

Da aleijada

O coração

Da degelada.


O poema nasce agora

E sem demora a sua rima

Como virgem amando deflora

Homem que veio de fora.


O poema não é de ouro

É de folha de guardanapo

E sai cheirando a gordura

Sai querendo fartura

Fartura que nunca chega

Fartura que só na promessa

Na folha de seda vem

Com cheiro de perfume europeu

Mas vira cinza e amarela

Não o poema

A folha da promessa de seda

Que alimenta o olho magrela.


O poema é vermelho

É vermelho e é como rosa

Amarelo da anemia.

O amor pela batalha da fome.

O poema não é azul

A cor da falsa esperança.

Pois azul e vermelho engana

O falso amor que declama

Que na boca já dizia dos Anjos:

O escarro no beijo que ama.


O poema é Vermarelo

O azul é a falsa esperança

Que explodiu os amarelos

Mas veio lá do outro lado

O choro da repercussão moral

De Moraes

Da rosa que nasceu das cinzas

Da morte inocente.


O poema na morte chora

A morte do hoje e do agora

Do homem que sem demora

Sua doce insanidade explora

E com rima pobre ri

Na cara da sua tragédia

A dor de nascer agora.


O poema não é mais

O poema do café cheiroso

É o poema do café corroso

Que na garganta desce e queima

E mete a cara na multidão

Lota ônibus e ferra a mão

Do homem que a seda explora.


O poema não é mais

O poema que quer que veja.

O poema é mais beleza


O poema de repente

Vem da mesa mulata

E vai até a realeza.

E o pobre artista

Vira arte nobreza.

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