Os homens e seus números
Não escutam nossas vozes
São apenas homens cartazes
Com sorrisos de eleição.
- Prometo cama, água e feijão!
- Sim senhor, sim senhor! Espero aqui bem no chão.
Os homens e seus números são como colheita de coca
Que de tempos em tempos vêm, pra dar tempo de cuidar
Distribuem o produto todo, compramos ao bel prazer
Ficamos cheios de coça vivendo alucinações
No tempo da colheita até sente-se esperança bater à porta
- Eu vejo um céu azul!
- Eu vejo um trem suspenso a toda velocidade!
- Já eu enxergo pontes, estradas, avenidas e túneis!
- Eu consigo ver uma limpa cidade!
Mas o homem que é tão careta e sem religião:
- Dessas coisas aí? A fome é tanta que não vejo nada.
E quando a colheita acaba
Volta a cambada para a braça.
As fardas por aí agridem
Os homens que vivem de praça:
- Ei ei, coca aqui não!
E lembro quando uma farda azul estrangulava um anjo na estação Anhangabaú.
Depois só veem-se os números
Brigando feito vespas
Por um fiapo de fezes
No pátio dos republicanos.