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Glênio e a Cadeira

Caro colega Glênio,

Eu gostaria de me desculpar pelo aparente incômodo, ainda mais quando você “tem“ uma mesa e está acostumado à uma mesma posição todos os dias. Das vezes que não retornei à posição inicial foi por desastroso esquecimento. Mas ali foi o único “cantinho” que consegui para tirar uma soneca no meu horário de janta. Trabalhar de madrugada é dose, eu durmo apenas de 4 a 6 horas por dia... ufa! Ainda tenho intenções de ir para o turno da manhã, porque dormir 4 horas de dia seria o equivalente a ter dormido apenas 2 horas durante à noite... Enfim...

A situação foi tão engraçada (para mim) que eu até fiz um poema pra mandar pra você =)


Sentado Sentido

Sento-me à cadeira reclinável
E reclino-me às inclinações apostróficas
Aposto como em cada cadeira
Reclina ainda mais ao desastre
De inclinar-se aos casos de catástrofe.
Reclino então de volta à sua origem
De originalidade inclinada à reclinar
Mas sem antes folgar em seu encosto
Que encosta o encosto encostado
E que reclama pelo encosto declinado.
Folga-me pelo cansaço inclinado
Da inclinação da minha vida
Vivo a reclinar reclamações
Pois sandice é viver de inclinações
E reclamar das sutis reclinações.
Inclina-te antes a se reclinar
E a não reclamar da minha reclinação
E mesmo nesse reclina e inclinar
Amizade futura eu não reclino
E inclino-me ao possível cultivar.

(09/06/2010)

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