Pular para o conteúdo principal

Não sou obrigado a querer água

Sou jovem demais para algumas coisas que andei descobrindo nesta vida. Sou jovem demais, talvez, para viver sob verdades absolutas. Entretanto, a filosofia teimosa, por mais que ela insista, não consegue me convencer plenamente de que ao menos algumas não sejam, absolutas, eu quero dizer.

"A vida é feita de escolhas."

Está aí uma delas. Coloco entre aspas porque é uma frase que mesmo o mais sábio dos mais tolos conheceria. Entretanto o processo estupidificação dos nossos valores mais profundos está tão avançado que é lamentável, mas hoje em dia só podemos dialogar a partir do mais óbvio. O mais óbvio neste caso seria aquilo que eu acredito como o pensamento fundamental.

Não tem nada a ver com valores pessoais, não tem nada a ver com as nossas crenças, mas as escolhas, elas sim fazem o que nós somos realmente. Esta noite saí da casa dos meus pais e prestei bem atenção naquele olhar da minha mãe e da minha irmã. Reparei bem na voz preocupada do meu pai, por causa do horário: "Filho, durma aqui, é perigoso pra você ir embora a esta hora da noite...".

Só entende de verdade o que é o amor quem se sente comovido pelo olhar da mãe que olha o filho indo embora daquela casa que outrora foi também o seu lar. Eu não sei exatamente, mas eu entendo que o amor de mãe é o amor mais verdadeiro. Quer um amor de verdade? Procure aquele amor exatamente como foi o de sua mãe. Eis aí uma outra verdade.

Aos homens práticos, a mãe é a nossa criação. O que seria a mãe, a idealização da mãe, e toda a preocupação que nós sabemos que vem do coração mais puro que conhecemos em nossas vidas, nele está o amor verdadeiro. Mas rodopiamos na nossa própria perdição, e maldizemos estes contos de fadas, às vezes, porque não acreditamos que outra pessoa possa nos amar como nos amou a nossa mãe.

Bem, amor não é regado por orgulho, e se a vida é feita de escolhas, é porque a nossa mãe que nos ama escolheu assim. Amor não é mágica, é escolha de atitudes. O amor existe, o que não existe é o nosso passo atrás pelos nossas mudanças de atitudes, de abrir mão de qualquer que seja desta nossa convicção mesquinha e pouco sabida de vida, para exprimir o sorriso de aconchego e bem estar da pessoa amada.

Se uma coisa eu sempre pude aprender cedo é mais esta verdade. Mas aos seres práticos, esta explicação nunca é a suficiente. A única forma de saber é tirar a prova. Os que negam o amor são aqueles que escolhem por não tê-lo ou recebê-lo, portanto, o amor não depende das atitudes de outra pessoa. Podemos amá-las com a maior pureza das nossas escolhas e atitudes, ainda que nossa mente esteja nos questionando da necessidade disso.

Escolhemos os atos exarcebados de uma inteligência fútil, uma inteligência que está no estande de uma vitrina, reluzida pela falta de filosofia dos que por tão pouco se deixam impressionar, mas isso é ralo, muito ralo. Inteligência de verdade é adotar as escolhas certas. Sofrer por sofrer, ninguém é responsável, pois daqueles que se metem a afirmar uma autonomia, eles escolhem por isso também.

Quem tem a coragem de, num mundo tão cheio de incertezas, entregar-se a essa cortina oculta e decidir abrir mão de si para amar um pouco a alguém? Poderiam negar a necessidade, já certos de que estariam ao mesmo tempo optando por uma vida vazia e solitária. A culpa não é dos sentimentos, mas do nosso próprio orgulho.

Quem se atreve?

Não sou o dono da verdade, sou apenas alguém que não teme compartilhar o que aprendeu.

Postagens mais visitadas deste blog

Ciência da Humanidade

Peço desculpas ao rapaz da IBM que estava lendo o livro de Richard Dawkins, Deus: Um Delírio, e que foi rapidamente atacado por mim, por falta de coragem de encarar que existem realidades diferentes da minha. A matemática sempre me fascinou. Não só a matemática, mas tudo o que a usa como ferramenta, os números, a filosofia, a física, a biologia, a química, a engenharia, a economia, as ciências da informação, as ciências dos softwares, as linguagens de programação, a música, a pintura, a astronomia, a poesia, a eletricidade, tudo o que se originou da harmonia dos números, tudo isso pra mim é arte. Se existe algo que já me incomoda faz muito tempo nos sistemas educacionais do Brasil é essa distinção cada vez mais forte entre Ciências Humanas e Ciências Exatas. Eu ouço essa dissociação como o som de uma facada no meu peito, isso realmente me dói e me incomoda. Para mim tudo é ciência humana, até mesmo a matemática. Eu sempre me lembro da frase de Darcy Ribeiro que disse certa vez...

Na Praia

Contempla a pedra una o nascimento Do suntuoso Astro que se lança Como o materno elance tua brasa Extirpa da minha vida o lamento. Beija-me os pés com tal candura A alma que imortal e majestosa Clara, tão macia e arenosa Da vida, abranda a desventura. Dança com o silvo de uma brisa Restaura-se o grão o teu domínio Incauta testemunho-lhe a misa A carícia que faz-me a imagem. Já não mais soa como o eterno toque Que na memória o gesto imortaliza Vez a vez se aparenta-se imponente A cena que comove-me o enfoque. Cavalga mar adentro a ventania Prata e prata no celeste horizonte Manto líquido, tua sabedoria Áspero, feroz limpa o Flegetonte. Olha a pedra do flamejante prenúncio Do grande Astro que o braço repousa A ocre cor que em seu leito se esconde Salva-se o mar perene de silêncio.

Tua Palavra

Palavras como fios E teus dedos costurando Um caloroso manto Para minha sombria alma. Palavras, que como pão Desta tua fome tão antiga Onde cada sílaba que canta Vira a ceia da minha calma. Palavras, como tuas mãos Que quando escreves meu nome Eu sinto O calor do teu gentil enlaço. Palavras como a brisa A brisa que te trouxe até mim No alívio das noites infernais Na doçura dos teus braços. E se ousa um dia duvidar Da força daquilo que escreve Lembra: O mundo que antes era só escuridão A vida que antes era nada Começou tudo, até amor Pela Palavra.