Caminha aí, mula do peregrino
- Tão boa...
- Tão má!
- Me devias
- Me pagava
- Me fazia.
Nasceu só e morrerá só, comendo sua própria carcaça
Enquanto morre, remoerá sua própria morte
- Comi capim demais na vida
- Fiquei tempo demais de quatro quando deveria ter-me deitado
- Fiquei acorrentado demais
E saberá com ódio que dali a uma semana deixará de ser alguém
E só existirá enquanto outros existirem
- Soube da mula? Bateu as patas.
- Soube da mula? Bateu as patas.
E quem te lembrará alguém como não foi
Sabendo que teu ser só a ti será?
- Tão boa...
- Tão má!
- Me devias
- Me pagava
- Me fazia.
Uma mula serve apenas para ser mula
E sabe como ser mula
E anda como mula, senta-se como mula, sente-se como
E ali que vemos a mula e sabemos quão mula é
E sem que haja a dúvida ainda perguntamos
- És mesmo uma mula?