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All is Vanity

(desenho de Charles Allan Gilbert 1873-1929 - All Is Vanity)


Viver parece uma brincadeira de mau gosto
Quando não se sabe se o dia termina em sol ou futebol
Ou se a notícia vem às duas ou às dez
Ou se o leite faz doce ou coalha.

Por trás de toda segura muralha
Uma criança desesperada grita por socorro

Pesca o olhar que se desvia de tudo
As pernas que vão embora sem dizer adeus
As surdez voluntárias às mágoas do coração
Presta o seu atento ao silêncio social
Entre aquela coisa incômoda que à noite chega
E arranha o coração até lhe fazer mal
Quando uma lágrima cai
Silenciosa, solitária, murmurando sua rota

Os olhos parecem muralhas cujas fortalezas jamais são derrubadas
Não há palavras, gestos, toques, sorrisos, beijos ou perfumes
Não há nada de certo volume
Mas, ah, a lágrima
O poder maior e invencível está na simplicidade das coisas

Percebe-se sofrendo que viver não é vitória
Vale menos que um sorriso
Antes que os olhos se fechem
Numa eternidade de fadas encantadas.

Por trás de toda boneca perfumada existe um crânio
Igual a de toda decrépita existência.

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