Pular para o conteúdo principal

Domingo de Ramos

Vou embora
Sempre
Vou embora
Dói, passeia com angústia
Sofre vai
embora
com resigno comedido
Não traz o espelho
Não traz o reflexo
Vou embora
Sôfrego, acaba
Termina
Deixa pra trás
Subtraz
Comedido, retido, contido
Não tem mais
Vou me embora
Levarei de lembrança imagens
Repetições frias, inexistentes
Vou embora imagens
Não minhas, nunca serão
Vou-me embora doído
Cansado, deixado pra traz
Largarei a juventude
Largarei o descanso e o cansaço
Largarei a solidão e imensidão tardia
O não passo, a não estadia voluntária dissoluta
Levarei imagens da escuridão
Feliz
Quadro a quem não se diz
Jamais
Partirei
Egoísmo para lá
Sobras de eufemismos para cá
Tudo doença sombria
A escuridão me satisfaz
Metade de mim escondida
Numa saudade inconveniente
Daquilo que não se faz
Deixa vai, deixa pra trás
Esconde debaixo do que
Que visito no sono íntimo
Profundo
Onde reina temporária escuridão
Caem preguiçosos, como a manta cascateada
Brilha sob a luz, águas escuras ondulantes
Abraçando-me plenamente
Guarda tudo com zelo
Debaixo de cada cama ou coma, caixa ou túmulo
Debaixo de cada sílaba
Parecendo sempre fazer
Onde tudo o que está escrito
Está escrito
E que se não puder
Não se poderá não ser lido
Vou embora vai
Brincando com a lógica de frente pra trás
Negando o não da negação
Pausando em cada verso um outro não
Do que não posso negar não negando
Vou embora
Carregando o cesto de sílabas
Porteá-la-á substancialmente
As estrelas sabem quando olho
Não quanto olho
Carregando o peso do dia
Escuridão faz sombras
Luz faz sombras
Mas há quem pede...

Vou embora...
Vou embora vou
dormir vou
sonhar
com a escuridão.

Postagens mais visitadas deste blog

Ciência da Humanidade

Peço desculpas ao rapaz da IBM que estava lendo o livro de Richard Dawkins, Deus: Um Delírio, e que foi rapidamente atacado por mim, por falta de coragem de encarar que existem realidades diferentes da minha. A matemática sempre me fascinou. Não só a matemática, mas tudo o que a usa como ferramenta, os números, a filosofia, a física, a biologia, a química, a engenharia, a economia, as ciências da informação, as ciências dos softwares, as linguagens de programação, a música, a pintura, a astronomia, a poesia, a eletricidade, tudo o que se originou da harmonia dos números, tudo isso pra mim é arte. Se existe algo que já me incomoda faz muito tempo nos sistemas educacionais do Brasil é essa distinção cada vez mais forte entre Ciências Humanas e Ciências Exatas. Eu ouço essa dissociação como o som de uma facada no meu peito, isso realmente me dói e me incomoda. Para mim tudo é ciência humana, até mesmo a matemática. Eu sempre me lembro da frase de Darcy Ribeiro que disse certa vez...

Na Praia

Contempla a pedra una o nascimento Do suntuoso Astro que se lança Como o materno elance tua brasa Extirpa da minha vida o lamento. Beija-me os pés com tal candura A alma que imortal e majestosa Clara, tão macia e arenosa Da vida, abranda a desventura. Dança com o silvo de uma brisa Restaura-se o grão o teu domínio Incauta testemunho-lhe a misa A carícia que faz-me a imagem. Já não mais soa como o eterno toque Que na memória o gesto imortaliza Vez a vez se aparenta-se imponente A cena que comove-me o enfoque. Cavalga mar adentro a ventania Prata e prata no celeste horizonte Manto líquido, tua sabedoria Áspero, feroz limpa o Flegetonte. Olha a pedra do flamejante prenúncio Do grande Astro que o braço repousa A ocre cor que em seu leito se esconde Salva-se o mar perene de silêncio.

Tua Palavra

Palavras como fios E teus dedos costurando Um caloroso manto Para minha sombria alma. Palavras, que como pão Desta tua fome tão antiga Onde cada sílaba que canta Vira a ceia da minha calma. Palavras, como tuas mãos Que quando escreves meu nome Eu sinto O calor do teu gentil enlaço. Palavras como a brisa A brisa que te trouxe até mim No alívio das noites infernais Na doçura dos teus braços. E se ousa um dia duvidar Da força daquilo que escreve Lembra: O mundo que antes era só escuridão A vida que antes era nada Começou tudo, até amor Pela Palavra.