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Adeus recebido, agora me deixa ir.

Enquanto caminhava na minha estrada, não era uma adolescência tardia que eu buscava. Houve um momento em que a voz do menino se calou e passou a tentar parar de ter medo, porque todo mundo tem medo. Se não tenho psicólogos na vida, nem amigos, nem pessoas que possam estar dispostas a acompanhar a minha loucura, então de verdade, me deixa ir.

Mas não me diga que não tentei, não me diga que não amei, que não me sacrifiquei, que não tentei crescer antes do tempo, que venci meus medos individuais, que superei barreiras, que passei noites em claro pensando pro bem e pro mal, que não me doei. Mas me doeu, e por isso é que fui. Porque chegou uma hora que minhas palavras eram tipo canto de pássaro. Algumas pessoas acham bonitas, outras pessoas acham incômodas, mas no fundo, ninguém entendia. Na tentativa de ser sozinho a dois, optei por ser sozinho sozinho.

Uns tem medo de passar a vida achando que não aproveitaram o suficiente, outros tem medo de dividir sua vida com outras pessoas e acabam crescendo uns sociopatas dementes, mas todo mundo aqui tem o seu direito à sol ou sombra, e claro, água fresca.

Fui tarde, mas tentei até o último minuto. Amar em liberdade não permite incoerência, não permite ciúmes e nem insegurança. Amar em liberdade não permite medo, então se houve enclausuramento, essa gaiola foi construída a dois. O que faltou foi o que se perdeu: cumplicidade. Mas toda paixão nova e diferente começa sempre do mesmo jeito. O pior é cometer os mesmos erros.

Deixa eu ser egocêntrico porque a referência é clara.

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A Praça

Chegando na praça central Ouço os ecos e os rumores De uma vida que parece outra Os risos de andarilhos sem caminho Os caminhos de passos tortuosos O desgaste do que antes fora arte As estátuas sem nome Os nomes nas placas sem história Folhas caídas pelo chão  Os recortes no ar, de galhos retorcidos Ominoso, lugubre e risonho Será que um dia voltarão a florescer? A cada suspiro uma mão distante me acena Miragem ou ilusão, um consolo de memória. Por que tão vazia? Por que tão pouco visitada? Por que assim, remota, esquecida? Cercada de casas sem família Cercada de muretas sem ter o que proteger Nesta praça de ruas que não vão e nem chegam Somente o velho reina Meu filho, diz o vento, é assim mesmo. Quantas vezes soube tu, alguém que guardasse teu nome? A praça tem som de tranquilidade e cheiro de saudade.

Bucolismo

Com tua carroça cheia dos restos da cidade O catador para diante da margem do rio É um rio largo, escuro, mal cheiroso Ele observa o reflexo nas águas, suspira e vai embora: - Esse rio é tipo um abismo. Todo dia passa ali, com tua carroça colorida de catador. A engenharia é uma piada tecnicista Tem uma TV quebrada Num celular, uma antena de carro, só por ironia Um CD de um grupo de Axé que já acabou - o resto de uma alegria do passado - Uma boneca vestida com roupa de mecânico Restos de móveis Restos de roupas Restos de memórias fragmentadas. Ele mira o reflexo nas águas, suspira, e vai embora: - Esse rio aí, é um imenso abismo. Todo dia é a mesma coisa. Do outro lado da margem do mitológico rio:  A vista bucólica de um jardim bem cuidado Casas em seu devido lugar Pessoas em seus devidos lugares É tudo como se fosse um sonho. Ele olha as águas, se vê no fundo distorcido, suspira, pega sua carroça e vai embora - Um dia atravesso o rio. O rio é quase sem fundo e quase sem vida.

O Lago

Caminha entre alamedas tortuosas E a abóbada de bosques sigilosos Adentro a mata o encanto avistai Repousa obliterado o grande lago. E largo encontra em límpido repouso Defronta diante em margem distorcido Silêncio com remanso se emaranha Enigma malcontente insuflado. Atira-lhe uma pedra e de onde em onda Emergirá um monstro adormecido Até que venha o próximo remanso Até que a fenda em sangue desvaneça.