Pular para o conteúdo principal

A Luz da Montanha

"Eu não vou solucionar a situação de vida dessas crianças, eu não sou governo. Eu adoraria mudar esse bairro, essa situação, mas eu não posso resolver o problema deles sozinho, estou aqui pra contar histórias, levá-los pro mundo de faz de contas e tirá-los um pouco da sua realidade dura" - Professor Jairo

Esta é uma citação que veio após o professor compartilhar um pouco da sua experiência de Contador de Histórias em um projeto Nossa Senhora de Caropita com crianças carentes.

Isso me faz pensar do quanto estamos infelizes com a nossa condição social e tendemos a projetar essa insatisfação no indivíduo, nos esquecendo dos principais culpados, os desgraçados que estão no governo.

Essa divisão ideológica que assola as nossas mentes é o principal alimento desses abutres que nos bicam nas costas quando não estamos percebendo.

Como professor, eu repenso a minha função. Repensar é fácil, o desafio é vivê-la.

Sou professor, não sou a solução. Minha função é, quando muito, mostrar o caminho. É apontar e dizer: "está vendo aquela montanha ali? Vê aquela luz lá no alto? Aquele ponto brilhante, que se move? Depois daquelas copas de árvores? Pois bem, ali está o seu sonho. O caminho é por aqui. Precisará sobreviver, então me escute com atenção. Não, não posso ir contigo. Cada um é dono de uma luz única, e com ela terá o que precisa para fazer o que sente para que veio, sua missão, seu motivo, sua razão de viver, chame como quiser. Eu não posso ir. O que tem ali é para você e apenas para você, não para mim, portanto apenas ouça-me e aprenda como te direi para chegar lá."

De certa forma querem que professores, médicos, policiais, juízes, arquitetos, engenheiros, profissionais em geral, subam na montanha e tragam a luz de cada aluno e as deposite em seus colos. Esta concepção está muito errada. Esta concepção explica muita coisa.

Postagens mais visitadas deste blog

PC Siqueira

Foi extremamente triste a morte do PC Siqueira. Nem toda morte é triste. Há mortes que acontecem, e a tristeza fica na saudade, mas nos sentimos felizes por aquela pessoa ter existido. No caso do PC, eu não comentava nos vídeos dele mas sempre o assistia.  Eu sempre defendi que o PC Siqueira por causa daquele infeliz caso, ele não foi aquilo do que todos o acusavam. PC Siqueira era depressivo, e em quadros graves, quando a doença está fora de controle, o depressivo se torna autodestrutivo, inconsequente, não se permite limites. Isso em todos os aspectos: físico, social, mental, emocional, não importa. A pessoa simplesmente não se importa com mais nada. Eu acredito que naquele comentário o PC já estava tão aquém dos limites do que choca as pessoas que ele foi lá e simplesmente disse. Ele pensou "eu me odeio, minha vida é uma merda, foda-se, eu vou dizer, e foda-se" e ele disse, e aquilo trouxe toda a reviravolta para a vida dele que o colocou nessa rota de loucura e solidão. E...

Ciência da Humanidade

Peço desculpas ao rapaz da IBM que estava lendo o livro de Richard Dawkins, Deus: Um Delírio, e que foi rapidamente atacado por mim, por falta de coragem de encarar que existem realidades diferentes da minha. A matemática sempre me fascinou. Não só a matemática, mas tudo o que a usa como ferramenta, os números, a filosofia, a física, a biologia, a química, a engenharia, a economia, as ciências da informação, as ciências dos softwares, as linguagens de programação, a música, a pintura, a astronomia, a poesia, a eletricidade, tudo o que se originou da harmonia dos números, tudo isso pra mim é arte. Se existe algo que já me incomoda faz muito tempo nos sistemas educacionais do Brasil é essa distinção cada vez mais forte entre Ciências Humanas e Ciências Exatas. Eu ouço essa dissociação como o som de uma facada no meu peito, isso realmente me dói e me incomoda. Para mim tudo é ciência humana, até mesmo a matemática. Eu sempre me lembro da frase de Darcy Ribeiro que disse certa vez...

A Child is Born

Talvez seja o som do enferrujado Ou um rato que emite seu chiado Escombros mais escombros de história  Fragmentos de vida, de memória. Torna o animal tua origem  Séculos e séculos recôndito  Desavergonha-se, prêmio da miséria  Anda a plena luz, sem pudor. Restos, muitos restos pelo chão  De homens e mulheres e crianças  Agarram-se firmes pela mão  Sob os rastros de uma explosão. Toda a tua ciência e tua literatura Cai-lhe sobre os ombros Tua salvação, tua ruína No fim das contas, de nada serviu toda a nossa luta. Cerveja, Bill Evans e uma vontade doce de morrer.