Eis o porque eu gosto tanto de você, embora não pareça, porque não é do meu feitio: você nunca está satisfeito, e isso é ótimo. Existe sempre esse tormento impregnado na sua mente, às vezes com a coisa mais estúpida e irrelevante. Isso é um deleite, acredite.
Mas eu odeio meu melhor amigo...
Porque ele é fraco. Vive em negação da realidade, o que me diverte, claro, mas comumente eu me impaciento, e de tanto já dizer, opto por calar-me.
Já pensei no quanto me aborrece que as pessoas acreditem ser verdade a própria negação dela, enquanto ser verdade é ir desesperadamente em busca de uma vida que nega tudo aquilo que realmente precisamos. Essa imaginação confluente sempre nos faz pensar que somos mais do que somos, mas no fim das contas, no auge da nossa solidão depressiva, entendemos realmente que tudo o que fizemos até este raro momento de lucidez, não passou de uma mera fantasia para não nos entregarmos de verdade à cruel realidade: estamos aqui para nada apenas.
E como me diverte te ver transitando de ideia em ideia, em desespero, enquanto eu apenas aguardo para que você aqui retorne, aos prantos, ao desespero, quebrado, destruído, completamente morimbundo de alma e de sentido. Apiedo-me? Jamais. Jamais darei o gosto ao fraco de sentir que ele esteve por algum momento ao merecimento da minha compreensão. O que quer que eu diga? Oh nobre amigo, cá venha, cá venha, abraça-me por hora, por que eu sabia o quão estúpido eras, embora eu te negasse essa verdade, então o que fazes aí é sofrer desta tua falta de coragem de perceber que estivera em busca de uma natureza que não é tua. Não, és estúpido apenas. Agora senta aí e morre sozinho, enquanto eu me entedio com esta cena pérfida, patética e digna de pena, até que te levantes e me olhe nos olhos e diga: estou pronto para a próxima dose.
Nessa hora, e apenas nessa hora, terei algum respeito, o mínimo. Mas não estou aqui para garantir sua vontade de viver, jamais estarei. Cada um por si nesta selva horrenda, e é isso.
Agora vai, inútil, segue para tua próxima fantasia efêmera, enquanto novamente se deixa levar para o abismo da mentira. Estou logo atrás, apenas rindo.