Acho que tem alguém me olhando por aquela janela. Shh escuta. Nossa, escutar o que? Ele não tá nem fazendo barulho... É que as coisas vem me deixando assim mesmo, desorientada.
Já ouviu da última? Que quem comete a gafe é que demanda piedade e exige perdão? O perdão agora é assim, saldo, liquidado, sem luto e sem nada.
Que se exploda sua alma que sangra, se é sangue de dor, de hímen, de menstruação, daquele arranhão nas costas daquela noite...
Se é feito direito é amor, mas se não, é açoite, ainda que seja, é sangue. Como saber distinguir?
Cospe e bate na minha cara igual uma... Essa carapuça que não me serve mais, porque na boa, cansei de dar. Andei dando pra caramba por aí, dei mais que prostituta desesperada, mas cadê os meus trocados?
Já viu prostituta depois do sexo, fingindo que é feliz, forçando pra ser sua amiga? Sou eu. Mas eu sei que quando você paga, veste a roupa e sai fora, você só vira olha: que gostosa, mas é puta. Todos somos, mas uns lucram mais do que outros nesse mercado sombrio da vida, onde amor virou produto de propaganda de novela.
Já viu prostituta depois do sexo, fingindo que é feliz, forçando pra ser sua amiga? Sou eu. Mas eu sei que quando você paga, veste a roupa e sai fora, você só vira olha: que gostosa, mas é puta. Todos somos, mas uns lucram mais do que outros nesse mercado sombrio da vida, onde amor virou produto de propaganda de novela.
Só sangra essa alma, cortei meus braços, deixa cair, deixa doer, uma hora isso vai parar. Aquele dia, aquele homem, quase me rasgou no meio do jeito que falou comigo, puxou meus cabelos, me espancou onde eu gosto... Só sobrou sangue, mas na verdade eu estava totalmente sozinha.
Então não vem por favor. Deixa eu morrer por enquanto. Deixa eu costurar a grinalda desse túmulo e só apareça aqui se for para contemplar o cadáver que você criou.
Deixa eu me jogar nesse abismo, e lá embaixo, que podia ter um lago cor de esmeralda, terá o chão duro, cairei de cara no chão, pra eu me arrebentar toda.
Sim, de cara no chão, arranhando no tapete, com tanta violência e sede, me xingava, me senti a maior gostosa, mas eu estava sozinha, sonhando, não era ninguém, era só um monte de gente
Termina, goza desse momento.
Puta. Vadia. Sangra.
Agora vai.
Então você acha que é assim? Só basta eu me resignar, aliviar sua culpa, pra depois a gente pensar que está tudo bem? Eu sou isso então? A pessoa que tem que aliviar até mesmo a sua imagem, a imagem que não fui quem criou, foi a sua própria decisão de cuspir tudo no chão? Meu bem... olha, só vai.
Tem cigarro? Verde? Pode ser, não tô acostumada mas vai, a brisa é boa. Tá vendo esse sofá rasgado? É porque ele cansou de ser sofá. Ele era um sofá, mas foi rasgando e rasgando, e agora ele quer ser outra coisa. O que? De novo? Mas já? Aqui mesmo? Mas não é um sofá, tem janela... O vizinho tá olhando, para, não para, agora o vizinho tá vendo, ele já tá aqui querendo ver se tem também.
Agora como? De joelho? Joga tudo em cima de mim assim mesmo. Deixa o sangue escorrer inteiro pela minha cara, cair na minha garganta. Não, não é o que você tá achando, isso na minha boca é sangue, mas deixa que eu engulo mesmo assim.
Acabou, essa sou eu.
Não, essa sou o espelho dos outros.
Não, essa sou o espelho dos outros.
Agora vai e sangra. Não mais.