Pular para o conteúdo principal

Da Estátua ao Pó

Acordo
O Coração está oco
Sinto tudo
Não sinto nada
Sento em nada
Não sou nada

Sento
Coragem errante
Erra por aí
Erra por ali
Erra pela estrada
Penso na coisa errada
Reconstrói e vai
O erro é a chaga

Não me levanto
Não sinto nada
Ninguém me escuta
Ninguém me sente
Ninguém me cheira
Ninguém é gente

Respiro
O alecrim e a menta
A planta e a arte
Eu sinto cheiro
Não sinto cheiro
Eu tenho cor, forma, fome e desejo
Eu não te tenho
Não tenho nada
Não temo nada

A onda anda
Por onde anda a banda Bandeira?
Eu ando na sua onda
Eu quero sonho
Vivo guerra
Ei vivo em pedra
Eu quero terra

Não sinto em nada
Não penso em nada
Não penso em mim
Oh vida errada

Eu penso em mim
Ninguém me toca
Ninguém me choca
A asa pórtica do amor
Se desfalece da paixão caótica.

Oh noite cólica
Caleja o peito
E sufoca!
Sonha e me solta
Teme a prisão
E me esfola
Eu sou homem de aventuras
Eu sou menino de escola!

Eu me sonhei
Eu nos sonhei
Eu te prendi
Te sufoquei

Piso só
Ando só
Estou aqui
Estou ali
Estou de pé
Virei pó.

2010

Postagens mais visitadas deste blog

PC Siqueira

Foi extremamente triste a morte do PC Siqueira. Nem toda morte é triste. Há mortes que acontecem, e a tristeza fica na saudade, mas nos sentimos felizes por aquela pessoa ter existido. No caso do PC, eu não comentava nos vídeos dele mas sempre o assistia.  Eu sempre defendi que o PC Siqueira por causa daquele infeliz caso, ele não foi aquilo do que todos o acusavam. PC Siqueira era depressivo, e em quadros graves, quando a doença está fora de controle, o depressivo se torna autodestrutivo, inconsequente, não se permite limites. Isso em todos os aspectos: físico, social, mental, emocional, não importa. A pessoa simplesmente não se importa com mais nada. Eu acredito que naquele comentário o PC já estava tão aquém dos limites do que choca as pessoas que ele foi lá e simplesmente disse. Ele pensou "eu me odeio, minha vida é uma merda, foda-se, eu vou dizer, e foda-se" e ele disse, e aquilo trouxe toda a reviravolta para a vida dele que o colocou nessa rota de loucura e solidão. E...

Ciência da Humanidade

Peço desculpas ao rapaz da IBM que estava lendo o livro de Richard Dawkins, Deus: Um Delírio, e que foi rapidamente atacado por mim, por falta de coragem de encarar que existem realidades diferentes da minha. A matemática sempre me fascinou. Não só a matemática, mas tudo o que a usa como ferramenta, os números, a filosofia, a física, a biologia, a química, a engenharia, a economia, as ciências da informação, as ciências dos softwares, as linguagens de programação, a música, a pintura, a astronomia, a poesia, a eletricidade, tudo o que se originou da harmonia dos números, tudo isso pra mim é arte. Se existe algo que já me incomoda faz muito tempo nos sistemas educacionais do Brasil é essa distinção cada vez mais forte entre Ciências Humanas e Ciências Exatas. Eu ouço essa dissociação como o som de uma facada no meu peito, isso realmente me dói e me incomoda. Para mim tudo é ciência humana, até mesmo a matemática. Eu sempre me lembro da frase de Darcy Ribeiro que disse certa vez...

Devaneio de um Sonho

 Eu vejo a distância a morte de uma flor Primeiro ela para de crescer, numa decisão impetuosa A cor que desvanece, empalidece, esmorece. O perfume cheira a frio e a saudade. Pouco igual ao fim de um espetáculo Testemunho o longo adeus, se recolher Dá-lhe água, adubo, carinho ou amizade Ela existe mas para de viver. Na veia corre o sangue em aflição Pois mesmo queira a flor se extinguir Mais forte sinto ainda o desistir. Pra que escolho esta flor como objeto? Servir como o frescor de um novo amor? Ou o consolo expurgo desta dor? Como a vela em dia claro, sob a luz ardente Não quero que se vá, que me deixe, que termine Como pés cansados num deserto transcendente Pende a pétala no instante em que decline. E as pétalas as deixam, avassalada Uma morte por dia, a flor que emudece Mas menos que um sopro de vida: Ao cadáver de pé, uma prece: Tenta, a vida que se arrasta, arrasta ainda e segue.