Decidi hoje começar uma série sobre meu histórico de depressão.
Talvez como forma de terapia, ou como uma tentativa de elucidar ainda mais, com exemplos reais (a partir da minha perspectiva parcial) das situações que me trouxeram até onde estou hoje.
Decidi escrever estes relatos da forma mais direta e menos subjetiva possível, porque eu tenho um vício em subjetividade, mesmo que uma subjetividade pobre e repetitiva, eu sei disso, porque tenho medo de mostrar a minha vida como ela é de fato é.
Estes medos variam por diversas razões diferentes, e uma das maiores é a de não ser injusto com ninguém. Eu não gosto de me fazer de vítima. Mesmo que, para quem me conhece, isso pareça algo totalmente incongruente com o dia a dia, porque quando eu falo sobre o que me dói, a minha tendência é sempre me colocar como a vítima da situação, mas dentro de mim, eu depois me condeno por isso, porque eu me excluo da minha própria responsabilidade de ter causado essa dor em mim mesmo.
Este texto também não vai abordar uma explicação técnica de um psiquiatra ou psicólogo do que é depressão (tanto que eu sou professor de inglês), mas sim uma descrição de uma pessoa que vivencia isso em primeira mão.
E por fim, vou tentar descrever os relatos da forma menos injusta possível, pois como todos sabem, uma mesma história pode ter diversas maneiras de serem contadas, e a que descreverei aqui, será contada pela minha visão das coisas, muito pobre, muito parcial, e totalmente filtrada pela lente de alguém que ainda sofre desse problema. Aos envolvidos nos relatos da minha vida, eu peço desculpas se em algum momento eu parecer acusador ou vitimista, e deixo aqui a licença muito aberta para que haja comentários (se alguém de fato ler) para mostrar o outro lado da história.
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Eu sempre fui uma pessoa contida, e uma pessoa que dificilmente sorri pelas coisas que a maioria das pessoas sorri. Há pessoas que carregam uma simplicidade e um gosto pela vida tão grande que acordar num dia ensolarado (como o que está hoje) já é o suficiente para encher o coração de vontade de viver.
Eu tenho dificuldades em sentir as mesmas coisas que todo mundo sente, e até onde sei, parece que sempre fui assim, mas não sei dizer ao certo se eu cresci assim, ou se fui enclausurado por algum motivo.
Mas a primeira vez em que eu me toquei de que algo estava clinicamente errado comigo foi em 2014, alguns meses após a minha separação da minha ex-companheira.
Namorei uma moça cinco anos e meio mais velha que eu, e para mim, ela era uma grande referência. Aprendi muito com ela, principalmente sobre como não ser um homem machista e patriarcal. Talvez eu não tivesse aprendido o suficiente, mas toda a minha visão do que é o feminismo, como uma luta de liberdade e igualdade da mulher (descrevi muito a grosso modo, sei) veio dela. E isso veio muito mais como ação do que como discurso mesmo, aprendi, no dia a dia, a perceber todos os meus comportamentos e falas em que isso estava incutido, e com ela desenvolvi uma consciência social muito grande. Tínhamos uma relação muito saudável de companheirismo, mas olhando para trás hoje, eu percebo que a minha imaturidade pode ter feito com que ela se visse obrigada a consentir com muitas coisas que não a agradava apenas para conciliar-se comigo de forma harmônica.
Porém, por razões e erros cometidos por nós dois, nos separamos em Julho de 2014. E até então, veio aquele vazio e estranheza de voltar ao mundo real depois de tantos anos acostumado com uma pessoa que me ajudou a construir um mundo só nosso. Aquele mundo, dentre os diversos mundos que aprendemos a construir, não existia mais.
Para ocupar minha mente, decidi naquele mesmo semestre começar um curso de inglês para concluir meus estudos e tirar meu certificado de proficiência (o CPE). Em uma das atividades deveríamos escrever uns artigos com tema proposto pela professora, e foi aí que eu percebi que havia algo de errado.
Pelo próprio blog nota-se que eu adoro escrever, é um exercício e uma terapia para mim. Mas naquela época, naquele momento específico, eu me senti travado. Eu sentava para pensar sobre o assunto, tentava ler os textos de referência, e minha mente simplesmente se recusava a se concentrar. O texto começava a perder o sentido e a dificuldade de absorver algo tão direto e simples fazia com que eu me sentisse fracassado e perdido. Esse foi um alarme muito forte, e decidi conversar com a professora. Disse a ela que não conseguia fazer a tarefa, não me sentia capaz e queria deixar o curso.
A professora me fez algumas perguntas sobre o que acontecia quando eu tentava escrever, e eu descrevi exatamente isso: não consigo me concentrar, o texto parece muito complicado e o tema também. A partir dali, eu comecei a pesquisar sobre o que causava falta de concentração, e buscar atividades e exercícios para melhorar aquilo, e foi quando esbarrei com um artigo sobre depressão. Fui procurar ajuda com uma psicóloga com quem eu já havia feito terapia anos antes, a pedido da minha ex-companheira, para lidar com outras questões que nada tinha a ver com depressão. Era o que eu acreditava até aquela época.