Há hoje em dia uma tendência de pessoas se declararem depressivas ou ansiosas, publicamente, alegando a justificativa de que desta forma estarão representando em nome daqueles que não perceberam ainda os sintomas da doença, alertando a sociedade para os comportamentos que podem despertar e agravar o problema. Porém, a forma como isso é feito, essa atitude de "sair do armário" e reconhecer a depressão, isso não me parece de forma alguma uma atitude altruísta. Eu a encaixo, em grande parte, em mais um item da grande coleção do desespero narcisista da nossa época. Não tenho evidências, mas as redes sociais estão aí para quem quiser buscá-las, e como isso é apenas um relato, uma forma de expressar desgostos da minha rotina de pensamento, então não vou me dar ao trabalho de buscá-las. Eu sei que é uma atitude intelectual covarde e preguiçosa, mas não escrevo este texto na posição de criar uma teoria generalista, ditando regras, isso é nada mais do que uma observação, reconhecendo já a grande possibilidade de eu estar completamente equivocado. De qualquer forma, meu blog não é informativo, é um blog de observações pessoais.
Continuando.
Não me espanta que seja esta a intenção, a de chamar a atenção para si a partir de um artifício. Talvez por ainda ser cercada de mistérios e ser vista com certo preconceito, a depressão vem sempre acompanhada de mitos e enganos, por isso, para quem tem depressão (ou faz em si mesmo um diagnóstico), essa doença desperta um ar de singularidade. A intenção, a meu ver, é mostrar-se uma pessoa única, diferenciada, e eu não posso deixar de citar de novo a famosa frase de Andy Warhol sobre o desespero pela notabilidade, a busca pela fama a qualquer custo, mesmo que uma fama local, inventada. E eu odeio Andy Warhol, eu o considero, esteticamente, um artista extremamente superestimado, embora não possa deixar de destacar o brilhantismo da sua proposta. É algo pessoal.
Eu não estranho e não mais me espanto por essa mentalidade de querer usar a doença como uma ferramenta para se diferenciar, porém é ou risível, ou irritantemente estúpido, afinal, seria o mesmo que um europeu da época da peste bubônica se sentisse orgulhos de ser condenado à morte. Ambas são doenças, porém, uma delas ainda aparenta ser invisível às pessoas, provavelmente porque é mais tratada como fetiche do que como um problema a ser investigado.
Ter depressão não torna ninguém especial, trata-se apenas de uma fatalidade social. Como depressivo eu me sinto diretamente afetado e ofendido, pois as pesquisas acerca do problema sofrem ainda com muitos obstáculos na tentativa de catalogar o problema. Temos médicos que receitam remédios para problemas mentais como se fossem analgésicos, provavelmente por razão dos diagnósticos na base do achismo, ou como resultado de uma sociedade animalizada, cada vez mais estúpida emocionalmente, incapaz de lidar com sentimentos tão naturais como a frustração ou a tristeza.
Como narcisista autodiganosticado, termino este desabafo declarando o quanto eu repugno o ser humano narcisista.