Hoje eu escrevo para o silêncio.
Não para teu nome.
Não para tuas palavras que ainda me atravessam como espinhos tardios.
Escrevo porque finalmente compreendi:
esperar por um pedido de perdão é se acorrentar ao orgulho do outro.
E eu escolhi ser livre.
Sim, livre.
Livre do papel que me deram numa história escrita só de um lado.
Livre de carregar as palavras que não me pertencem,
as acusações que tentaram me vestir como se fossem verdades.
Mas eu também não sou inocente.
Carrego minhas falhas —
e aprendi a chamá-las pelo nome,
a abraçá-las sem vergonha,
porque só assim se cresce.
Eu te perdoo.
Não porque esqueço.
Mas porque não quero mais viver com esse gosto amargo na boca
toda vez que teu nome atravessa um pensamento.
Eu te perdoo mesmo que você nunca entenda,
mesmo que continue a contar a história de um vilão que você precisou inventar
para justificar a tua fuga.
Te perdoo porque eu também fugi.
Porque éramos dois machucados tentando amar,
e confundimos presença com controle,
carinho com cobrança,
liberdade com abandono.
Te perdoo porque tua voz não ecoa mais como sentença dentro de mim.
Agora ela é só memória —
e a memória, quando não é mais dor, é só o que resta:
um retrato desbotado de quem fomos.
Sigo em paz.
Com as mãos vazias de rancor
e o coração cheio de esperança.
Sim, esperança.
De que cada um de nós encontre, à sua maneira,
um lugar onde o amor não precise mais se esconder atrás da defesa,
nem o orgulho finja ser coragem.
Hoje, com toda a fé que me resta,
eu solto tua imagem no rio manso do tempo
e deixo que a vida se encarregue do resto.
Em mim,
há paz.