Pular para o conteúdo principal

Moonflower

Prenda tua respiração
Enquanto vejo lentamente
Seu alvo e belo corpo
Afundando levemente

Eu soube assim que vi
Olhei pelo fundo do lago
À Ipomoea alba caça
Mas era você ali.

O pêndulo no coração
Era você que o ar puxava
O pulso leve se agita
O repouso peito arquejava

Prenda tua respiração
Enquanto tua própria imagem
Encara, estoica na ferida
Que causou-me nesta margem

À margem em vão te esperei
Uma fresta de porta aberta
De braço e peito amplo
O choro em vão desperdicei

O medo, pois, foi ele sim
A ganância fútil fantasia
A sedução da imagem própria
Narcisa ególatra e vazia

Prenda sua respiração
Enquanto o verme te corrói
Amor, quão diga a mente tola
É um vivo sacrifício, que dói.

E aquilo que em meu peito arde
Muito a entrega vale a pena
Todo o mais é morredoiro
É o refúgio do covarde.

Quem sabe do quão sério
A vida o preço alto cobra
Não é ideia senão escolha
Quem pela dor não se desdobra.

Prenda sua respiração
Vista a cobertura farsa
Que a boa-fé sempre desvela
O que o intento não disfarça.

Postagens mais visitadas deste blog

Ciência da Humanidade

Peço desculpas ao rapaz da IBM que estava lendo o livro de Richard Dawkins, Deus: Um Delírio, e que foi rapidamente atacado por mim, por falta de coragem de encarar que existem realidades diferentes da minha. A matemática sempre me fascinou. Não só a matemática, mas tudo o que a usa como ferramenta, os números, a filosofia, a física, a biologia, a química, a engenharia, a economia, as ciências da informação, as ciências dos softwares, as linguagens de programação, a música, a pintura, a astronomia, a poesia, a eletricidade, tudo o que se originou da harmonia dos números, tudo isso pra mim é arte. Se existe algo que já me incomoda faz muito tempo nos sistemas educacionais do Brasil é essa distinção cada vez mais forte entre Ciências Humanas e Ciências Exatas. Eu ouço essa dissociação como o som de uma facada no meu peito, isso realmente me dói e me incomoda. Para mim tudo é ciência humana, até mesmo a matemática. Eu sempre me lembro da frase de Darcy Ribeiro que disse certa vez...

Na Praia

Contempla a pedra una o nascimento Do suntuoso Astro que se lança Como o materno elance tua brasa Extirpa da minha vida o lamento. Beija-me os pés com tal candura A alma que imortal e majestosa Clara, tão macia e arenosa Da vida, abranda a desventura. Dança com o silvo de uma brisa Restaura-se o grão o teu domínio Incauta testemunho-lhe a misa A carícia que faz-me a imagem. Já não mais soa como o eterno toque Que na memória o gesto imortaliza Vez a vez se aparenta-se imponente A cena que comove-me o enfoque. Cavalga mar adentro a ventania Prata e prata no celeste horizonte Manto líquido, tua sabedoria Áspero, feroz limpa o Flegetonte. Olha a pedra do flamejante prenúncio Do grande Astro que o braço repousa A ocre cor que em seu leito se esconde Salva-se o mar perene de silêncio.

Tua Palavra

Palavras como fios E teus dedos costurando Um caloroso manto Para minha sombria alma. Palavras, que como pão Desta tua fome tão antiga Onde cada sílaba que canta Vira a ceia da minha calma. Palavras, como tuas mãos Que quando escreves meu nome Eu sinto O calor do teu gentil enlaço. Palavras como a brisa A brisa que te trouxe até mim No alívio das noites infernais Na doçura dos teus braços. E se ousa um dia duvidar Da força daquilo que escreve Lembra: O mundo que antes era só escuridão A vida que antes era nada Começou tudo, até amor Pela Palavra.