Passava todo dia após o pôr do sol
Ao pé de uma gentil casinha
Tinha o muro ao fim do pé direito, coberto de raízes e florzinhas
- Que bela arquitetura jaz além desta raízes - pensava
Mas só pela fresta do alto muro ver não dava
De dia em dia a vida inevitável pelo mesmo trajeto me levava
E sempre a vontade curiosa ia crescendo
- Um dia terei altura pra atravessar, e viverei o que após ali sabendo
Certa vez em uma ocasião inesperada
Um fogo fedorento e uma cálida luz me circularam
Ao mesmo tempo o anjo e o diabo me pegaram
Criei à esquerda a asa de um e do outro à direita
Vi-me etéreo atravessado pelas partículas atômicas
E quando de novo pela casinha eu passei
Bati as asas e pelo muro eu pulei
Oh poxa, então é isso o que eu vejo?
Era só uma casinha, outro muro, tão igual ao que eu deixo
Do outro lado o anjo e o demônio
Breve se apresentaram
- Pois é meu caro, a vida é assim
Abri a porta, atravessei, e nunca mais fui visto
E este foi o fim