Um dia um aluno me disse "a educação pública é muito ruim", no que eu respondi "sinto saudades de quando a educação no Brasil era ruim, porque hoje ela é inexistente". Eu não exagero quando digo isso, que a educação falhou.
Não me limito apenas à educação pública. Atuei em diversas frentes educacionais: privada, pública, voluntária, cursos livres, e em todas elas, o cenário mais ou menos se repete, com professores completamente desvalorizados. Numa sociedade que presa e almeja apenas o material como qualidade de vida, o que você ganha também determina o seu prestígio. O ganho pessoal e o mérito financeiro estão acima de valores humanos que, sejamos francos, ninguém se importa hoje em dia.
Não adianta falar de respeito, amor, sócio afetividade, não adianta. Há uma espécie de máquina de moer humanidade em curso nesse mundo, e os jovens foram cooptados por ela. Deram a eles um protagonismo sem ensinar primeiro o senso de responsabilidade e a importância que isso tem para a vida em sociedade, portanto, os ataques recentes não me foram surpresa, porque eu já sabia que eram questão de tempo. Refiro-me à onda de invasões nas escolas: adolescentes e jovens adultos, em diversas partes do Brasil, em dias separados, passaram a invadir escolas de educação infantil e de ensino fundamental, matando outras crianças. Houve um caso em que um garoto de treze anos matou a facadas uma professora idosa. Em outro, dois jovens entraram atirando e matando crianças de 3 a 5 anos de idade. Um cenário de horror, mas um cenário que foi se construindo ao longo destes últimos anos com tanto discurso de ódio e intolerância, e muita gente decidiu ignorar. E não acabou e nem vai acabar tão cedo, esse é só o começo de algo muito pior que parece estar se movendo silenciosamente nos bastidores da sociedade.
E aí de repente uma rede de notícias qualquer dá notoriedade para a escalada de desrespeito que acontece no ambiente escolar, tratam como caso isolado, sendo que é fato que a violência e o desrespeito dos alunos já faz parte do cotidiano de um professor. A violência não é mais caso isolado, já faz muito tempo que virou parte das atribuições. Lembro que em um concurso público para o município de São Paulo eu me deparei com um tema de redação questionando sobre como eu lidaria com um caso específico de violência escolar. Isso já faz parte do nosso dia-a-dia.
Como se não bastasse, a tal família, que se faz acreditar como uma instituição sagrada nesse país, não está envolvida na vida escolar. Os pais não fazem ideia do que os filhos estudam, não abrem os seus cadernos, não olham os seus livros, não os estimulam a fazer perguntas e a serem curiosos. Os filhos viraram meros estorvos que lhes roubaram a juventude. Some-se a isso péssimas políticas públicas de educação sexual, ou a insistência de não tratar do sensível ponto da natalidade do país, no sentido de ao menos fazerem essas pessoas compreenderem o óbvio, de que colocar uma criança no mundo exige muita responsabilidade e sacrifícios. Nossa sociedade está arrasada, e isso não é exagero. O Brasil está na rota da auto destruição faz muito tempo. Aqui não é mais o país tropical abençoado por Deus. Deus não olha para o Brasil faz muito tempo, a menos que Deus seja, como disseram os Racionais, uma nota de cem reais.