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O Dia da Flor

Os primeiros livros que eu comprei, por escolha minha, foram O Senhor dos Anéis e A Sociedade do Anel, de JRR Tolkien, Os Maias de Eça de Queiroz, A Hora da Estrela de Clarice Lispector, Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, e enfim, Libertinagem, de Manuel Bandeira. Foi assim que eu comecei a minha biblioteca, com estes livros que misturam escolhas pessoais e indicações de professores do cursinho. Não os comprei todos de uma vez. O Senhor dos Anéis eu tinha treze anos. Foi a fuga pra uma cura pessoal, e eu só sei que foi fuga hoje, depois de adulto. Na infância a gente ainda não confunde tanto a fantasia com o escapismo. Hoje, era necessário.

Os outros foram todos de uma só vez, aos 17 anos, em uma feira de livros que aconteceu no Centro Cultural Vergueiro, em São Paulo, em 2003. Eu nunca tinha ido sozinho na CCSP, e nunca tinha ido numa feira. Eu estava com amigos do Cursinho da Poli, e eu nunca tinha saído com amigos para nada tão interessante antes. Eu nunca tinha vivido a vida daquela forma, e tudo tinha um cheiro, um aroma refrescante de novidade e possibilidade. Esse aroma tinha o cheiro de papel de livro novo e terra molhada pela chuva. A sensação era o do frio suave do início do Outono. Lembro do Rafael, uma das primeiras pessoas que me chocou em um caráter íntimo. Eu era cristão evangélico da Igreja Batista, ainda não batizado, mas frequentava a Igreja todos os Domingos depois de, aos Sábados, ir para a casa da minha namorada para transar. Um dia de pecado e outro dia de espiar a culpa. Quando o Rafael me perguntou o que eu ia fazer na faculdade, qual matéria eu ia escolher, estava em dúvidas entre Engenharia Elétrica, Marketing, Letras ou Robótica. A verdade mesmo, eu não fazia ideia. E quando eu perguntei para ele, a resposta veio em pedrada nos meus conceitos morais: "Eu vou fazer História" perguntei o porquê e ele disse, hesitante, a princípio, convicto depois "porque não existe Deus". Aquilo foi um choque, e eu rebati com um tímido "mas por que?" Eu estava tentando não me decepcionar com a revelação.

Lembro também de um outro rapaz espírita. Descobri que ele era espírita uma ocorrência que era comum na minha vida, quando decidia dar as piores opiniões nos  momentos mais inapropriados. Em que eu, Cristão, e cheio de certezas, estava acostumado a abrir a boca pra metralhar minha visão de mundo muito pouco lógica. Critiquei, sem nenhuma base ou conhecimento, a Teoria de Gaia, e chamei o Espiritismo de uma seita ridícula e idiota. Bem, a pessoa que estava me ouvindo era Espírita. A resposta dele foi um "é mesmo cara? Mas por que?" E eu segui falando, até que uma colega do meu lado, quando eu terminei de insultar a fé do meu outro colega, me chama e me sussurra ao pé do ouvido "pois então, ele é espírita". Foi como eu  aprendi a diferença entre ele e eu: às vezes é melhor ser educado e calar a maldita boca para não passar a vergonha que eu passei.

Também havia uma garota que era bonita apenas vista de frente. De perfil ela tinha uma protuberância na bochecha, então eu gostava de olhar pra ela apenas de frente, ela tinha olhos bonitos, verdes, quase castanhos, e tinha um nariz proporcional ao resto do rosto. Lembro que a coisa que eu mais achava bonito nela eram os cabelos, muito bem penteados e uma mecha caía sobre metade do rosto, enquanto a outra era penteada pra trás. Ela era realmente muito bonita vista de frente. Vista de perfil, nem tanto. 

Foi com esse grupo que eu fui na feira de livros da CCSP e comprei um monte de livros clássicos. Li A Hora da Estrela e Memórias de um Sargento de Milícias naquele mesmo mês. Eu demoraria uns cinco anos pra ler Os Maias. Libertinagem eu leio até hoje, é um dos livros de poesia que mais me influenciou. Durante anos eu tentei imitar o Manuel Bandeira, que esconde muita dor e tragédia em versos que parecem muito bobos. Escrevendo isso, Antônio Cândido e Alfredo Bosi teriam vergonha de mim, mas eu já tenho quarenta anos de idade e não posso mais ficar fingindo ser o que eu não sou. Eles diriam melhor sobre os versos do Manuel Bandeira, por isso seria melhor ler os livros deles, porque, para mim, Manuel Bandeira é a criança que reclama do machucado no joelho porque ainda não sabe explicar que foi espancado pelos pais.

Depois daquela feira de livros, passei a ver livrarias em todo lugar. Antes elas não existiam pra mim. É como ver um carro laranja, ou uma mulher de mini saia. Quando você presta atenção pela primeira vez, começa a enxergar por toda parte. Eu via livrarias em todo lugar, e não resistia, enquanto passava, de namorar as capas. Demorei pra entrar, muitos anos, porque não sentia que era o meu lugar. Só me senti seguro pra finalmente entrar quando eu ganhei meu primeiro salário na IBM, no interior de São Paulo, em Hortolândia. Ali eu já morava longe dos meus pais, e tinha uma certa autonomia e liberdade para me odiar sem a interferência condescendente de ninguém. Nas viagens de visita para casa, em São Paulo, eu passava pelas livrarias do Terminal Barra Funda. Havia duas, uma grande e uma pequena. A pequena tinha mais livros de bolso e livros mais acessíveis pra mim. A grande tinha às vezes uma promoção, e nunca me esqueço que foi lá que comprei Asteca, de Gary Jennings, uma descoberta realmente surpreendente. Recomendo a leitura.

Sempre que eu olhava a estante em que eles organizavam a coleção da Martin Claret, eu via aquele livro O Processo, do Franz Kafka. Martin Claret começou com a proposta de popularizar a leitura. Eles focavam em obras clássicas porque talvez fosse menos burocrático de lidar com a revenda de materiais que foram lançados há 200, 300, 400 anos atrás. Eu comprei muitos livros dessa editora, que era muito criticada por quem tinha condições de comprar livros melhores. A Martin Claret, diziam, e eu não pesquisei para saber se era verdade, era acusada de plagiar traduções ou republicar livros traduzidos por profissionais consagrados, mas sem lhes dar o devido crédito. Lembro de um professor da faculdade moralizando essa questão quando viu uma edição nas minhas mãos, e afirmando que eu estava alimentando uma editora que frauda a o trabalho alheio. Eu só pude responder que o livro que eu tinha em mãos havia custado 3 reais, e qualquer outra editora, na época, estava cobrando acima dos 40 reais pela mesma publicação de uma obra que tinha mais de 200 anos. A discussão terminou aí.

Comprava todos os livros posicionados ao redor do Kafka, menos O Processo. Aquele livro me intimidava, mesmo sem eu saber nada sobre ele, ele ficava lá me encarando, e eu limpando da pilha os livros que estavam ao seu redor, como se fossem um escudo contra mim. Até que por volta de Junho, Julho de 2007, eu viajei de Paulínia, onde eu morava na época, para São Paulo, sem avisar minha família. Não avisei porque ia visitar uma amiga, a Juliana, e ela era uma garota por quem eu tinha uma certa paixão na adolescência, e enxerguei uma chance de acontecer alguma coisa. Já perdi as contas de quantas vezes vi coisas onde não existiam. Eu já escrevi aqui que eu era evangélico. Não aconteceu nada entre a Juliana e eu, porque, segundo ela, não queria estragar nossa amizade. A Juliana não fala comigo já faz uns quinze anos ou mais. Não só não aconteceu, como eu não tinha dinheiro na conta poupança pra voltar para Paulínia. Eu não queria ligar para os meus pais e ter que explicar a eles porque eu estava em São Paulo sem que eles soubessem. Eu estava tentando de tudo pra não ter mais que depender deles ou dar satisfação sobre o que eu fazia, então eu decidi vender o meu celular. Era um celular antigo da LG, de tela colorida, e eu gostava muito dele, mas não fazia nada além de ligação, SMS e os jogos pré-instalados. Eu não tinha chegado ainda na era do MP3, apesar da insistência de todos. Sempre achei que lugar de ouvir música era no conforto de casa, sentado no sofá ou numa cadeira, enquanto se fecha os olhos. Vendi o LG por 20 reais, e na época, uma passagem de São Paulo para Paulínia custava apenas 12 reais. Me sobraram 8. Eu vendi em uma padaria, destas que tem lanchonete também, e que tem frequentadores que acabam virando amigos do dono. Ele levantou a sobrancelha com desconfiança, achando que eu estava vendendo o celular tão barato, ou porque tinha roubado, ou porque queria drogas. Seja qual fosse a desconfiança dele, ele não hesitou em comprar, então o moralismo dele era opinativo.

Chegando na rodoviária, eu entrei na livraria com os meus 8 reais restantes, e comprei O Processo do Franz Kafka. A primeira frase me prendeu o suficiente para eu não largar o livro pelas próximas quatro horas, e apesar da escrita densa, sinuosa e desconfortável de Kafka, eu consegui ler mais de 30 páginas naquele dia. Era uma meta acima do que eu era acostumado a ler, e não era nada mal pra quem tinha começado o hábito de leitura fazia tão pouco tempo. 

Eu levava aquele livro para todo lugar que eu ia: no ônibus, se eu precisasse ir ao banco, ao supermercado, ou se ia fazer uma visita a alguém, o livro estava comigo. E estava comigo também na secretaria da faculdade em que eu estudei de 2008 até 2009, em Campinas, cidade vizinha de Paulínia. Ali na secretaria eu já estava com a leitura para mais da metade. Eu demorei muito tempo pra terminar O Processo, e alternava com leituras mais leves pra poder digerir melhor. Kafka odiava sua própria literatura, assim como eu odeio quase tudo o que eu faço e sou, apesar de tentarem me convencer do contrário, assim como Max Brod. Max Brod era amigo e editor de Kafka. Quando Kafka morreu, ele havia deixado claras instruções ao seu editor para que destruísse e queimasse tudo o que ele escreveu. Max Brod contrariou o amigo e publicou mesmo assim, por isso que hoje conseguimos ler O Processo.

Eu estava imerso no monólogo de Joseph K. com o pintor que o ajudaria em seu caso, quando eu ouvi uma das frases mais ousadas da minha vida:

"Sabe, é a primeira vez que eu vejo alguém lendo Kafka por aqui, ao invés de O Segredo, O Caçador de Pipas, Pai Rico, Pai Pobre, ou qualquer outro desses livros da moda" eu olhei para o lado, e quando os nossos olhos se encontraram, continuou "Você é estranho" seguido de um sorriso. Esse sorriso pertencia a lábios rosados. E os lábios rosados ficavam em um rosto branco como farinha, salpicado com sardas no nariz. E acima deste nariz, havia um par de olhos verde-mel, cercados por uma longa e ondulada cabeleira ruiva, cor de cobre, e às vezes, a cor dos primeiros raios de sol. 

Eu não soube o que responder, então disse "eu achei que era um livro sobre Direito, então decidi comprar pra entender mais de leis" ela soltou uma gargalhada sincera, e se sentou em uma cadeira do lado da minha.

O nome dela era Isabelle, ela também vinha de São Paulo, tocava flauta transversal e estava ali tentando resolver alguma burocracia com a faculdade, assim como eu. Ela disse que ainda estava estudando pra tentar entrar na Unicamp, mas que não tinha mais tanta esperanças por já ter 18 anos de idade. Ela morava com a tia, e às vezes visitava os irmãos. O tempo todo ela falava da mãe dela, e a chamava de mãezinha, como se fosse uma menina de dez anos de idade. Ela falava "a minha mãezinha" como se estivesse falando com um primo dela, ou coisa assim. E aí a senha dela chamou, e ela foi embora, e eu pensei que nunca mais veria essa garota pelo resto da minha vida, por isso decidi voltar a ler O Processo, tentando tirar a imagem dela da frente das palavras que se confundiam nas frases longas, densas e sinuosas da escrita desesperançosa de Franz Kafka. Não havia passado nem um minuto, ela voltou e se desculpou, esquecendo de perguntar o meu nome, então eu disse o meu nome. E com a maior intimidade desse mundo, essa garota pegou no meu pulso, abriu a minha mão e me entregou um papel, indo embora dizendo "me chama no MSN pra gente conversar mais sobre como você confundiu O Processo com um livro de Direito". Eu achei que ela estava fazendo graça por eu querer parecer inteligente sem ter conhecimento de nada, a mesma falta de conhecimento que me levou a um longo e ofensivo monólogo sobre o quão ridículo eu achava a Teoria de Gaia na frente de um Espírita. O mais engraçado disso é que a teoria de Gaia não tem nada a ver com espiritismo.

Eu chamei a garota no MSN assim que cheguei em casa e nós conversamos a madrugada inteira praticamente. Ela me contou muitos detalhes da vida dela que eu não posso relatar aqui, e me contou também que tinha decidido estudar onde a gente estava mesmo, e que talvez ela trancaria a faculdade naquele ano mesmo. Conversamos assim por muitas madrugadas depois dessa, e essa garota acabou se tornando uma das minhas melhores amigas da vida inteira.

No final daquele ano ela foi embora, mudou de país, com um rapaz por quem ela era apaixonada quando era mais nova, e eles se casaram. Outros amigos que eu achei que seriam meus amigos para sempre, também foram embora. Uma dela decidiu simplesmente falecer quando eu ainda era muito novo, e é por causa disso que eu tento regular a angústia com poemas, textos e desabafos que ninguém lê. Foi por causa desse evento que eu me tornei essa pessoa tão estranha. E foi por causa disso que eu comecei a coletar livros como se fossem tijolos pra um lar que me protegeria do resto do mundo. Foi por isso que eu vi que nesse mundo hostil, no início do século 20, um escritor tímido, extremamente angustiado, e que tinha uma relação profundamente venenosa com o pai, o Franz Kafka, decidiu escrever um livro como O Processo, como uma fantasia realista e alegórica da sua relação estranha e deslocada com o mundo, originada na figura autoritária e pesada do seu pai. A história do Kafka que se confunde muito com a minha história, e também com a história da garota da secretaria da faculdade.

Hoje é o aniversário dessa garota, e hoje ela completa 38 anos, dos quais, os últimos dezoito, eu tive a honra e o privilégio de tê-la como parte da minha vida. Uma vida com percalços que só existiriam na minha cabeça, mas ainda assim, percalços. Uma vida em que eu passei o tempo todo duvidando de quem eu era, enquanto ela acreditava em mim. Uma vida em que eu publicava um poema de desesperança, como as frases do Kafka, e ela imediatamente me escrevia um email perguntando "está tudo bem?", deixando bem claro que não só lia, mas entendia o que eu escrevo. Uma vida em que, uma pessoa que mora tão distante, é uma das mais próximas que eu tenho de mim.

Uma pessoa a quem eu sinto a honra de chamar de amiga, e a quem, até hoje, eu não consigo acreditar que um dia teve a espontaneidade de me chamar apenas para me perguntar sobre um livro que eu achei que era sobre outra coisa. Eu poderia nunca ter comprado aquele livro do Kafka na livraria da rodoviária. Eu poderia não ter ido ver a minha amiga Juliana. Eu poderia não ter conseguido vender o celular, e ter que telefonar para os meus pais. Max Brod poderia ter obedecido as instruções de Kafka e queimado os livros. Muitas coisas poderiam ter acontecido e nós não teríamos nos conhecido naquele acaso, e eu acho que a minha vida hoje seria mais sem graça sem você.

Feliz Aniversário, Isabelle Lorella La Fleur

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