Todas as noites em que eu sonhava, não importava o tema ou as imagens, estava presente uma ponte que flutuava bem alto lá no céu. Não era uma ponte comum, em que era vista de baixo para cima, ela realmente estava flutuando no céu, cortando toda a dimensão do horizonte até onde eu pudesse ver, de leste a oeste, e não se conseguia ver o começo, ou o fim, por mais que eu fizesse um esforço, ou caminhasse por dez dias inteiros, ou pegasse uma carona com algum estranho, essa ponte não me permitiria saber o que se encontrava em suas extremidades. Se eu sonhava que estava na minha sala de aula, lembrando das pessoas que fizeram parte da minha infância, ao sair da escola, eu notava cortando o céu azul aquela imensa ponte, em que as extremidades se perdiam em um caminho interminável. As risadas dos meus colegas indo em grupos ou em duplas para suas casas me despertavam um misto de alegria e isolamento. Quando eu sonhava que estava andando sobre a areia da praia, ouvindo o som da espuma molhando...
Acordo tossindo, no meio da rua, engasgado com meu próprio sangue. Uma saliva vermelha escorre pela minha boca e mancha as minhas roupas, enquanto tento buscar o ar que me falta. Minha vista turva sintoniza gradualmente o mundo ao meu redor. A tela da realidade toma forma e aos poucos onde me encontro. Estou cercado por uma pequena multidão, todos eles absorvidos pelas suas tarefas do dia a dia. Um casal de idosos, indiferente ao resto do mundo, discute as contas da casa. Um homem corpulento e desengonçado procura freneticamente os resultados dos esportes da semana. As crianças correm pela casa, ignoram os meus apelos, até mesmo quando se aquietam para assistir desenhos TV. Várias moças fazendo suas unhas e comentando sobre o calor quase insuportável do dia. Um casal dança sensualmente atrás de uma árvore, aproveitando-se da pobre luz. Os senhores no bar jogam cartas e contam suas histórias como moeda de troca. Um bêbado cambaleia e parece ser o único genuinamente feliz, e o único genu...