Palavras como fios E teus dedos costurando Um caloroso manto Para minha sombria alma. Palavras, que como pão Desta tua fome tão antiga Onde cada sílaba que canta Vira a ceia da minha calma. Palavras, como tuas mãos Que quando escreves meu nome Eu sinto O calor do teu gentil enlaço. Palavras como a brisa A brisa que te trouxe até mim No alívio das noites infernais Na doçura dos teus braços. E se ousa um dia duvidar Da força daquilo que escreve Lembra: O mundo que antes era só escuridão A vida que antes era nada Começou tudo, até amor Pela Palavra.
Conheci um dia um artista que me despiu por inteira Despiu-me com palavras Com olhares Com um toque suave Mas de tão suave que me fez incendiar Gritei teu nome como se grita por uma prece E ele, ele orou em mim Fui deusa Ele foi altar Fui esperança Ele foi templo e contemplação! E quando balançou teu aspersório Fui tua bacia de água benta Tu, lavou-me em oferenda e salvação. Diz ele para mim Escrevo, escrevo sim um poema Neste teu coração vadio e sem rumo Porque escrevo como quem sangra E te amo como quem morre. Ouço longe como do outro lado do mundo O lamento de um passarinho solitário Tenho ele preso em tua jaula Venha buscar a tua chave Através dos densos caminhos do meu bosque.