Não são só palavras que me lembram você. Nem o seu cheiro, nem a sua voz, nem o seu olhar. Nem mesmo você me lembra você mesma.
Uma folha caindo me lembra você. Uma música qualquer me lembra você. O som de um carro passando, ou de um copo sendo lavado na pia. Também me lembram você a noite alta, fria, porém confortável como o colo da minha mãe. As estrelas opacas, ofuscada pelos postes de iluminação. A vontade de fugir daqui pra sempre, isso me lembra muito você. As frutas na fruteira, o começo da chuva de verão. A dor no peito e a dor de estômago me lembram você.
Preciso de coisas que me façam te esquecer. Até a minha imagem me lembra você.
Não vou mentir pra mais ninguém e menos ainda pra mim mesmo. Que uma árvore verdinha me lembra você. Mas uma maçã descascada também me lembra você.
O que cai primeiro? A folha da árvore ou a maçã da macieira?
E quando cai foge pra sempre. Eu piso na folha que é mais fácil, e isso a faz se machucar. Pisar na maçã é mais difícil, ainda quando escorrego e tombo, sinto a dor terrível da queda e não consigo levantar.
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Esse texto é pra você e pra você. Minha folha verde e minha maçã descascada.