Pular para o conteúdo principal

A Valsa


Eu só não entendo quando acontece de duas pessoas que se amam tanto não conseguirem se entender de verdade. Eu danço para não racionalizar o sentimento que tanto sinto, e ofereço uma dança a quem sinta que não possa entender as confusões tão óbvias dos nossos corações. Valsa, foi-se o tempo em que era exclusividade. Até os mais pobres de espírito têm o direito de amar.


A Valsa


Dois para lá
Dois para cá
Dois que se cruzam
E jamais se apagam da memória.

Um de paixões meteóricas
Um de dolorosas retóricas
Dois para lá
Dois para cá
E no três quartos
Sobra um quarto vazio
E de compasso errado

Dois para cá em harmonia
Dois para lá que vão embora
Duas idéias conjuntas
Duas almas perdidas
Duas longas conversas
Duas para sempre feridas.

Dois beijos de desculpas
Duas paixões duas nucas
Duas mãos que se apertam
Dois corações que se expremem
Uma banda toca enquanto acertam
Se bramirem, alvoraçarem enquanto tremem.

Duas conversas inexistentes
Dois corações que dóem, latentes
Duas invisíveis conclusões
Sob soluços de terríveis confusões.
Duas vontades indivisíveis
Duas declarações impossíveis
Dois sonhos que acontecem
Que apenas nas fronhas permanecem.
Dois desejos adiante e como além
Duas dúvidas de quem, com quem.
Duas nuvens brancas e límpidas
Duas nuvens negras e pesadas
Dois sopros de brisa
Em dois suspiros de alívio
Numa nuvem que se vai sem sentido
De um compasso que sobra com uma pausa
De três quatros
De dois para lá, dois para cá.

Nas valsas dos momentos sozinhos
O casal de dançantes se separa
Dois para lá
O casal de dançantes se apara
Dois para cá

Caminhando na valsa frêmita
De sussuros nunca antes ensinados
Mas já aprendidos, já adotados
Dançando enquanto podem
Na juventude dos últimos amores
Da esperança de tentar pela última vez
Mais uma última valsa
Como se fosse a primeira.

Postagens mais visitadas deste blog

Ciência da Humanidade

Peço desculpas ao rapaz da IBM que estava lendo o livro de Richard Dawkins, Deus: Um Delírio, e que foi rapidamente atacado por mim, por falta de coragem de encarar que existem realidades diferentes da minha. A matemática sempre me fascinou. Não só a matemática, mas tudo o que a usa como ferramenta, os números, a filosofia, a física, a biologia, a química, a engenharia, a economia, as ciências da informação, as ciências dos softwares, as linguagens de programação, a música, a pintura, a astronomia, a poesia, a eletricidade, tudo o que se originou da harmonia dos números, tudo isso pra mim é arte. Se existe algo que já me incomoda faz muito tempo nos sistemas educacionais do Brasil é essa distinção cada vez mais forte entre Ciências Humanas e Ciências Exatas. Eu ouço essa dissociação como o som de uma facada no meu peito, isso realmente me dói e me incomoda. Para mim tudo é ciência humana, até mesmo a matemática. Eu sempre me lembro da frase de Darcy Ribeiro que disse certa vez...

Na Praia

Contempla a pedra una o nascimento Do suntuoso Astro que se lança Como o materno elance tua brasa Extirpa da minha vida o lamento. Beija-me os pés com tal candura A alma que imortal e majestosa Clara, tão macia e arenosa Da vida, abranda a desventura. Dança com o silvo de uma brisa Restaura-se o grão o teu domínio Incauta testemunho-lhe a misa A carícia que faz-me a imagem. Já não mais soa como o eterno toque Que na memória o gesto imortaliza Vez a vez se aparenta-se imponente A cena que comove-me o enfoque. Cavalga mar adentro a ventania Prata e prata no celeste horizonte Manto líquido, tua sabedoria Áspero, feroz limpa o Flegetonte. Olha a pedra do flamejante prenúncio Do grande Astro que o braço repousa A ocre cor que em seu leito se esconde Salva-se o mar perene de silêncio.

Tua Palavra

Palavras como fios E teus dedos costurando Um caloroso manto Para minha sombria alma. Palavras, que como pão Desta tua fome tão antiga Onde cada sílaba que canta Vira a ceia da minha calma. Palavras, como tuas mãos Que quando escreves meu nome Eu sinto O calor do teu gentil enlaço. Palavras como a brisa A brisa que te trouxe até mim No alívio das noites infernais Na doçura dos teus braços. E se ousa um dia duvidar Da força daquilo que escreve Lembra: O mundo que antes era só escuridão A vida que antes era nada Começou tudo, até amor Pela Palavra.