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Picadeiro

Cá está senhores
O bilhete de entrada
Deste circo de horrores

O espetáculo está aberto
Ali que jaz diante
Não é um homem
Homúnculo das dores

O sangue ferve mas não sente
Cadáver rastejante
A filosofia da vida reticente

Este será o evento final
Caiam as cortinas e no fim
A tudo botem fogo

"Respeitável público
A criatura que aqui se apresenta
É o mais indomável dos seres
Que se lhe arranque a pele
Com o chicote da verdade
Venham senhoras, venham senhores
Não que haver piedade!"

Deixai que as cinzas pairem sobre o ar
Que caiam intrusas em seus pratos
Em seus copos de bebidas
Em seus festins absolutos

Que falhe a respiração do homem
Que sofre do edema pulmonar
E que ele se queixe
Deixa assim, deixa estar.

E que caia a lona
Deste picadeiro horrendo
A vida é um grande palco
E nós somos o teatro

Pierrot é a minha Colombina
Nessa sequência de Arlequim
A vida é um grande trato.

Fecha esse contrato quanto ele mais se estende
Assino aqui, passa o negócio pra adiante
Tem leão, tem macaco e tem elefante
Só não tem gigante
O homem não é homem
É homúnculo, um pequeno anão.

O dono do picadeiro se fechou na urna das facas
Trancou-se a sós, com um cadeado
[que ninguém mais sabia abrir.

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