Estou com uma angústia entalada em mim, o dia inteiro. É um acúmulo de emoções, um choro que não sai. Um choro de desespero, dor, sofrimento e empatia.
O contexto é o seguinte: estamos vivendo no meio de uma pandemia de um vírus derivado da Síndrome Respiratória Aguda Grave, o SARS Covid-19. Esse vírus, primeiro, pelo menos do pouco que sei, se espalhou na China, em 2002, e acabou resultando em uma pandemia entre os países do norte. Porém, o Covid-19 tomou proporções absurdas. O nível de contágio desse novo vírus é muito maior, ele se espalha com muito mais velocidade, e por essa razão, a solução para a contenção do vírus foram decretos de quarentena vindas de quase todos os governos mundiais, ressaltado quase que de hora em hora pela Organização Mundial de Saúde. O problema todo é que neste ano de 2020 o nosso presidente é o Jair Messias Bolsonaro, eleito com pouco mais de 30% dos votos em 2018. Junto com ele ganharam protagonismo também algumas figuras, começando com os seus filhos, Carlos Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro e Flávio Bolsonaro. Também vieram na conta Joyce Hasselman, uma ex-jornalista da revista VEJA que foi demitida por acusações de plágios em reportagens, e uma cidadã comum, de classe alta, chamada Carla Zambelli. Quase uma socialite que ficou famosa por causa das manifestações contra Dilma Roussef em 2016. Ela, Carla Zambeli, estava entre muitas pessoas que fizeram acampamento debaixo do prédio da FIESP, na Avenida Paulista, dizendo também que só sairiam de lá quando a presidente Dilma fosse impedida do cargo. Isso era só o início de um novo capítulo hediondo da história do Brasil.
Com o caminho livre, estas pessoas que conclamavam contra um governo popular como o PT (que de popular não tinha nada, uma vez que fez acordos com pessoas que não se preocupam em mudar o cenário político que beneficia as elites financeiras do país), com o caminho livre, estas pessoas tomaram a frente da luta política sob um lema de anti-corrupção que só convence quem ainda sofre da patologia da ingenuidade.
O resultado, para ser breve, é um cenário de terror, medo e desinformação, perpetuado principalmente pelo presidente, e alimentado pelos seus apoiadores que parecem não entender qual o conceito de realidade.
Um dos exemplos é o estado de Manaus que entrou em colapso no sistema de saúde e agora empilha corpos que esperam ser enterrados em valas comuns, chegando ao absurdo de ter que encomendar caixões de outros estados, porque já não conseguem mais dar conta dos números. E enquanto isso, a mesma Carla Zambelli espalha em rede nacional que os caixões das valas comuns estão vazios para causar pânico na população. São pessoas que estão no poder e que jogam com as vidas de uma população que sempre foi indiferente à informação e ao conhecimento. Eles usam a ignorância contra o próprio povo, de forma perversa, cruel, mentirosa. Como verdadeiros pastores charlatões de Igrejas Fundamentalistas, que clamam ao povo que façam sacrifícios pela sua fé, eles agem da mesma forma, porém, com um discurso patriótico. Mas nenhum deles está na linha de frente. Eles se escondem debaixo de seus cargos e seus privilégios, e jogam a população na morte e na ainda maior miséria.
Outra figura grotesca é o ministro da economia Paulo Guedes que declaradamente odeia os pobres que a própria estrutura social do país criou, não perdendo jamais uma oportunidade de demonstrar seu desprezo pelo funcionalismo público ou pelas pessoas da baixa classe. Para pessoas como ele, cada classe social tem o seu devido lugar, e o do pobre é sempre debaixo das botas dos patrões, e estou longe de fazer aqui militância comunista. Porém, vivemos no mundo de hoje essa maldita guerra de narrativas que coloca a sanidade de qualquer pessoa consciente à prova. Eu me sinto frágil e desesperado, porque agora eu pago pelo pouco conhecimento que eu tenho de combater esse tipo de coisa. Eu nunca havia sentido antes, com tamanha legitimidade, o peso da maldade, e é por isso que estou sofrendo.
Eu estou vendo de verdade, na minha frente, quando leio os jornais, quando vejo estas pessoas se pronunciando, eu estou vendo o que é a maldade.
E não estou agindo como uma pessoa que nunca soube considerar que existe um extermínio de grupos no meu país, como negros, indígenas, mulheres e homossexuais. Existe. São pessoas que, para o estado, são invisíveis, não merecem consideração. É de me dar vergonha viver num país que tem índices tão altos de homicídios, e que, na maior parcela, tem alguma pessoa dos grupos que eu mencionei. Sim, me dói demais. Eu me sinto um fraco e um covarde preso em casa sem poder fazer nada. E imagino o quanto as pessoas sentem vontade de por as mãos em qualquer um desses nefastos seres humanos que se escondem atrás das malhas do poder, e que se fazem valer de discursos de defesa e legitimação das suas atitudes. É um sentimento de asco muito forte.
Não quero bancar o fraco, apenas estou sentindo dor. Sentir dor todo mundo sente, e é como me sinto agora, doído por dentro, doído por ver de forma muito mais clara toda a violência que o Brasil tentou esconder por tanto tempo.
A ideia de patriotismo me dá vontade de vomitar. Esse conceito só poderia partir da mentalidade infantilizada de adultos idiotas.
Estive lendo sobre isso hoje, sobre o quanto a indústria atual considera tolerável adultos que querem ter uma juventude eterna. São pessoas infantilizadas e que tem atitudes imaturas, que não sabem ser contrariadas nem mesmo em seus ambientes de trabalho. E são estas as pessoas que se consideram sãs o suficiente para eleger os seus líderes. Levando em consideração o processo de construção dessa mentalidade de adultos imbecis, não me espantaria o cenário, porém, não deixo de lamentar. Se alguém ainda duvida, é só se lembrar da última vez que viu uma discussão sobre qual super herói é mais poderoso na internet.
Eu me lembro mesmo de uma situação assim na minha vida. Eu estava falando no Facebook o quanto odeio o jogo Kingdom Hearts por ter estragado a minha franquia favorita, Final Fantasy. E logo vieram os defensores do Kingdom Hearts me atacar como se a minha declaração tivesse sido um ataque pessoal à honra deles, e entre estes estava o Douglas. Eu senti que ele se aproveitou da oportunidade para até mesmo disparar contra mim algum tipo de rancor antigo. E quando ele disse a última ofensa, eu parei e pensei comigo mesmo: "por que infernos eu estou discutindo sobre um jogo para crianças de 13 anos de idade?" Eu senti uma tremenda vergonha e apaguei a postagem. Acho que ainda demorei uns 2 anos para sair do Facebook. Pois é, eu sou desses. Não tenho Facebook e nem Instagram. Também não tenho twitter, nem mesmo Tik Tok.
O Facebook eu não tenho porque se tornou um espaço extremamente tóxico de pessoas que alavancam opiniões sem fundamento. Eu tentei ter um Instagram para alavancar uma terapia pessoal de tocar uma música favorita por dia. Até funcionou, mas logo começaram a surgir pessoas indesejadas, então eu encerrei também. O twitter é uma rede social para pessoas que tem algo a dizer todo dia, e eu preso muito pelo meu silêncio sazonal. Não tenho porquê pensar em algo para dizer a todo momento. Eu fico me perguntando como algumas pessoas conseguem o tempo todo dizer coisas tão interessantes, como o Reinaldo Azevedo, ou o Jones Samuel, ou o Henry Bugalho também. Até mesmo o Maestro Bogs com suas tiradas super sarcásticas, apesar de hoje em dia, eu já me estafar um pouco dessa atitude de estar sempre debochando de alguma coisa. É preciso falar sério de vez em quando. Por essa razão eu não tenho twitter, porque eu não sinto que tenha algo de tão interessante para compartilhar com todo mundo, e eu não sinto a necessidade de ver o que todo mundo está pensando o tempo todo. Isso é até insano. Parafraseando o Daniel Gildenlöw, é como se você estivesse preso em uma sala com pessoas que não param de falar por um minuto, a ponto de você não conseguir nem respirar direito.
A única rede social que eu ainda uso é o Youtube, mas hoje senti que preciso dar um tempo. Eu acompanho meus canais favoritos de informação, ciência, política, crítica social, artes, essas coisas. Mas nada muito acadêmico, é tudo muito numa linguagem mais acessível. Acredito que o mais acadêmico que eu posso acompanhar é o Reinaldo Azevedo mesmo, embora eu não diga amén para tudo o que ele fala, apenas tento acompanhar o raciocínio rápido dele.
Entre um vídeo e outro, apareceu uma propaganda de uma rede social chamada Tik Tok. É basicamente um aplicativo em que você grava vídeos fazendo alguma coisa. Mas essa coisa na verdade é algo vazio. São pessoas dançando danças que não dizem nada, ou fazendo esquetes e piadas que não tem graça alguma, com músicas idiotizadas, dando espaço para o desespero do cidadão comum de aparecer de alguma forma, mesmo que não tenha nada de interessante a ser dito. Foi aí que eu tive um estalo e decidi pesquisar sobre o adulto infantilizado.
São adultos que não conseguem levar adiante nenhuma leitura, que são incapazes de acompanhar qualquer raciocínio, ou que, diante de uma crítica séria a uma postura inaceitável de uma figura pública, a resposta deles é "esses esquerdistas só ficam de mi mi mi", ou frases prontas como "chora mais". É como realmente tentar debater com uma criança ainda imatura do que é a realidade, ou seja, é insano. É assim que estamos hoje, diante de uma insanidade em massa, até mesmo uma insanidade e infantilidade voluntária das pessoas. Os exemplos estão aos montes pela internet.
Eu estou cansado. E doído. Lamento demais por aqueles que tiveram que ter o alerta da realidade da forma mais triste que existe: com a morte de alguém querido.