Se a mim coubesse
Ser o resgate deste cântaro
Montado em partes
Despedaçadas em descartes
Se a mim fosse dada esta missão
Veria-me entregue
Perante a ti
Ajoelhada ao chão
Mãos arqueadas ou boca aberta?
Sangue escorrendo pelos braços
Ou néctar desenhando os lábios?
Tanto faz
Teu prazer
Minha paz.
Até que em teu peito encontrasse novamente
O contorno do inteiro que perdeu.
Se a mim, motivo fosse dado
Cataria contigo em cada canto
Em cada esquecida esquina
Os pedaços que são a tua sina.
Roubaria este nada que a noite te visita
E o afogaria no que escorre do meu ventre
Até que o nada disso restaria
Além do vestígio do perfume
Que tua visita deixa hospedaria.
Se eu pudesse, sentaria em tua cadeira
Minhas mãos, teu manto
Os meus joelhos, opostos
Na maciez rígida que me parte
E deixaria ail, chorar
Esvaziar dentro de mim
Até que o sal que cai do nosso corpo
Pernas balançando, meio morto.
Até que lágrima que espera insistente
Traria-nos um sorriso sóbrio, dormente.
Se eu pudesse, daqui debaixo esperneio
Sobe em mim, meu corpo,
Larga esta escadaria!
Cada degrau, se o fôlego te ausenta
Busca em mim, no lábio que apresenta
Cava em mim, meu beijo, o descanso
Deita em mim, teu corpo, meu remanso.
E se o novo pôr-do-sol,
Ainda fosse o mesmo dia
Se ao nada nos viesse,
Prometo, como sempre prometi
Grito como sempre gritaria!
Ficaria
Ficaria
Ficaria!
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