Duplipensar é um clichê da literatura, mas um clichê inquietante e traiçoeiro. Testa nossos limites e nos culpa pela condição de vítima. Duplipensar é revisar a linguagem. Revisar a história abre a possibilidade para novas interpretações dos fatos, mas revisar a linguagem nos torna imunes às sensibilidades. A traição física é uma coisa pífia, porque para mim, ela é a medida do nosso amor próprio, e feliz é daquele que dela se desfaz tão rápido, porque permite atingir uma compreensão da dimensão da relação humana. A traição física só atinge aos que, tristemente, ainda acreditam na própria fragilidade. Eu lamento por estas pessoas que se agarram com desespero à barca que carrega as promessas de uma vida sem dor. A traição física é a dissolução do orgulho, como pó, e que uma vez sentida, dói, obviamente, mas passa. Mas a pior traição a meu ver é a da fé, mais difícil de suportar, e causa maior instabilidade quanto ao futuro. Causa danos sobre o ser, e por um instante, rompe com nossa perc...