Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de janeiro, 2018

A Palavra

E tenho dito Palavras demais que enclausuram o ser Onde as coisas não deixam de ser as coisas Onde as coisas passam a ser uma coisa só Que eu desaprenda a falar Desaprenda o sentido das coisas Desaprenda a utilidade das coisas E me padeça no glamour da inutilidade O coração vende quando dá Não quero Quero mendigar, distribuir sem pudor Aquela coisa não programada Abaixo à recompensa! É anti natural, é insanidade Mas é assim mesmo Antes de tudo, é uma escolha Por que então dizer quando basta? O cheiro do café pronto O cheiro de vapor e sabonete do banho quente A cama ainda quente O sofá ainda quente O corpo quente Um olhar só porque você me viu Aquele olhar que diz: que bom que está aqui E estou em qualquer lugar Não num lugar especial, eu sei Todos os lugares viram especiais Percebemos a validade das coisas Desaprendemos a validade das coisas Ignoramos a validade das coisas Aquele andar pela casa, que salta o coração E você só estava indo pra cozinh

Protocolo de Reboot

Log do sistema: Buscando vestígio de anomalia... Processando cálculo de possível falha... Anomalia encontrada. Detectando localidade e iniciando protocolo de reboot.  Nossa época é cinza e oca, e ecoa, tanto, que os sons de alegria e de tristeza entrechocam e formam um único grande e bizarro lamento. Não existe mais espaço para o poético e belo, assim como não mais a nostalgia das músicas mais loucas do período Hard Rock dos anos 70. Ficamos presos e enlouquecidos nessa combustão filosófica, política e moral. Nessa transformação de eras. Nessa confusão de atitudes e sentimentos de amor, ódio,tristeza e alegria.  - Encontramos os dois, estão ali.  Estacionaram um carro preto sobre o meio fio do parque e apontaram armas de desintegração em nós. Minha nossa, eles usam isso pra escavar minas, para ir atrás do que resta de silício e cobre nesse mundo, e estavam apontando pra nós, como se fossemos o pior dos criminosos.  Quando muito o rosto dela era um rosto inexpressivo, olhos grandes e e

O Morcego

Todo dia Na hora em que o sol se põe Na calada da noite Bem cedo quando o raio bate Passava pelo corredor resignado E ouvia sempre a mesma voz: - Apague a luz ao sair. A teimosia obstinada deixava acesa Era um apreço pela esperança E voava para a vida. Certo dia, a luz, apagou. Aprendeu se ver no escuro Transformou-se e voou Hoje em dia, dizem os que quase notam: Mora no teto, dependurado Observa tudo no sentido contrário da normalidade Desejando lembrar-se a medida do homem de verdade.

Picadeiro

Cá está senhores O bilhete de entrada Deste circo de horrores O espetáculo está aberto Ali que jaz diante Não é um homem Homúnculo das dores O sangue ferve mas não sente Cadáver rastejante A filosofia da vida reticente Este será o evento final Caiam as cortinas e no fim A tudo botem fogo "Respeitável público A criatura que aqui se apresenta É o mais indomável dos seres Que se lhe arranque a pele Com o chicote da verdade Venham senhoras, venham senhores Não que haver piedade!" Deixai que as cinzas pairem sobre o ar Que caiam intrusas em seus pratos Em seus copos de bebidas Em seus festins absolutos Que falhe a respiração do homem Que sofre do edema pulmonar E que ele se queixe Deixa assim, deixa estar. E que caia a lona Deste picadeiro horrendo A vida é um grande palco E nós somos o teatro Pierrot é a minha Colombina Nessa sequência de Arlequim A vida é um grande trato. Fecha esse contrato quanto ele mais se estende Assino aqui, pas