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Mostrando postagens de julho, 2007

Porta Aberta

Saia de imediata prontidão Carregue o seu saco de pedras Pise por cima de minhas lágrimas Atravesse as alamedas mortas do jardim Feche o portão, feche a rua, feche a avenida Mas encontrará no fim da sua vida aqui minha porta aberta. Estarei deitada entre um soneto de perdição e outro Com uma rosa atravessada na mão e outra Copo de medida veneziana e outra Alucinação regurgitante e outra* Ácido na garganta e outra Minha porta aberta. Meu corpo Morto. E outro. E outra.

Alma Traça

Através das prateleiras de uma livraria Descobri em um volume, acho de Madalena Ousadas muito velhas escrituras de Maria Premiada fui então por ser digna de pena. Entre as páginas abertas, a página daquela Em cada uma que folheio outra me espanca Renasço todo dia sempre em forma de Flor Bela De pele reluzente, mas espírito que manca. Achei-me, muito vivas entre as letras corroendo De verniz, enxovalhada identidades às traças Levantei uma garrafa e aos convivas morrendo: - Pela honra deste amor, bebamos as nossas taças!

Um de Isabelle La Fleur

Isso é um caso trágico de vida inconsequente que resultou na minha mudança de cidade. Regado à insônia, vinho (bebida dos loucos pretensiosos), vodca, cigarros e a droga de uma recordação. Ah Letícia, por que me deixou? O seu olhar me olhava de um pra sempre que me deixava estática, segura. Amigas para sempre! Por que foi embora, hein? Hein? Seu cheiro. Tenho saudades do seu cheiro, aquele seu cheiro me lembrava depois de amanhã, que ninguém tem coragem. Eu olhando essa cidade toda amena me lembra você. Um homem cego apoiado em sua vara foi chegando e sentou ao meu lado, de barba e tudo, com a calça jeans amarela batida. Tocou-me a perna na perna. - Escuta mocinha? - como sabe que sou mulher só me pegando na mão? Não saberia dizer de olhos fechados se era a mão da Letícia ou do Rodrigo. Ele nem se conforma, mas amantes são assim mesmo Rodrigo. Não se contenta, se desespera. Olha-me com calmo, olhos cínicos, mentirosos, mas por dentro está em estado de guerra civil, des

Poema de Pedra

No fim Lá atrás, entre a colheita mal feita e o vinho maltrapilho, Construí uma igrejinha de pedra, de São Bananais, Santo meu, criado meu. Jesus Cristinho derrubou as taças, os pratos, as pratas. Na igreja de São Bananais. Cavei com as unhas na pedra o nome do Nosso Senhor. A pedra voltou-se a mim amarela, empoeirada desfalecendo. Fica agora, cai ou não cai. Morre ou não morre. E o morre desmorre da vida desvida que não vai. Nem vem. Nem vai. Entre o vinho maltrapilho, escolhido no mercado, atrás do balcão de carnes e frios. Não tem imagem de São Bananais. Jesus Cristo tomou-me as mãos e salvou-me por enquanto. Mas enquanto eu derramava o vinho, a mão escorrega. Embriagado morre. Escorrega vive. Vai, não vai. Colhi da escolha de Não Bananais. Não, pedra. Sem fumaça de algodão doce cheirando na alma. Não, pedra. A mulher, madura, cheirando a carne mordendo a cruz. Não, pedra. O travesseiro frio, a luz, a luz, a luz... Não, pedra. A boca rosada, cor de curiosidade, lambendo a palma. Lam

Boca

Desce o decote e o suor vivo do teu peito A ânsia amarga cobre a língua do meu leito Mechas vivas meneantes cambaleiam Braços fortes como farinha esperneiam. Boca, vil e doce. Diz palavras da inatingível distância De mãos dadas subimos sete degraus Descemos rolando três E paramos no parapeito do apartamento. Bateu a porta Entrei pela direita Jogou-me suas bonecas de diversas facetas Rodávamos felizes, palavras, caretas. E a sua boca. Entreabertas linhas curvilíneas Baba escorre pelas beiras As carnes quentes laterais Líquido aos conteúdos viscerais. Boca, Dela que dá origem à vida E daí então até à morte Ter-te comigo é plena sorte Mechas vermelhas insanas Rodelas pratas carinhosas Cachos negros agressivos Réguas louras abusivas. Boca de gritos Boca de amor.

Como Se Fosse o Último Adeus

O ano era 2007. O ano de dois mil e sete. O pretenso, extenso, arrastado ano de dois mil e sete. Pareceu para mim aquele ano uma eterna tarde de sol, ou nas minhas próprias definições, um repleto tédio que estava longe de terminar. A poesia subjetiva está fortemente ligada às dores íntimas de quem escreve, mas entender o que está nas entrelinhas se eleva para uma compreensão de um momento que pode ser comum a todos. É interessante quando eu lanço meu olhar em meu próprio passado, e percebo que muito do que senti naquela época eu já sinto de uma forma diferente hoje, e pensar que evoluí em virtude de certo amadurecimento. O não saber do que ser, e ao mesmo tempo a vergonha de sentir uma dúvida tão pequena num mundo de problemas tão grandes. Ou o sufocamento que sentia por me envolver em relacionamentos sem futuro, com excesso de cobrança e pouco retorno emocional. Ao mesmo tempo vendo ser esmagada sem piedade a fantasia mais mentirosa que a idade adolescente cultiva: amizade. Melhor diz

Saudade

Meu coração não é meu Está em toda parte dos caminhos que andei. Cada um carrega um pouco do que é seu. E como parte do que foi despedaçado, aquele com meu zelo está guardado, Pois tudo o que vivi de cada é preservado. E há aqueles quem sem aviso me roubaram Sua parte ditatória vontade, Pra que causasse a dor que nos separam. Mas tal dor que se descreve em meu peito, É o amor que agora tem seu leito, Nas lembranças do pobre dilacerado.

Redundância

 Vai o poeta rolando a ladeira Passa por si mesmo Bate na cadeira Volta pelo povo Para na madeira E vai o poeta rolando na cadeira Bate pelo povo Passa na madeira Volta por si mesmo E volta pra ladeira E volta o poeta rolando na madeira Bate em si mesmo Chora na ladeira Volta pelo povo Morre na cadeira.

Mundo

Daí de baixo de tudo Com olhos virgens Boca baba Respira e arfa. Coraçãozinho brando Sonho meu mundo infantil O petróleo baixou o preço. Mas tem o sapo perto da guia A bolinha rolando na pia O doce grudando na mão O balão no infinito sumiu! Sonho meu mundo infantil.

Casa de Espelhos

Desperta da erupção Tuas mãos leves tocam meus ouvidos Ardem ainda as marcas nas costas Escorre-me a vida pelo lençol Sorriso débil de encantamento Mas é um espanto! Choro convulsiva desespero! Apavorada por ingrata atitude Pois trocou todo o amor que tenho Por essa vil casa de espelhos.

J'aime la femme

E s cusa-me imenso amor, oh Lídia D e sfaço da minha vida inteira E x cessos de estupor, perfídia M o mentos de mania trigueira. E c rustrada no canto do quarto V o u remoendo as faces molhadas A m adas vezes gestos amada E por vezes sempre apedrejada S a lvo teu amor pela certeza A m enizada sempre beleza F o me sentida pelo teu beijo O r a de amiga, ora desejo.

Noites

Parto do egocentrismo esmero rutilante Palavras sem sentido vulcões erupções Artes geográficas parábolas diastráticas Meninas solitárias vis acontecimentos Espaços vazios erros tormentos Tudo o que eu quero é um beijo seu Tua boca rósea de seda Teus medos morais Tuas vozes imortais O amor à minha imagem e semelhança.

Às Flores

Quem olhar para o céu agora Verá uma aura cor de rosa Cor de qualquer coisa Como o arco-íris. E qualquer seria se fosse qualquer coisa O mel em meus lábios É ferrão nos dos outros Pois olhos de flechas Não atingem a armadura dos nossos corações. E estes mesmos olhos que consigo colidem E qualquer coisa não verão Pois o amor que falsamente se propaga E nestes vis olhos se estraga Como doce fruto em meu peito se aloja. Trazendo-me das mais impuras noites Desde as mais insanas orgias Em alucinações céticas embrigadas. O mais doce canto de tua mãe Sob a relva que repousa tuas angústias O mais puro encanto de meu pai. O mais doce néctar de teu ventre.