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Mostrando postagens de fevereiro, 2021

Enveneno

Eu sou o veneno do poço Faça força palatal C cedilha cetim Letra trocada Pulsando para o fim O repouso frio  num banheiro de cristal Árvore que enquadra os restantes Apodrece em raíz E devolve em cinzas Queima em chama Lençol branco Encobrindo toda a cama. De joelhos matriarca pronta Perdão nossa senhora Perdão por essa dor Tudo o que toca Vapor A canção acre Amargamente cega Sombra em luz do dia Toca o ouro Vira pedra. A água que bebe do poço Cicuta enfim alquimia Minha quase existência Minha.

O Animal que cura as dores

Era uma vez um animal gigante voador, cujas asas eram tão belas e resplandecentes, maravilhosa e mágicas, que apenas um abraço curaria todas as dores e tristezas. Certa vez o animal foi chamado para um reino a fim de curar as mágoas de toda a nação. Mas o rei, ganancioso pelo poder do maravilhoso animal, ordenou que ele fosse capturado para ser estudado, e quem sabe, aprender o seu poder.  Quando o animal chegou no reino, ao invés de ser recebido com alegria e presentes, como era de costume, ele foi recebido por lanças e flechas. Um menino órfão que estava ansioso esperando pelo animal, e era encantado pelo animal, se jogou na frente das flechas e lanças, mas por ser muito pequeno, não conseguiu salvá-lo. O menino chorou a noite inteira, a ponto de manter todos da cidade acordados. Após horas chorando, o menino se cansou e finalmente conseguiu dormir. Naquela noite ele teve um sonho com o animal, e implorou para que voltasse à vida para que pudessem brincar, para que o animal pudesse c

A Única Coisa

Abdiquei de toda a ostentação Poderia ter sido rainha das arábias Perdida em meu próprio deserto Mas não, Não desejei não. A única coisa pela qual O meu vil coração implora Vil de tanta mágoa No passado e no agora Repleto de cicatriz A única coisa  A coisa que sempre quis Foi apenas ser amada.

Em Defesa do Mundo da Lua

Ele vive no mundo da lua! Ele é sonso! Esse aí vive olhando pro nada com a boca aberta. São estas as frases que eu mais escutei quando era criança.  Estava fazendo uma observação de aula pro meu curso do CELTA. A aula aconteceu numa turma da Espanha, entre crianças de 9 anos de idade, e o objetivo era apontar características do comportamento das crianças durante um aula, analisando os aspectos como Energia, Motivação, Concentração, Criatividade, etc. Eu pude ver crianças levantando da cadeira, crianças se apoiando sobre a carteira, crianças que mexiam as mãos ansiosas, crianças que pareciam que tinham uma energia tão intensa presa, que estavam a ponto de explodir... instantaneamente eu fiz uma conexão com a criança que eu fui. Eu posso estar enganado na minha análise, mas se eu pudesse ver de longe, eu diria que eu era uma criança retraída e que continha um universo imaginário preso dentro de si. Mas eu me lembro ser uma criança que imaginava tudo. Eu não consigo pensar hoje numa crian

Felipe Neto e a Literatura Brasileira, Júlio Cociello e o Racismo: A Jornada do Coitado

 O Youtuber, de modo geral, é a representação máxima daquilo que eu posso chamar de "o último prego no caixão da Educação Pública". Nosso país nunca reconheceu a necessidade de se aplicar políticas educacionais eficientes, a começar pelo principal, que é responder a pergunta que todo aluno já fez a si mesmo ou aos professores: pra que eu preciso aprender isso na vida? Eu vivo num país que é majoritariamente pobre, desorganizado e tem uma relação inescrupulosa, imoral e questionável com o dinheiro, o poder e a religião. E por mais que eu odeie o uso do termo, o topo da hierarquia, aqueles que estão nas esferas do poder, não se preocupam com a imagem que eles transmitem para as demais camadas sociais. Os ricos e poderosos do Brasil não se restringem a esfregar na cara de todos os brasileiros a sua vida de luxos e pertencimentos. É um terreno fértil para o surgimento de mitos e ilusões. Ilusões tais como a ilusão da riqueza, do dinheiro, do ter poder de compra e consumo. Ilusão

Mal Amada

Eu passo oitenta e cinco por cento do meu dia em cima do travesseiro do sonho. Eu sonho com justiça social, com o fim da desigualdade, com um mundo mais pleno de empatia, um mundo menos preocupado com a imagem ao invés da essência. Eu especialmente sonho com um grande amor. Eu perdi todos os meus. Eu sonho com um amor que comece agora, e seja tão puro e pleno, que não existirá o ontem e nem o amanhã, e ele estará aqui. Eu sonho com um tipo de amor que já entenda que sou imperfeita e cheia de temores. Eu sonho com um amor que considere minhas feridas e meus medos. Eu sonho absurdamente com um amor onde eu possa me sentir segura, e que possa cuidar de mim. Eu sonho com um amor que não importa a loucura do mundo, ou a minha própria loucura, ele estará ali para me salvar. Eu sonho com um amor que não me culpe e não me condene, e que não me cobre um preço, pois não vou cobrar. Com um amor que não sinta que amar é demais ou insuficiente. Um amor que não me abandone à solidão. Com um amor que

O Beijo

Do tédio  Ao horror da guerra Da existência ou não do céu Ou da certeza da terra A cada uma cicatriz Em forma de marca página Por teu beijo Eu anseio a cura O único toque de acalento Que em todos nós mora. Na palavra esculpida Pela eterna vaidade Ou pela cinza cujo peito inflama Tanto faz Anseio deitar-me em sua cama. É covardia pois renunciar A esta condição de incerteza? Mesmo na tristeza apreciar Que o teu beijo nutre beleza. Não é a moeda que sobra ou falta Nem o amor que felicita Ou o coração que parte em pedra Não é o alimento, a condição  Salvo de conduta É mais uma paixão Uma necessidade Deve haver poesia no amor Na flor No elevador E na cidade Não quero haver poesia Na eternidade.

Oração da Última Hora

Quando me for Se quereis orar Ore Mas não ao homem sentado no trono Nem à nuvem Ou ao céu inalcançável Não é para lá que irei Corre o risco tua palavra De seguir a rota errada Ore ao chão de terra E às flâmulas da água Ore ao calor do fogo E ao toque gentil da rara brisa Ore ao que está fadado ao fim Pois é para lá que irei Na terra sacra Nada de sacrifícios Enquanto temos o chão Exatamente sob nossos pés Ore ao pouco que fazemos Não mitificar aquilo que se foi Dar, pouco porém,   Àquilo que todo dia quase vai Jogai as cinzas ao chão Deixa que a chuva leve para junto De onde estava o pranto do homem bom. Partirei bem Nada fica para mim Partirei de vossas cabeças A todos com o martelo na mão Bate o prego no chão.