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Mostrando postagens com o rótulo Bate Papo

PC Siqueira

Foi extremamente triste a morte do PC Siqueira. Nem toda morte é triste. Há mortes que acontecem, e a tristeza fica na saudade, mas nos sentimos felizes por aquela pessoa ter existido. No caso do PC, eu não comentava nos vídeos dele mas sempre o assistia.  Eu sempre defendi que o PC Siqueira por causa daquele infeliz caso, ele não foi aquilo do que todos o acusavam. PC Siqueira era depressivo, e em quadros graves, quando a doença está fora de controle, o depressivo se torna autodestrutivo, inconsquente, não se permite limites. Isso em todos os aspectos: físico, social, mental, emocional, não importa. A pessoa simplesmente não se importa com mais nada. Eu acredito que naquele comentário o PC já estava tão aquém dos limites do que choca as pessoas que ele foi lá e simplesmente disse. Ele pensou "eu me odeio, minha vida é uma merda, foda-se, eu vou dizer, e foda-se" e ele disse, e aquilo trouxe toda a reviravolta para a vida dele que o colocou nessa rota de loucura e solidão. Es

A Educação Falhou

Um dia um aluno me disse "a educação pública é muito ruim", no que eu respondi "sinto saudades de quando a educação no Brasil era ruim, porque hoje ela é inexistente". Eu não exagero quando digo isso, que a educação falhou. Não me limito apenas à educação pública. Atuei em diversas frentes educacionais: privada, pública, voluntária, cursos livres, e em todas elas, o cenário mais ou menos se repete, com professores completamente desvalorizados. Numa sociedade que presa e almeja apenas o material como qualidade de vida, o que você ganha também determina o seu prestígio. O ganho pessoal e o mérito financeiro estão acima de valores humanos que, sejamos francos, ninguém se importa hoje em dia. Não adianta falar de respeito, amor, sócio afetividade, não adianta. Há uma espécie de máquina de moer humanidade em curso nesse mundo, e os jovens foram cooptados por ela. Deram a eles um protagonismo sem ensinar primeiro o senso de responsabilidade e a importância que isso tem pa

Eu sou uma péssima pessoa

Eu não sou uma boa pessoa. Admitir isso é libertador, pois me livra de uma obrigação moral com quem quer que seja. Não estou vivendo em função de nenhum tipo de virtude pessoal e eu não quero passar atestado de bondoso. Não existo para que as pessoas gostem de mim. Os meus raros amigos me aceitam como sou, sabendo da minha natureza difícil e insuportável, e raramente faria isso, mas viver e ter pessoas que não se deixam intimidar pela minha acidez e desprendimento destas questões da moralidade é libertador. Até às vezes me permito ser grato à vida. Talvez seja a única razão que me desperta este sentimento de gratidão, por eu poder ser a péssima pessoa que sou, e ainda despertar o afeto de raras pessoas que não se deixam enganar pela necessidade de reforçar os seus egos e seu narcisismo em mim. Por isso amizades parecem realmente coisas muito raras.

A quem serve a ciência?

A quem serve a ciência? A quem ela serviu durante todos esses anos? Ela esteve presente na sociedade como uma instituição de conhecimento a serviço das necessidades gerais da população mundial? Ela esteve a serviço do enriquecimento de grandes corporações? O quanto de ciência merecem as pessoas dependendo da sua classe social? O espantoso para mim, em 2020, não foi o motor anticientífico, nem o negacionismo, conduzida pela condução sensacionalista do jornalismo brasileiro, uma prostituição da integridade informativa em troca de views, audiência e publicidade. A população mais pobre, essa massa generalizada e completamente excluída do direito de identidade, de individualidade, uma vez que é definida massa, é essa aglutinação forçada e imposta pelos porta-vozes do saber, esteve sempre aí como objeto de laboratório, e sempre foi excluída do debate científico. A bem da verdade, o cientificismo brasileiro foi tomado pelo corporativismo, pelo autoritarismo e pelo elitismo. Em certo momento p
Às vezes sinto que a depressão virou um acessório, um espelho turvo que muitas pessoas usam e não reconhecem que a carga mental pesada se trata de uma cobrança das emoções mais íntimas contra suas atitudes em relação ao mundo. É mais fácil se queixar de depressão e achar que tudo está contra você quando você toma as piores decisões, onera sua consciência e não leva em conta as consequências das suas próprias escolhas. Gentileza não é uma via de mão dupla, porém, cruelmente, a maledicência sim.

A Série Fundação na Apple TV - Uma hipócrita ironia

Senti muito receio quando vi que a Apple TV está para anunciar o lançamento da série Fundação de Isac Asimov. Não é coerente que uma empresa que atua com base no trabalho de exploração e quase escravidão se atreva a produzir um projeto com a obra de Isac Asimov, que muito provavelmente condenaria as práticas de negócios da Apple. É incoerente, pra não dizer hipócrita. Sempre fico extremamente incomodado com a insistência das emissoras de produzirem séries contando a história de clássicos da literatura, porque isso dá mais endosso para a preguiça de ler. Os livros provavelmente serão comprados para serem deixados como peça decorativa ou souvenirs, sem nunca serem abertos. É presunção, sei, mas conheço quem faz isso. Fundação foi a série que me ajudou a quebrar para sempre meu preconceito com a ficção científica. Quando comecei a ler de verdade, aos 17 anos, era muito seletivo, pois só lia os clássicos, e no mais, os clássicos da literatura brasileira. Só aos 20 anos comecei a abrir um p

Moralismo Cirandeiro

Tenho uma aptidão para a polêmica, confesso. É uma forma de chamar a atenção para mim, eu sinto um deleite silencioso ao ver o circo pegando fogo e as pessoas perdendo o juízo. Pode ser uma defesa, porque, bem, eu não gosto de ninguém, o que é diferente de odiar. É bom deixar isso claro: o ódio é quase como o amor, porque o ódio tem uma parcela de você se importar com o que os outros pensam. Não é o meu caso, eu não odeio ninguém (aliás, estou repassando mentalmente se eu li já escrevi isso em algum lugar aqui, e se por acaso escrevi, mudei de opinião, não é ódio, é só um desgosto mesmo). Eu não gosto de ninguém porque bem, tudo me entedia com muita rapidez, e por isso às vezes eu preciso adereçar provocações ao que muita gente acredita ser importante pra sobrevivência delas. Certa vez estávamos em uma conversa com universitários, o Matheus e eu. O assunto era um rapaz de cabelos longos e coloridos, e ele falando de suas experiências no Japão, e eu juro que ainda não conheci uma única

Em Defesa do Mundo da Lua

Ele vive no mundo da lua! Ele é sonso! Esse aí vive olhando pro nada com a boca aberta. São estas as frases que eu mais escutei quando era criança.  Estava fazendo uma observação de aula pro meu curso do CELTA. A aula aconteceu numa turma da Espanha, entre crianças de 9 anos de idade, e o objetivo era apontar características do comportamento das crianças durante um aula, analisando os aspectos como Energia, Motivação, Concentração, Criatividade, etc. Eu pude ver crianças levantando da cadeira, crianças se apoiando sobre a carteira, crianças que mexiam as mãos ansiosas, crianças que pareciam que tinham uma energia tão intensa presa, que estavam a ponto de explodir... instantaneamente eu fiz uma conexão com a criança que eu fui. Eu posso estar enganado na minha análise, mas se eu pudesse ver de longe, eu diria que eu era uma criança retraída e que continha um universo imaginário preso dentro de si. Mas eu me lembro ser uma criança que imaginava tudo. Eu não consigo pensar hoje numa crian

Cancelamento

Se você um dia cancelou alguém, lacrou ou fez parte da destruição de reputações, parabéns, você se deixou levar pelo comportamento de época criado pela pior geração de todos os tempos. Cancelar é uma cultura da rede social para reprovar publicamente o comportamento de alguma pessoa. Mas para apontar o dedo moral para alguém, sua balança moral deve estar igualmente intacta, e convenhamos, não existe esta coisa no que se trata de pessoas. A questão não é exigir que a pessoa esteja exígua de moral. Eu sou a favor do refinamento moral, contanto que ele não se torne uma justificativa para a acusação alheia, afinal, ninguém está isento de sua identidade moral, e nós temos as nossas crenças e considerações daquilo que enxergamos como certo ou errado. Só se exime de moral aquele que sabe perfeitamente que não é capaz de manter coerência na sua própria conduta por muito tempo. Também se abstém da moral quem ainda não tem a coragem de viver sob seus próprios termos, mas neste aspecto eu consigo

Depressão - Digressão 7 - Aquilo que pode ter me quebrado

 Eu fui uma criança feliz, fui sim, de verdade. Eu não me lembro quando foi que me quebraram. Eu não costumava ter uma memória ruim, eu sabia o meu histórico de cor. Eu tinha uma linha do tempo muito bem clara na minha cabeça, e eu sei que sabia disso porque era comum eu contar minha história para todo mundo, em detalhes, ano a ano. Essa era a minha ideia de socialização. Conforme a gente cresce, copiamos aquilo que mais nos influencia, e isso a gente não escolhe. As pessoas querem acreditar romanticamente que sim, porque afinal qual narcisista que não sonha com sua própria biografia belamente contada na estante? Vamos deixando de lado detalhes mundanos e cotidianos, detalhes que destruiriam o mito que criamos de nós mesmos, para substituir por versões que nosso subconsciente cria para nos proteger dos nossos próprios traumas. Eu sei que isso acontece porque se até em filmes de segunda linha isso é dito, quer dizer que não é mais novidade para ninguém que se interesse pelo assunto. A q

Diego Maradona

A memória mais antiga que eu tenho de Diego Maradona era assustadora: Era a Copa de 1994. Após fazer um gol eu via aquele homem de cabelos encaracolados gritando como um diabo louco em direção à câmera. Porém eu cresci em uma casa mergulhada no preconceito, e o preconceito tem uma resposta rápida a tudo o que é diferente, o medo. Então para afastar o medo, categorizamos. "Que louco" disseram, "isso é a droga" disse outro, e ainda "ele é um cheirador". Pronto, a imagem do Maradona estava criada na minha mente, mesmo sem eu saber direito o que era a droga pra cheirar, apenas sabendo que era ruim porque me disseram que era ruim. Com o passar dos anos mais adjetivos: Maradona é amigo de assassino pelas fotos com Fidel Castro. Maradona nunca vai ser maior que o Pelé. Maradona é violento, Maradona é um grosseiro, mal educado, estúpido, irresponsável, etc. Até que me lembro um emblemático momento em que ele e o nosso maior jogador (brasileiro) de todos os tempos,

Explorando o universo narcisista

Você pode se transformar em uma vítima o quanto quiser, metamorfoseando o mundo inteiro no seu inimigo (como se todos nós tivéssemos esse tempo livre na vida). Nós sabemos o quanto de responsabilidade você carrega e finge que não é com você. Eu te ouço gritar na rua com aquela pessoa, depois que acabou de deixar o seu saco de merda no chão. Chama a atenção, ei, você aí, esse saco de merda aqui acabou de cair da sua mão. Mas é lá que você larga, e o fedor acaba recaindo na culpa de quem está mais perto. E na multidão, como um rato imundo, você aponta seu dedo repleto das lágrimas alheias e diz "foi ele". Você chama quem estiver por perto como testemunha, que pela sedução desse maldito veneno, concorda, eu também vi, foi ele. E assim a mentira se fortalece, e mais uma pessoa se destrói nessa narrativa fraudulenta, a história sofre com mais um capítulo distorcido, e quem deveria sentir o peso do julgamento coletivo sai impune. A biologia, porém, é maravilhosa. A natureza é marav

Gordofobia é a acusação do frágil infantil

A luta por direitos e contra preconceitos transformou as pessoas em uma sociedade frágil, cega, infantil e manipulada.  A sociedade humana é parte do processo evolutivo da natureza, e não indissociável dela, e como espécie parte do ecossistema (embora haja um esforço muito grande de muita gente para pensar que não), nossa tarefa biológica é tentar nos adaptar. Mas como seres sociáveis, nossa adaptação não é meramente de habitat, mas também de coexistência. Firmamos como grupo um ideal de cultura, e partir desse, moldamos os nossos herdeiros para o futuro. Porém, o idealismo cultural nos leva ao embate, ora inevitável, cuja razão está pautada unicamente no estereótipo. Essa seria uma explicação mais juvenil para o preconceito. Entretanto, há formas de preconceito que eu não consigo encarar como tal. Basta você colocar "fobia" em qualquer coisa e pronto, você tem uma nova forma de criminalizar o comportamento humano. Uma das coisas mais patéticas que eu posso encontrar é a gord

Este mundo está doendo

Estou com uma angústia entalada em mim, o dia inteiro. É um acúmulo de emoções, um choro que não sai. Um choro de desespero, dor, sofrimento e empatia. O contexto é o seguinte: estamos vivendo no meio de uma pandemia de um vírus derivado da Síndrome Respiratória Aguda Grave, o SARS Covid-19. Esse vírus, primeiro, pelo menos do pouco que sei, se espalhou na China, em 2002, e acabou resultando em uma pandemia entre os países do norte. Porém, o Covid-19 tomou proporções absurdas. O nível de contágio desse novo vírus é muito maior, ele se espalha com muito mais velocidade, e por essa razão, a solução para a contenção do vírus foram decretos de quarentena vindas de quase todos os governos mundiais, ressaltado quase que de hora em hora pela Organização Mundial de Saúde. O problema todo é que neste ano de 2020 o nosso presidente é o Jair Messias Bolsonaro, eleito com pouco mais de 30% dos votos em 2018. Junto com ele ganharam protagonismo também algumas figuras, começando com os seus filhos,

Pós Verdade com Farofa e Banana

Estou fascinado com a covardia e fraqueza desta geração. Vivemos em uma época em que as pessoas disfarçam sua fraqueza em um ódio fajuto, desviando a verdadeira intenção do discurso: pedem para que não batam nelas porque são incapazes de se defender. Isso é puramente uma metáfora. Entenda por "bater nas pessoas" não a violência física, mas a argumentação ácida. Quando o debate se torna espaço para a simples opinião, não existem mais regras. Mas debater com lunáticos é uma tarefa intelectualmente suicida. A melhor forma, talvez a legítima defesa da dignidade, seja recorrer aos mesmos artifícios. Se você age como idiota e todas as pessoas passam a acreditar que você é um idiota, isso vai dizer mais sobre o comportamento delas do que sobre o seu. Contudo uma vez em que eu vivo segundo a minha própria moral, não é sequer um risco, é nada além do que um alívio.

Muito Além do Conto da Aia

Às vezes tenho a sensação de que algumas pessoas acreditam que assistir ao Conto da Aia é o suficiente para transformar uma sociedade que está alienada de sua própria responsabilidade. Estas pessoas se esquecem de que a história é apenas pura ficção, uma ficção que se estende para além da história em si, porque tudo o que a cerca, depois de concebida, vira um produto. É apenas a comercialização da indignação. Anos atrás eu me lembro de estar caçando novidades numa livraria, quando pego uma capa de um livro que parecia só faltar gritar "pelo amor, me leve daqui, você não vai se arrepender!" Não levei.  Havia não sei quantos alertas de 'Best Seller pelo sei lá qual jornal americano que não leio', e declarações apaixonadas pelos escritores que estavam na moda naquela época, se não me engano era Dan Brown. Vocês se lembram de Dan Brown? Pois é. Acredito que daqui uns 10 anos ninguém vai se lembrar de George R.R. Martin também, então se você encontrar numa capa de um livro

Depressão - Digressão 6 - O Louva Deus em Mim

Depressão é, a grosso modo, uma decisão. Mas é uma decisão forçada. Depressão é um acúmulo de emoções negativas que decidimos segurar, acreditando na ilusão de que possamos resolve-las um dia. Depressão é a doença emocional da culpa e do rancor. Vou citar uns exemplos a seguir: Quando alguém tem um problema conosco, se tivermos um pouco de bom senso, talvez uma dose de coragem, tentamos encontrar uma solução. Claro que há uma parcela muito grande que encontra como solução simplesmente virar as costas e fugir, mas não vem ao caso agora. Pedimos desculpas, tentamos agir bem, encontrar uma forma de harmonizar a situação, mas eventualmente essas tentativas não funcionam, e a tendência mais comum é o surgimento da culpa. Adotamos a culpa para nós mas também queremos encontrar um responsável. A falta de disposição para abandonar o ego e simplesmente deixar as coisas irem embora cria um acúmulo de emoções negativas, essas emoções negativas tornam-se uma carga que cedo ou tarde derrubarem

Haruki Murakami

Não sou de escrever texto de opinião, fico muito desconfortável. Opinião é uma coisa muito etérea, como vapor, como o ar mesmo. Não diria como a água, porque a água é líquida, e ela está sempre se movendo de um lado a outro, e cedo ou tarde entramos em contato com ela. Mas o ar não. O ar, apesar de ser algo bem real, afinal nós precisamos respirar, há vezes em que até nos esquecemos dele. Pelo menos é o que acontece comigo. Eu tenho alergias respiratórias, então só me lembro do ar quando ele está me causando algum desconforto. Acabo tendo que mudar de lugar. Assim é a opinião pra mim. O que isso tudo tem a ver com o título do meu texto? Quando eu era mais jovem as pessoas tinham dificuldade em compreender minhas ideias e opiniões; diziam de mim que eu não tinha uma noção clara sobre as coisas, que eu não entendia as coisas direito e que eu era uma pessoa burra, e isso me fazia sentir muita solidão. Convivi tanto com a solidão que acho que conheço muita bem a maioria dos asp