JK Rowling é uma escritora medíocre. Ela é a gerente de uma franquia fantástica. Então aqui está a minha contribuição. Apresento a vocês: Harry Potter e A Fábrica da Fantasia de Plástico.
Não me venham com varinhas, corujas, feijões de todos os sabores, ou figuras mitológicas reduzidas a uma mera vitrine sem função real. A geração millennial foi sequestrada por um delírio coletivo com cheiro de papel couchê e merchandising canalha. No centro deste vórtex está JK Rowling, a potencialmente aspirante a escritora mais covarde dos últimos anos. E aqui está um grande sintoma de uma das gerações mais frustradas e infantilizadas de todos os tempos.
Na minha concepção muito pessoal, o artista precisa ter coragem para abraçar suas próprias radicalidades, ainda que eu discorde delas, essa radicalidade existe para incomodar. Se não existe incômodo, não existe arte, ponto final. Não existirá quem me faça pensar diferente. Por essa razão que eu digo que muitos textos dos meus colegas aqui são, no mínimo, horríveis. Estou falando com você, Isabelle La Fleur.
E JK Rowling, que não tem sequer o charme da Srta. La Fleur, é uma escritora de fanfic com alto orçamento, covarde travestida de visionária, uma mercenária literária que confundiu a arte de escrever fantasia com a arte de falar de si mesma através de um parque temático meramente performático. E o seu maior feitiço foi convencer o mundo de que criava fantasia, quando a verdade é que ela administrava a sua franquia de lanches fast-food narrativos com sabor artificial de um mito. Eu preferia ter sido atingido com um Avada Kedavra.
Essa não-escritora é a grande embusteira dos nossos tempos, que insiste em existir e permanecer relevante, ainda que seja para opinar sobre assuntos dos quais ela não tem o menor conhecimento, apenas pelo barulho, ainda que isso custe o bem-estar de milhões de vidas. Sim, estou falando sobre as cretinas opiniões transfóbicas. Eu não gosto de ninguém, mas não é digno do meu respeito uma pessoa se esconder atrás da sua horda idiotizada de fãs para exprimir suas opiniões controversas. Se for para fazer isso, faça como JK Rowling pessoa, e não como JK Rowling autora de Harry Potter.
Outro ponto que me incomoda demais é a constante evocação das memórias da infância para justificar sua criação: as histórias com o avô, o passado com o nazismo (alegadamente), a vida difícil antes da fama (de novo, alegadamente) para reforçar esse mito do gênio incompreendido que fez da sua vida a sua própria criação artística. Já vi isso diversas vezes com filmes horríveis como Bohemian Rhapsody ou aquela tragédia moderna da série sobre Roberto Gomez Bolaños. Muito me espanta que o ego da JK Rowling não tenha se expandido para financiar a sua própria série biográfica enaltecendo a si mesma.
Falemos da sua covardia travestida de profundida. A sua - e eu sinto quase náusea por ter que me referir a isso desta forma - a sua obra - oh deus - acena para abuso infantil, negligência familiar, racismo institucional, totalitarismo escolar, fascismo, todos temperos maravilhosos para se trabalhar em uma história. Mas como uma ilusionista dos tempos de Salomão, ela os faz desaparecer, como mágica (você viu o que eu fiz?), sempre que a narrativa exige coragem para levar adiante e se posicionar. Parece uma constante postura de dizer que ela sabe que estes temas existem, mas lhe falta a honestidade de deixar claro de que forma ela, ou até mesmo seus personagens, se posicionam. Tudo é diluído em soluções didáticas e previsíveis, onde a moral é servida com colher de plástico e água com açúcar. Nada é confrontado de fato, e nada é levado ao limite de forma que isso abale o leitor/expectador de suas histórias. Sua coragem termina onde começam os patrocinadores e investidores.
Ela é desonesta com sua própria criação para fins de se manter relevante em épocas em que ela já está ultrapassada. Ao invés de se dedicar a uma nova criação para adereçar pautas que ela diz defender, ela se dobra ao progressismo performático de internet, e reescreve o já escrito, preferindo anunciar anos depois de lançado, que Dumbledore é gay, Hermione é negra, que sei lá mais quem é não-binário - ainda que isso tenha embasamento totalmente nulo na sua história. O ego dessa pessoa é tão extraordinário que, ao invés de se desculpar pelo equívoco, ela se colocou em um empreendimento bilionário de uma nova insuportável franquia apenas para justificar um Tweet. Estou falando de Animais Fantásticos e Onde Habitam. É como se ela fizesse um esforço descomunal para cobrir rachaduras com purpurinas e lantejoulas, ou estivesse assoprando de próprio fôlego para inflar um boneco com bandeiras de causas que ela mal compreende. Uma medíocre operadora de hashtags.
Sim, toda obra respira suas influências. É impossível não ver Raymond Chandler nas obras de Murakami, ou não enxergar Schopenhauer e Émile Zola em Machado de Assis. Seria tolice não perceber a influência da recrudescência anárquica do Punk Rock em tudo o que fez Chuck Palanniuk. Mas Rowling não dialoga, ela é uma saqueadora de ideias alheias. Seus Dementadores sugam a felicidade de quem reconhece os Nazgûl. Sua escola é uma paródia imbecilizada de Oxford. E sua batalha final é uma paródia sem graça do golpe de martelo emocional que é luta sob Gondor em O Retorno do Rei. Isso não é homenagem, isso é cópia, é a disputa de um campo para ver quem é mais criativo, sem um fim simbólico real.
A sua linguagem é uma réplica cansada de senso-comum. Os diálogos soam como uma reprodução pobre de Oliver Twist se encontrando com Lewis Carroll. Aliás, tudo em Harry Potter grita Oliver Twist, a saga do menino pobre que perdeu os pais e enfrenta as desventuras de um mundo violento, para ascender socialmente. A diferença é que Oliver Twist tem a coragem para mostrar as mazelas de uma Londres que escravizou seu próprio povo para justificar o progresso, ao absurdo de empregar crianças para trabalharem em fábricas em jornadas de doze horas diárias. O que Harry Potter fez ao tentar apontar uma crítica ao sensacionalismo jornalístico no que diz respeito à criação de inimigos públicos, como em O Prisioneiro de Azkhabam? Essa ideia morre na praia, vira, novamente, vitrine para a performance dos personagens que não conseguem defender verdadeiramente o que acreditam.
Em Hogwarts, as personagens surgem e somem como fantasmas esquecidos em um cemitério. Roger Davies, o namorado da Hermione, aparece com função mínima e some sem qualquer explicação ou desenvolvimento, como se fosse um fantasma passageiro. Marietta Edgecombe, traidora da Armada de Dumbledore, surge para causar um alvoroço momentâneo e desaparece sem deixar rastros — como se seu papel fosse apenas um tropeço narrativo descartável. Teddy Lupin, filho de Remus e Tonks, é mencionado nas últimas páginas e depois relegado a mera nota de rodapé em spin-offs, um fantasma de promessa nunca cumprida. A subtrama da profecia, que deveria ser o motor da saga, é tão negligenciada que seus efeitos parecem boiar à deriva até o final, criando buracos tão grandes que qualquer tentativa de lógica naufraga. Cho Chang, o interesse amoroso de Harry em dois livros, evapora-se do enredo como se nunca tivesse existido. Percy Weasley some durante anos e retorna como uma aparição episódica que não integra nada de substancial à trama. Os Dursley, imprescindíveis no começo para justificar o drama de Harry, são jogados para escanteio e esquecidos, suas presenças reduzidas a meros cartões-postais de um passado inconveniente. Hogwarts, por sua vez, é palco de subtramas abandonadas como lixo narrativo, somem à vontade, resolvidas por milagres narrativos, deus ex machina sem o menor esforço. Surgem de forma conveniente, para justificar os acontecimentos da trama, como se tudo fosse premeditado, e sem uma consequência verossímil na história. A escrita para centrada unicamente em Harry Potter, e é necessário muito esforço para se afeiçoar a um personagem tão insosso, o que segundo ela, é um reflexo de si mesma. Compreensível. E aqui um dos meus maiores incômodos, ela que provavelmente nunca deve ter lido nada de Roland Barthés. Ela é dogmática com sua própria história, e censura, violentamente, a interpretação e a ludicidade da expansão do universo que ela mesma criou. Ela é uma autoritária da criatividade alheia. É conhecida a história de que ela não só desaprova, como também persegue quem escrevia fanfics baseadas no universo de Harry Potter, ainda que de forma lúdica e não-comercial. Harry Potter, segundo ela, é seu filho amado, e ela não quer que o alterem. Mas se reescrevem até mesmo a própria Bíblia Cristã, ela por acaso acha que está acima da força criativa da humanidade? Eu faria um favor a ela e daria o que ela tanto teme: o ostracismo. O que pensar de uma escritora que censura análises, textos acadêmicos, e responde às críticas com a condescendência de quem acredita ser uma oráculo da própria criação?
Quando criticada, Rowling não debate, ou não inflama sua próxima, e inexistente criação. Ela ataca, ironiza, reage com o orgulho ferido de quem não admite que sua coroa é de papel reciclado. Alimenta hordas de seguidores como uma Joanna D'Arc de Redes Sociais, pronta para incendiar reputações com o sopro do seu ego.
J.K. Rowling não apenas publicou livros: ela pariu um modelo de indústria. Graças a ela, editores passaram a procurar obras "adaptáveis", não obras boas. O objetivo era claro: alimentar o público infantilizado com mundos fáceis de filmar e ainda mais fáceis de vender.
Assim nasceram aberrações literárias como Jogos Vorazes, Artemis Fowl, A Saga Crepúsculo, e outras bizarrices encadernadas que tratam a fantasia como um produto de prateleira. Mesmo obras com algum potencial, como Crônicas de Nárnia ou A Bússola de Ouro, foram arrastadas para esse pântano cinematográfico, reduzidas a roteiros preguiçosos e efeitos clichê.
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