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Mostrando postagens com o rótulo O Lúcido

Uma mentira contada mil vezes...

Não concordo com a fala popular de que uma mentira contada mil vezes se torna verdade, porque ela tem um defeito lógico bem a princípio: se eu disser mil vezes que uma casa vermelha se ergueu e começou a caminhar sozinha em direção à beira da estrada, me agredindo no caminho, a ponto de me machucar, isso não se tornará verdade. Para que essa história se torne verdade, eu preciso primeiro de um aliado, uma testemunha impressionável e que se deixa persuadir pelo que eu falei. Ele não precisa nem mesmo ser meu amigo, apenas um ingênuo que estará ali pra dar sustentação, e às vezes, até mesmo uma impressão de que a minha mentira tem lá sua lógica. Este meu aliado pode dizer coisas assim: "é verdade, pois ouvi dizer que estavam construindo casas mecânicas autômatos, que se movem sozinhas conforme as necessidades do seu dono, e são programadas com defesa pessoal, tudo pelo computador". E pronto. A minha multidão, a minha plateia, as pessoas que eu arrebato com a minha história sedu

Explorando o universo narcisista

Você pode se transformar em uma vítima o quanto quiser, metamorfoseando o mundo inteiro no seu inimigo (como se todos nós tivéssemos esse tempo livre na vida). Nós sabemos o quanto de responsabilidade você carrega e finge que não é com você. Eu te ouço gritar na rua com aquela pessoa, depois que acabou de deixar o seu saco de merda no chão. Chama a atenção, ei, você aí, esse saco de merda aqui acabou de cair da sua mão. Mas é lá que você larga, e o fedor acaba recaindo na culpa de quem está mais perto. E na multidão, como um rato imundo, você aponta seu dedo repleto das lágrimas alheias e diz "foi ele". Você chama quem estiver por perto como testemunha, que pela sedução desse maldito veneno, concorda, eu também vi, foi ele. E assim a mentira se fortalece, e mais uma pessoa se destrói nessa narrativa fraudulenta, a história sofre com mais um capítulo distorcido, e quem deveria sentir o peso do julgamento coletivo sai impune. A biologia, porém, é maravilhosa. A natureza é marav

Gordofobia é a acusação do frágil infantil

A luta por direitos e contra preconceitos transformou as pessoas em uma sociedade frágil, cega, infantil e manipulada.  A sociedade humana é parte do processo evolutivo da natureza, e não indissociável dela, e como espécie parte do ecossistema (embora haja um esforço muito grande de muita gente para pensar que não), nossa tarefa biológica é tentar nos adaptar. Mas como seres sociáveis, nossa adaptação não é meramente de habitat, mas também de coexistência. Firmamos como grupo um ideal de cultura, e partir desse, moldamos os nossos herdeiros para o futuro. Porém, o idealismo cultural nos leva ao embate, ora inevitável, cuja razão está pautada unicamente no estereótipo. Essa seria uma explicação mais juvenil para o preconceito. Entretanto, há formas de preconceito que eu não consigo encarar como tal. Basta você colocar "fobia" em qualquer coisa e pronto, você tem uma nova forma de criminalizar o comportamento humano. Uma das coisas mais patéticas que eu posso encontrar é a gord

Eu Odeio a Bíblia

Não gosto da Bíblia. Começo o texto com a conclusão mesmo, pois bem, é o meu texto. Agora explico o porquê, afinal é, este, daqueles temas que precisam se dar a explicação dos seus motivos ulteriores. Quis começar também assim, pomposo, com falas difíceis, mas eu vou deixar aqui o meu dicionário de vocábulos aristocráticos no chão e seguir falando como sempre falo mesmo. Acredito que os que devem explicação aos outros são aqueles cujas ações refletem alguma influência sobre outra pessoa ou grupo. A estes precisamos sim dar uma explicação do porque fazemos o que fazemos. Mas quanto à Bìblia, religão, Deus, a estas coisas, eu sofro de um profundo incômodo de me explicar, afinal, pensando de uma forma muito, mas muito prática, não faz diferença alguma minha justificativa da descrença. Crendo eu ou não se a Bíblia é um livro sagrado ou apenas um compilado mau gasto de papel de jornal e versos mal elaborados, o mundo continuará a seguir. Era o que eu gostaria de acreditar, se as pessoas con

Humildade: arma de colonização mental

Quando temos a oportunidade de ter contato com alguma figura pública que admiramos, seja ele um artista, um intelectual, um esportista, criamos uma expectativa quanto às atitudes da figura. É muito comum pessoas se declararem repudiadas por artistas que não tem humildade. Eu me lembro de um artigo no  Whiplash  ( link ), aliás, um site de jornalismo musical muito fraco, em que o escritor Adriano Ribeiro, um fã inveterado de Iron Maiden, se mostra indignado com o comportamento do baterista dos Beatles que fazia uma série de shows no Brasil, em 2011. A manchete era bastante apelativa, como quase tudo no Whiplash. Dizia "Beatles: baterista ignora fãs em São Paulo". A queixa do Adriano era pelo fato de Ringo Starr não ter parado para dar atenção aos fãs que faziam campana na frente do hotel em que ele estava hospedado. Ele cria uma narrativa de um fã de 17 anos sonhador que espera ver o seu ídolo, mas tem sua expectativa destruída pela atitude do baterista. E também na reportagem

Corona Vayrãs: A Grande Comédia Brasileira (That shit IS real man!)

Eu não sou idiota, negacionista, ou cego. Eu sei o que se passa no mundo atualmente. Sei que estamos vivendo no meio de uma pandemia virológica, e que isso pode ser um dos maiores desafios que já vivemos nesse século. Não sei dizer se da história, como muitos jornalistas gostam de manchetear para ganhar a atenção das pessoas. Essa ressalva não é para minimizar a pandemia, mas é porque eu não perco a oportunidade de maldizer o veículo de informação. Jornais sofrem do duplo mal de que, ao mesmo tempo em que informam, eles também precisam fazer publicidade, então daí tiramos a nossa alta desconfiança sobre o que eles dizem.  Porém, é este um dos raros momentos em que eu poderia dizer que a imprensa é uma das poucas instituições que tem exercido um papel crucial para superarmos este momento, juntamente com a divulgação constante dos cientistas, em que sequer um simples espirro parece passar longe da documentação criteriosa, pois não estamos vivendo um momento comum. Fala-se até em solidar

Pós Verdade com Farofa e Banana

Estou fascinado com a covardia e fraqueza desta geração. Vivemos em uma época em que as pessoas disfarçam sua fraqueza em um ódio fajuto, desviando a verdadeira intenção do discurso: pedem para que não batam nelas porque são incapazes de se defender. Isso é puramente uma metáfora. Entenda por "bater nas pessoas" não a violência física, mas a argumentação ácida. Quando o debate se torna espaço para a simples opinião, não existem mais regras. Mas debater com lunáticos é uma tarefa intelectualmente suicida. A melhor forma, talvez a legítima defesa da dignidade, seja recorrer aos mesmos artifícios. Se você age como idiota e todas as pessoas passam a acreditar que você é um idiota, isso vai dizer mais sobre o comportamento delas do que sobre o seu. Contudo uma vez em que eu vivo segundo a minha própria moral, não é sequer um risco, é nada além do que um alívio.
As dificuldades são reveladoras. Elas desmascaram as aparências, destroem as mentiras e apagam as ilusões. São as dificuldades que aparecem para me mostrar a vida como ela realmente é. A reação diante da dificuldade é o que determina o tipo de pessoa que eu pretendo ser, e logo, o tipo de pessoa que convive comigo.