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Eu Odeio a Bíblia

Não gosto da Bíblia. Começo o texto com a conclusão mesmo, pois bem, é o meu texto. Agora explico o porquê, afinal é, este, daqueles temas que precisam se dar a explicação dos seus motivos ulteriores. Quis começar também assim, pomposo, com falas difíceis, mas eu vou deixar aqui o meu dicionário de vocábulos aristocráticos no chão e seguir falando como sempre falo mesmo.

Acredito que os que devem explicação aos outros são aqueles cujas ações refletem alguma influência sobre outra pessoa ou grupo. A estes precisamos sim dar uma explicação do porque fazemos o que fazemos. Mas quanto à Bìblia, religão, Deus, a estas coisas, eu sofro de um profundo incômodo de me explicar, afinal, pensando de uma forma muito, mas muito prática, não faz diferença alguma minha justificativa da descrença. Crendo eu ou não se a Bíblia é um livro sagrado ou apenas um compilado mau gasto de papel de jornal e versos mal elaborados, o mundo continuará a seguir. Era o que eu gostaria de acreditar, se as pessoas conseguissem aceitar a sua condição natural de que fazem parte de uma cadeia, e não estão fora ou além dela.

Porém, quando pegamos a fé em Deus, e na Bíblia, como uma razão que move ações, e estas ações afetam a outras pessoas, então o ateísmo torna-se muito mais do que uma escolha pessoal, mas sim, uma militância. A ideia de explicar a falta de coerência na Bíblia e em Deus não está pautada na indigniação em Deus ou na Bíblia propriamente ditas, afinal, estes são a mera simbologia de algo muito maior, que é a religião que os usa como bandeira para justificar práticas. Explicar as razões da descrença começa quando percebo que a religião se tornou uma justificativa de criar uma unidade mitologica de povo, desrespeitando a escolha pessoal e individual, promovendo a intimidação para que os cidadãos estejam submetidos à crença em nome da Pátria. Se você não crê na mesma coisa que nós, você deve ser eliminado. Não, eu não, eu jamais! Não vivi até aqui ignorando e repudiando estes patetas para que de repente, sem que eu nada tenha feito intencionalmente (eu fiz intecionalmente) mereça sofrer a ameaça de desaparecer, mesmo talvez nunca mesmo tendo existido.

Se no meu país atualmente eu vivo sob o risco de um Estado Teocrático, em outras palavras, um Estado que é regido pelas leis e regras baseadas numa religião, aqui no caso, a religião Cristã, então me poscionar contra esta religião é defender o meu direito de viver em um estado que aceite pessoas como eu, que não acreditam em absolutamente nada etéreo. De nós cinco aqui do portal, apenas outros dois concordam comigo, embora eles me irritem profundamente em suas paixões obtusas, mas nesse assunto somamos força, por mais que isso me desperte uma vontade muito, mas muito grande mesmo, de me deitar na cama e nunca mais sair. Seguindo.

Eu acho (sim, é opinião mesmo) que depois de tanto ler e tentar entender (um esforço Homérico), eu acho a Bíblia um livro execrável, extremamente hediondo, destes que nunca deveriam ter sido retirados da estante, e lá deixado esquecidos, que a humanidade seguiria adiante talvez muito mais saudável e pacífica. Odeio a Bíblia, em toda a sua concepção, como um livro muito mal escrito, muito mal elaborado, e às vezes tão confuso que parece ofender a minha inteligência.

Não consigo levar a sério um livro que não se decide no que pode ser considerado Céu, Inferno, Paraíso, Vida, Morte, Luz, Trevas, misturando tantas simbologias e roubando tantas  manifestações religiosas de tantos povos distindos que no fim das contas não tenhamos uma clareza do que este livro quer de nós. Se a palavra Deus é loucura para os homens, acho que deveríamos fazer o que fazemos com todos os loucos, ou ignorá-los à própria sorte, para deles tirarmos um deboche de vez em quando, ou metê-lo num manicômio. Acho que talvez seja este o motivo de os adoradores de Deus e da Bíblia serem tão estúpidos e incoerentes, e igualmente loucos e doentes. Se até aqui você ainda duvida que a minha fala está repleta de repúdio, então eu entendo porquê ainda ache a Bíblia um livro valoroso.

Há quem diga que no Cristianismo e no Judaísmo não exista inferno, que é apenas o lugar para onde foram levados os anjos que se rebelaram contra Deus. Há quem concorde que Deus, bondoso como é, não aceite passivamente que o seu fiel seja torturado eternamente num lugao de fogo apenas por ter cometido um pecado. E há quem concorde que essa mesma lógica se torna incoerente quando pensamos nos que pecaram de forma tão contudente e aterrorizante neste planeta, como os assassinos, os cruéis e maldosos de coração, os que dizem que desarmamentistas bons são desarmamentistas mortos em nome do senhor Jesus Cristo, como o genial Paulo Kógos, que ainda assim fico confuso se o inferno deva ou não existir para estas pessoas. O inferno é algo real ou uma construção? E se ele é uma construção, como muitos historicamente o defendam por causa do estudo deste ou daquele pesquisador medieval (que eu não vou me dar ao trabalho de ir atrás, porque eu não quero provar que a Bíblia é falsa, apenas justificar o porquê odeio este livro), por que mesmo sendo construído socialmente e culturamente, o inferno, o lago de fogo, ainda é mencionado na Bíblia?

Há teses (eu acho) que defendem que a palavra Inferno foi uma tradução indevida para inserir o conceito no Cristianismo moderno, me dando aqui um motivo a mais para detestar esta obra. Licença poética is a bitch, diria Beyoncé (de novo, eu acho). Porque se o criador desta obra mesmo disse que ninguém deverá acrescentar ou remover palavra porque será punido com a Ira de Deus, seja lá como for, aquele que acrescentou a palavra Inferno no livro deve estar passando por boas coças divinas. Mas aqui, Deus, perco mais uma vez o respeito por você, por permitir que isso aconteça, afinal, se o permitiu, não só não é lá tão grandioso, como também poderia dizer que é um tremendo de um mosca morta iletrado. Eu sinto que Deus não deveria ter, jamais, adentrado no competitivo mercado literário, com uma obra de tão mau gosto assim, porque já não basta a raiva que passamos com George R Martin e suas Crônicas do Gelo e Fogo. Que ninguém cultue a Ordem dos Cavaleiros das Sombras ou coisa assim no futuro.

Mais um motivo para detestar esse livro é a repetição da mesma história, como Mateus, Marcos e Lucas. Ainda que haja uma história original, um remake acaba sendo pior do que o outro. Não faça, Deus, como o fez George Lucas com sua obra Star Wars. Termine sua antologia e não a venda a mais ninguém, pelo menos é o que eu faria.

O que falar, por exemplo, de Jó, e que história é aquela afinal? Para provar que ele seria leal a Deus até o fim de sua vida, permitiu Deus que o diabo tudo lhe roubasse. Deus negociando com o Lúcifer mesmo, para este testar a pessoa. Sabemos quem é o tipo de pessoa que sempre testa a lealdade alhei para saber o quanto é amado: a estas pessoas chamamos de mimadas, narcisistas e assediadores. Se Deus vivesse no Brasil estaria enquadrado no Artigo 203 do Código Penal. Se Deus é Brasileiro, ele não respeita as nossas leis. Talvez por isso nosso presidente atual, Jair Bolsonaro, goste tanto dele.

Este é o problema destes livros antigos cujo autor ninguém sabe quem foi.

E se eu precisasse de um catálogo de nomes incompreensíveis que ninguém se importa, como em Levítico ou Números, eu não me dedicaria à escrita, eu teria virado funcionário dos Correios ou da Previdência Social, embora ambas instituições já estejam falidas, e aqui talvez possamos fazer, finalmente, uma relação de coerência. Se for esse o destino de quem segue desta forma, então cabe a mim ter a esperança no fim desta instituição circense também chamada religião cristã.

E quanto ao Rei Davi, que mesmo levando seu próprio povo à morte e às desgraças com sua covardia e falta de responsabilidade, tendo ido se esconer numa caverna quando teve suas terras já roubadas, roubadas de novo, eu seria um Republicano a favor de Donald Trump, ou estaria no cercadinho de brasília tendo minha libido instigada cada vez que Jair Bolsonaro se aproximasse, mas eu tenho um pouco de respeito próprio.

Eu odeio a Bíblia, e odeio quem a brande como uma espada que fará a justiça dos povos, afinal essa espada não tem sequer dois gumes, deve existir para lá de cinquenta, cortando até mesmo quem a ergue, e depois culpando quem dela não toma como fonte de vida.

É por isso que eu odeio a Bíblia.

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