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Mostrando postagens de julho, 2021

Numa Quarta-Feira fria em que Nada Acontece

Imagino um mundo onde não há dor Que não tenha som, nem cara nem cor Esse mundo que se embarca com um laço Um portal que se abre igual ferida Um barulho de explosão em minha cabeça Solidão sem necessidade de abraço Um mundo onde não há corpo Ou ele vira cinza, ou ele vira pasto Um mundo que não é impossível Atravessa em embarcação escura Vence-se o medo do umbral Onde a paz é plena, e dura.

Evocação do Nada

Na Rua Oliveira Não há nada a evocar Mãe! - gritava eu Oi - gritava ela Cadê meu tênis de brincar? Vê debaixo da cama Vê na lavanderia Vê lá no quintal Não estava em nenhum lugar Nunca esteve Nunca houve tênis Ou talvez não sirva lembrar Tudo o que eu mais amava Jamais pode existir Recordação imposta Difusa e enlatada Recordação do nada Cortinas de linho Tapete de algodão Terreno baldio O pau e bola na mão Terreno baldio Como as lembranças Do que se acabou pela metade Correram por aí dizendo Diretas Diretas Diretas De retas e caminhos que jamais passaram por aqui Mas bajulamos o abandono e o esquecimento O seu fulano (todos eles eram) que sorria sem a parte da perna Tudo aqui parecia feito pela metade Seu Cirilo não tem perna Seu Fábio perdeu o braço na máquina O Alemão que batia na mulher A gente só ria Não existe raciocínio na tragédia Aqui nunca chegou mensagem, história, ciência ou explicação Mas todo biênio é eleição Aqui tudo é conclusão No mês de outubro Dona Maria e seus dez ca

Laço Amarelo

Arco do rebento O raio do Astro A trompa do anúncio Do Rei do perdão Encontra a menina De pauper pezinhos Lacinho amarelo Em levitação O Rei que outra vez Verteu água em vinho O vinho é sangue O sangue é um pãozinho Caminha sobre águas Da dor do rebento Verto água meu vinho Salvação sangrenta