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Mostrando postagens de abril, 2008

Malrboro

02h00 A.M. - Toma aqui: acende... Está aceso e a chama o consome. Bem pouquinho, vai indo. O vento bate no meu rosto e eu não sinto nada. Estou dormente, morta, só esqueceram de me pôr num caixão. Vai consumindo, aos poucos, aos poucos... Entra a toxina, sai a fumaça branca, pura... sopro um pouco da minha alma em cada vez. Você acaba de consumir mais de 4000 toxinas diferentes, não há instruções de consumo seguro para este produto. Tomei aqui, acendi. Ei demônio! Demônio está aí? Eu sinto que tem um demônio aí fora me rondando e me roubando de mim mesma. É o demônio de fora? Ou o demônio de dentro? Quem é você demônio? Já foi? - Então toma, acende outro. Fshhhh faz o barulho que queima. Consome outro, que logo acaba, aos poucos, aos pouquinhos... É só uma picadinha moça, só uma. Doeu? Doeu. Quero flertar com o anjo bom pra ele preencher minha alma. Deus, Deus! Ajuda a menina que está aqui! Vou ligar para a Lídia. Não... Vou ligar para papai. Não, melhor a mamãe...

Oração à Hlin

Quem pisar no assoalho Através das minhas portas Com andar de quebrar galhos No chão encontrarão mortas As lágrimas derramadas Por olhos secos e falhos Ambas mãos tão gordurentas Tolas. Força fria e pálida. Tão amargas e nojentas, Falsa impressão doce e cálida. Faces vultas macilentas, Lábios murchos língua árida. Na aurora sempre bebo Do mais puro e nobre vinho. No crepúsculo o medo Do incógnito vizinho O fantasma que com o dedo Mi’alma rouba de pouquinho. E aqui permaneço indene, Pr’aquele próximo, esperando, De alma grande e solene Que em seus braços carregando Minha lágrima perene Para os céus irá levando. E no inferno permaneço No chão frio do assoalho Que adormeço, que mereço! Que explodindo entre galhos. Desta vida do avesso De olhos secos e falhos.

Desacostumado

Estou habituado às alegrias complexas: Um olhar de verdade Um toque de verdade Uma voz de verdade. Trocar a noite pelo dia... Não, não. Não é do meu feitio. Encarar a face magenta da multidão E descobrir pacientemente ali no meio Alguma perebazinha digna de nota. Pular de praia em praia Correr de braços abertos E cantar a liberdade (Com notas desafinadas) Abraçar a espuma corrosiva da água do mar Cheirando a enxofre e peixe morimbundo. Rir para o nada Pois o nada é mais engraçado Fazer nada Pois fazer nada, é mais confortável. Não estou habituado A não sofrer como os desgraçados Que se embebedam de livros e idéias E não conseguem debater alguma Pois a música é muito alta E os ouvidos são muito surdos. Só estou habituado à voz Que em silêncio sagrado atinge Os tímpanos da alma doente Que lamenta ao fantasma impassível Aquele que com apenas um dedo Amargura o espírito inquieto. À voz que me tange de água fresca E me faz pensar por hora Que sou imortal.