Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens com o rótulo Depressão

Enveneno

Eu sou o veneno do poço Faça força palatal C cedilha cetim Letra trocada Pulsando para o fim O repouso frio  num banheiro de cristal Árvore que enquadra os restantes Apodrece em raíz E devolve em cinzas Queima em chama Lençol branco Encobrindo toda a cama. De joelhos matriarca pronta Perdão nossa senhora Perdão por essa dor Tudo o que toca Vapor A canção acre Amargamente cega Sombra em luz do dia Toca o ouro Vira pedra. A água que bebe do poço Cicuta enfim alquimia Minha quase existência Minha.

Em Defesa do Mundo da Lua

Ele vive no mundo da lua! Ele é sonso! Esse aí vive olhando pro nada com a boca aberta. São estas as frases que eu mais escutei quando era criança.  Estava fazendo uma observação de aula pro meu curso do CELTA. A aula aconteceu numa turma da Espanha, entre crianças de 9 anos de idade, e o objetivo era apontar características do comportamento das crianças durante um aula, analisando os aspectos como Energia, Motivação, Concentração, Criatividade, etc. Eu pude ver crianças levantando da cadeira, crianças se apoiando sobre a carteira, crianças que mexiam as mãos ansiosas, crianças que pareciam que tinham uma energia tão intensa presa, que estavam a ponto de explodir... instantaneamente eu fiz uma conexão com a criança que eu fui. Eu posso estar enganado na minha análise, mas se eu pudesse ver de longe, eu diria que eu era uma criança retraída e que continha um universo imaginário preso dentro de si. Mas eu me lembro ser uma criança que imaginava tudo. Eu não consigo pensar hoje numa crian

Depressão - Digressão 8 - O Passado

 Há quem diga que depressão é como se apegar a uma corda do passado e nunca largar, nunca deixar que a carruagem siga sem aquele ponto de referência. Quando eu vejo alguém bem sucedido, automaticamente eu vejo meus pais elogiando aquela pessoa, e é como se eu pudesse ver através dos olhos deles que, na verdade, quem eles gostariam de elogiar seriamos nós.  Hoje em dia há elogios sim, mas para mim parecem todos muito falsos, vazios, uma tentativa de compensação, de reabrir o que a vida fechou, ou seja, minhas emoções. As coisas são mais complicadas do que isso. Não é o elogio vago e pouco direcionado que vai me fazer acreditar que eles estão tentando me entender quando, logo mais tarde, há uma tentativa de me manipular, de mudar o que eu sou. Eles são velhos, é o que todo mundo diz. Eles são velhos, eles são seus pais, eles te amam. A todo momento há uma desculpa diferente para que eu tenha que perdoar a constante tentativa de impedir de sermos quem somos. Enquanto escrevo, não falo ape

Depressão - Digressão 7 - Aquilo que pode ter me quebrado

 Eu fui uma criança feliz, fui sim, de verdade. Eu não me lembro quando foi que me quebraram. Eu não costumava ter uma memória ruim, eu sabia o meu histórico de cor. Eu tinha uma linha do tempo muito bem clara na minha cabeça, e eu sei que sabia disso porque era comum eu contar minha história para todo mundo, em detalhes, ano a ano. Essa era a minha ideia de socialização. Conforme a gente cresce, copiamos aquilo que mais nos influencia, e isso a gente não escolhe. As pessoas querem acreditar romanticamente que sim, porque afinal qual narcisista que não sonha com sua própria biografia belamente contada na estante? Vamos deixando de lado detalhes mundanos e cotidianos, detalhes que destruiriam o mito que criamos de nós mesmos, para substituir por versões que nosso subconsciente cria para nos proteger dos nossos próprios traumas. Eu sei que isso acontece porque se até em filmes de segunda linha isso é dito, quer dizer que não é mais novidade para ninguém que se interesse pelo assunto. A q

Diego Maradona

A memória mais antiga que eu tenho de Diego Maradona era assustadora: Era a Copa de 1994. Após fazer um gol eu via aquele homem de cabelos encaracolados gritando como um diabo louco em direção à câmera. Porém eu cresci em uma casa mergulhada no preconceito, e o preconceito tem uma resposta rápida a tudo o que é diferente, o medo. Então para afastar o medo, categorizamos. "Que louco" disseram, "isso é a droga" disse outro, e ainda "ele é um cheirador". Pronto, a imagem do Maradona estava criada na minha mente, mesmo sem eu saber direito o que era a droga pra cheirar, apenas sabendo que era ruim porque me disseram que era ruim. Com o passar dos anos mais adjetivos: Maradona é amigo de assassino pelas fotos com Fidel Castro. Maradona nunca vai ser maior que o Pelé. Maradona é violento, Maradona é um grosseiro, mal educado, estúpido, irresponsável, etc. Até que me lembro um emblemático momento em que ele e o nosso maior jogador (brasileiro) de todos os tempos,

Misericórdia

Já estive tão absolutamente pleno de amor por tantas vezes na minha vida. Eu escrevo muito sobre amor, sobre solidão, sobre o sofrimento que é o abismo entre os dois terrenos, e sobre o marasmo que é a ponte que os conecta. Por quanto tempo trafeguei por estes caminhos? Eu uso o amor como o refúgio pra esse mundo caótico? De que adianta escrever sobre o óbvio? O egoísmo e a mesquinharia de quem está no poder, que não é diferente do que a mesquinharia e a ganância de quem já esteve no poder antes. A arrogância de fazer de si mesmo a licitude em forma de pessoa, com as mãos abertas espalhando as migalhas da misericórdia. E se não fosse o amor, e a capacidade de amar, de saber que ao menos alguma coisa somos capaz de preservar em sua forma original, ou ao menos, de fazer bem, não teria já enlouquecido? Não seriam os criminosos mais sórdidos aqueles que sofreram a vida inteira da ausência do amor verdadeiro? Ou será que me engano sobre mim? Será que em mim eu sou apenas aquele que se conve

Depressão - Digressão 6 - O Louva Deus em Mim

Depressão é, a grosso modo, uma decisão. Mas é uma decisão forçada. Depressão é um acúmulo de emoções negativas que decidimos segurar, acreditando na ilusão de que possamos resolve-las um dia. Depressão é a doença emocional da culpa e do rancor. Vou citar uns exemplos a seguir: Quando alguém tem um problema conosco, se tivermos um pouco de bom senso, talvez uma dose de coragem, tentamos encontrar uma solução. Claro que há uma parcela muito grande que encontra como solução simplesmente virar as costas e fugir, mas não vem ao caso agora. Pedimos desculpas, tentamos agir bem, encontrar uma forma de harmonizar a situação, mas eventualmente essas tentativas não funcionam, e a tendência mais comum é o surgimento da culpa. Adotamos a culpa para nós mas também queremos encontrar um responsável. A falta de disposição para abandonar o ego e simplesmente deixar as coisas irem embora cria um acúmulo de emoções negativas, essas emoções negativas tornam-se uma carga que cedo ou tarde derrubarem

Depressão - Digressão 5 - O Curioso Japão

Eu gostaria de falar um pouco sobre a perspectiva superficial a respeito da depressão, sobre etereotipos culturais, sobre valor cultural e sobre comparação cultural. Não sei exatamente como começar então vou simplesmente deixar o fluxo de pensamento seguir. Um texto precisa de contexto, como uma base, ele precisa de uma apresentação ao leitor, para que ele entenda, como se eu fosse um guia através dos corredores imensos e repletos de portas, em que eu digo "venha, é por aqui, agora venha por aqui, e depois siga comigo por aqui", e em cada porta e corredor que passamos, imagens vão surgindo, para quando nós possamos finalmente chegar em nosso destino, o leitor pense: "ah sim, entendi porque você me trouxe aqui" porque todo o trajeto tenha feito sentido para ele. Mas às vezes este trajeto não fica tão claro assim na minha mente, e não sei como construí-lo para que o destino faça sentido, de certa forma, continue seguindo, eu vou tentar fazer com que as coisas ten

Depressão - Digressão 4 - As Cartas que Salvaram a Minha Vida

Este texto é direcionado aos meus alunos, aqueles que foram meus alunos de inglês no ano de 2017 na Escola São Luís Anglo. Eu me direciono a todos eles. Talvez eles se recordem quando no final do ano eu passei por um período bem vísivel de instabilidade emocional. Aquela instabilidade foi originada por um acúmulo de situações que vinham testando a minha resistência há algum tempo, e são tantas as situações que não compensa listá-las aqui, e talvez nem venha ao caso. Mas o que me segurava e me dava força para tudo o que vinha acontecendo era especificamente um namoro. E quando, em Setembro de 2017, aquele relacionamento de três anos  acabou, eu perdi completamente o chão, como se tivessem puxado a última parte de uma casa que já estava prestes a desmoronar. Antes disso, eu não saberia dizer se meu desequilíbrio era tão visível assim ou se eu ainda conseguia disfarçar, mas depois do fim do meu namoro as coisas simplesmente perderam o rumo pra mim. Foi como se toda a pressão que eu

Depressão Parte 3 - 2014 a 2015 (o que veio depois da separação)

É difícil compor o que veio a seguir, mas se você tem mais de 25 anos, e se você não vive preso nas mentiras de um Instagram ou Facebook, se você não molda os acontecimentos pra que caibam no perfil de uma rede social, então você deve saber, a esta altura, que a vida é repleta de revezes. A expectativa obsessiva nos faz lamentar estes revezes, porém, hoje em dia, eu os agradeço, e até espero que mais deles venham, porque é assim que sabemos que não podemos viver dentro de um caminho pré estabelecido. Estes revezes são nada mais do que pequenos pedaços de realidade que nos caem no colo como uma forte chuva de granizo, alguns deles nos acertam na cabeça, e doem, nos fazem acordar, ver as coisas como de fato são. Pois é, a Kátia sofreu duas perdas, uma mais grave do que a outra, o que a abalou emocionalmente, e alimentou ainda mais um antigo sonho dela, de morar fora de São Paulo. Eu tentei segurar este abalo com tudo o que pude oferecer na época, mas eu sabia o quão imaturo e despre

Depressão - Digressão 2

Estava pensando sobre essa ideia de que a depressão é uma doença social, pode estar ligada à toda dinâmica de relações entre as pessoas. Normalmente uma pessoa torna-se atraente e interessante para outras, não só no sentido sexual, por causa de seus atributos e costumes. Procuramos sempre por pares, por pontos de identificação. Buscamos também pessoas que possam nos acrescentar como seres humanos, afim de prosperar dentro da nossa comunidade. É uma ideia bastante primitiva. Uma pessoa normal começa o seu dia em busca dos seus afazeres. Estes afazeres estão atrelados aos seus objetivos pessoais, uma profissão ou estudo. A partir desses afazeres temos como resultado algum tipo de produção, uma das maneiras usadas para comunicar nossas ideias e emoções. Estas ideias podem coincidir com as ideias e emoções de outras pessoas, e aqui temos um ponto de identificação entre pares, formando uma relação. Parte da depressão tem a ver com isolamento social, quando a pessoa sente uma di

Depressão - Parte 2 (2000- 2014)

Procurei a psicóloga, e tentei reiniciar o tratamento que eu havia interrompido em 2010. É aqui que a memória me trai, então muito do que eu vou dizer pode ser apenas fantasia minha, pra tentar não ir diretamente aos motivos da minha dor emocional. E por isso é tão complicado falar de depressão da perspectiva do doente, porque o doente depressivo está longe de ser um realista. Ele sempre se vitimiza, quando as razões da doença tem mais origem numa permissividade dos eventos, bons ou ruins, e numa falta de imposição de ser. Pelo menos é como eu entendo hoje em dia. Comecei dizendo sobre a minha separação, e, novamente, os motivos são totalmente parciais, pois existe também a dor da separação do outro lado, da minha ex-companheira. Vamos chamá-la da Kátia. A Kátia foi um romance que surgiu na adolescência. Nos conhecemos em 2000, eu acho, numa festa de família. Eu tinha quase 15 anos e ela 19. A razão por eu ter me apaixonado foi a das mais banais para alguém que sofria de uma p

Depressão - Digressão

Por que eu devo adiar a dor dos outros enquanto a minha perdura? Por que eu devo permanecer aqui para que apenas as pessoas não sintam, neste momento, a confusão inexplicável de perder alguém com quem elas se importam? E por que eu importo? Para que eu sirvo? Pelo que eu vivo? Pelo essencial da sobrevivência, da evolução, e das razões para dar como herança o gene útil pela vida, eu não sou de grande valia. Eu não sou um grande pensador, nem um grande inventor, ou uma pessoa chave no direcionamento ou reinvenção da civilização. Essas pessoas que as pessoas tendem a chamar de heróis, ou gênios. Eu não sou nada disso. Eu não sou santo, não sou humanitário, nem mesmo um mentor. Eu não sou nada. Já me foram dadas mais do que evidências. Eu sou apenas um peso morto. Então, por que? Por que continuar? Por que persistir no inevitável, de que não vai dar em nada? Quem melhor para saber dos desígnios da minha própria vida senão eu? E eu sei que não vai dar em nada. Eu sou menos do que um sopro

Depressão - Parte 1 (2014)

Decidi hoje começar uma série sobre meu histórico de depressão. Talvez como forma de terapia, ou como uma tentativa de elucidar ainda mais, com exemplos reais (a partir da minha perspectiva parcial) das situações que me trouxeram até onde estou hoje. Decidi escrever estes relatos da forma mais direta e menos subjetiva possível, porque eu tenho um vício em subjetividade, mesmo que uma subjetividade pobre e repetitiva, eu sei disso, porque tenho medo de mostrar a minha vida como ela é de fato é. Estes medos variam por diversas razões diferentes, e uma das maiores é a de não ser injusto com ninguém. Eu não gosto de me fazer de vítima. Mesmo que, para quem me conhece, isso pareça algo totalmente incongruente com o dia a dia, porque quando eu falo sobre o que me dói, a minha tendência é sempre me colocar como a vítima da situação, mas dentro de mim, eu depois me condeno por isso, porque eu me excluo da minha própria responsabilidade de ter causado essa dor em mim mesmo.  Es