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Mostrando postagens com o rótulo Crítica

A Culpa é Deles

Texto por: Borges Sanatore "A razão de eu estar tão amedrontado e tão enraivecido é a realização de que vivemos num mundo podre repleto de abutres gananciosos que há muito tempo se esqueceram do valor da lealdade. Desde cedo somos ensinados a ter lealdade apenas aos nossos prazeres imediatos e às nossas necessidades fúteis, vãs e mesquinhas, e temos passado adiante estes valores às nossas crianças, sem perceber que elas estão a caminho de virarem adultos frustrados, mimados, inconformados com a realidade. A ação lhes foi roubada quando o conformismo tomou conta dos seus corações, e elas simplesmente aceitam a tudo, contentando-se apenas a reclamar, simplesmente reclamar. Agora por quem lutar senão por nós mesmos? Nós, humanos, somos uma imensa tribo, mas temos dificuldade de nos reconhecer como tal. Temos dificuldade de olhar para nossa casta e perceber que estamos destruindo e matando uns aos outros em busca do nosso único e puro hedonismo. Nós, humanos, somos uma imensa tribo, m

Uma mentira contada mil vezes...

Não concordo com a fala popular de que uma mentira contada mil vezes se torna verdade, porque ela tem um defeito lógico bem a princípio: se eu disser mil vezes que uma casa vermelha se ergueu e começou a caminhar sozinha em direção à beira da estrada, me agredindo no caminho, a ponto de me machucar, isso não se tornará verdade. Para que essa história se torne verdade, eu preciso primeiro de um aliado, uma testemunha impressionável e que se deixa persuadir pelo que eu falei. Ele não precisa nem mesmo ser meu amigo, apenas um ingênuo que estará ali pra dar sustentação, e às vezes, até mesmo uma impressão de que a minha mentira tem lá sua lógica. Este meu aliado pode dizer coisas assim: "é verdade, pois ouvi dizer que estavam construindo casas mecânicas autômatos, que se movem sozinhas conforme as necessidades do seu dono, e são programadas com defesa pessoal, tudo pelo computador". E pronto. A minha multidão, a minha plateia, as pessoas que eu arrebato com a minha história sedu

A Série Fundação na Apple TV - Uma hipócrita ironia

Senti muito receio quando vi que a Apple TV está para anunciar o lançamento da série Fundação de Isac Asimov. Não é coerente que uma empresa que atua com base no trabalho de exploração e quase escravidão se atreva a produzir um projeto com a obra de Isac Asimov, que muito provavelmente condenaria as práticas de negócios da Apple. É incoerente, pra não dizer hipócrita. Sempre fico extremamente incomodado com a insistência das emissoras de produzirem séries contando a história de clássicos da literatura, porque isso dá mais endosso para a preguiça de ler. Os livros provavelmente serão comprados para serem deixados como peça decorativa ou souvenirs, sem nunca serem abertos. É presunção, sei, mas conheço quem faz isso. Fundação foi a série que me ajudou a quebrar para sempre meu preconceito com a ficção científica. Quando comecei a ler de verdade, aos 17 anos, era muito seletivo, pois só lia os clássicos, e no mais, os clássicos da literatura brasileira. Só aos 20 anos comecei a abrir um p

Felipe Neto e a Literatura Brasileira, Júlio Cociello e o Racismo: A Jornada do Coitado

 O Youtuber, de modo geral, é a representação máxima daquilo que eu posso chamar de "o último prego no caixão da Educação Pública". Nosso país nunca reconheceu a necessidade de se aplicar políticas educacionais eficientes, a começar pelo principal, que é responder a pergunta que todo aluno já fez a si mesmo ou aos professores: pra que eu preciso aprender isso na vida? Eu vivo num país que é majoritariamente pobre, desorganizado e tem uma relação inescrupulosa, imoral e questionável com o dinheiro, o poder e a religião. E por mais que eu odeie o uso do termo, o topo da hierarquia, aqueles que estão nas esferas do poder, não se preocupam com a imagem que eles transmitem para as demais camadas sociais. Os ricos e poderosos do Brasil não se restringem a esfregar na cara de todos os brasileiros a sua vida de luxos e pertencimentos. É um terreno fértil para o surgimento de mitos e ilusões. Ilusões tais como a ilusão da riqueza, do dinheiro, do ter poder de compra e consumo. Ilusão

Cancelamento

Se você um dia cancelou alguém, lacrou ou fez parte da destruição de reputações, parabéns, você se deixou levar pelo comportamento de época criado pela pior geração de todos os tempos. Cancelar é uma cultura da rede social para reprovar publicamente o comportamento de alguma pessoa. Mas para apontar o dedo moral para alguém, sua balança moral deve estar igualmente intacta, e convenhamos, não existe esta coisa no que se trata de pessoas. A questão não é exigir que a pessoa esteja exígua de moral. Eu sou a favor do refinamento moral, contanto que ele não se torne uma justificativa para a acusação alheia, afinal, ninguém está isento de sua identidade moral, e nós temos as nossas crenças e considerações daquilo que enxergamos como certo ou errado. Só se exime de moral aquele que sabe perfeitamente que não é capaz de manter coerência na sua própria conduta por muito tempo. Também se abstém da moral quem ainda não tem a coragem de viver sob seus próprios termos, mas neste aspecto eu consigo

Humildade: arma de colonização mental

Quando temos a oportunidade de ter contato com alguma figura pública que admiramos, seja ele um artista, um intelectual, um esportista, criamos uma expectativa quanto às atitudes da figura. É muito comum pessoas se declararem repudiadas por artistas que não tem humildade. Eu me lembro de um artigo no  Whiplash  ( link ), aliás, um site de jornalismo musical muito fraco, em que o escritor Adriano Ribeiro, um fã inveterado de Iron Maiden, se mostra indignado com o comportamento do baterista dos Beatles que fazia uma série de shows no Brasil, em 2011. A manchete era bastante apelativa, como quase tudo no Whiplash. Dizia "Beatles: baterista ignora fãs em São Paulo". A queixa do Adriano era pelo fato de Ringo Starr não ter parado para dar atenção aos fãs que faziam campana na frente do hotel em que ele estava hospedado. Ele cria uma narrativa de um fã de 17 anos sonhador que espera ver o seu ídolo, mas tem sua expectativa destruída pela atitude do baterista. E também na reportagem

Este mundo está doendo

Estou com uma angústia entalada em mim, o dia inteiro. É um acúmulo de emoções, um choro que não sai. Um choro de desespero, dor, sofrimento e empatia. O contexto é o seguinte: estamos vivendo no meio de uma pandemia de um vírus derivado da Síndrome Respiratória Aguda Grave, o SARS Covid-19. Esse vírus, primeiro, pelo menos do pouco que sei, se espalhou na China, em 2002, e acabou resultando em uma pandemia entre os países do norte. Porém, o Covid-19 tomou proporções absurdas. O nível de contágio desse novo vírus é muito maior, ele se espalha com muito mais velocidade, e por essa razão, a solução para a contenção do vírus foram decretos de quarentena vindas de quase todos os governos mundiais, ressaltado quase que de hora em hora pela Organização Mundial de Saúde. O problema todo é que neste ano de 2020 o nosso presidente é o Jair Messias Bolsonaro, eleito com pouco mais de 30% dos votos em 2018. Junto com ele ganharam protagonismo também algumas figuras, começando com os seus filhos,

Pós Verdade com Farofa e Banana

Estou fascinado com a covardia e fraqueza desta geração. Vivemos em uma época em que as pessoas disfarçam sua fraqueza em um ódio fajuto, desviando a verdadeira intenção do discurso: pedem para que não batam nelas porque são incapazes de se defender. Isso é puramente uma metáfora. Entenda por "bater nas pessoas" não a violência física, mas a argumentação ácida. Quando o debate se torna espaço para a simples opinião, não existem mais regras. Mas debater com lunáticos é uma tarefa intelectualmente suicida. A melhor forma, talvez a legítima defesa da dignidade, seja recorrer aos mesmos artifícios. Se você age como idiota e todas as pessoas passam a acreditar que você é um idiota, isso vai dizer mais sobre o comportamento delas do que sobre o seu. Contudo uma vez em que eu vivo segundo a minha própria moral, não é sequer um risco, é nada além do que um alívio.

Muito Além do Conto da Aia

Às vezes tenho a sensação de que algumas pessoas acreditam que assistir ao Conto da Aia é o suficiente para transformar uma sociedade que está alienada de sua própria responsabilidade. Estas pessoas se esquecem de que a história é apenas pura ficção, uma ficção que se estende para além da história em si, porque tudo o que a cerca, depois de concebida, vira um produto. É apenas a comercialização da indignação. Anos atrás eu me lembro de estar caçando novidades numa livraria, quando pego uma capa de um livro que parecia só faltar gritar "pelo amor, me leve daqui, você não vai se arrepender!" Não levei.  Havia não sei quantos alertas de 'Best Seller pelo sei lá qual jornal americano que não leio', e declarações apaixonadas pelos escritores que estavam na moda naquela época, se não me engano era Dan Brown. Vocês se lembram de Dan Brown? Pois é. Acredito que daqui uns 10 anos ninguém vai se lembrar de George R.R. Martin também, então se você encontrar numa capa de um livro

Crônicas do Não Saber 4 - Isac Asimov - Fundação 2020

Uma das minhas histórias favoritas nos livros que li é Fundação, de Isac Asimov. Ganhei o primeiro livro de um amigo meu, mas por puro preconceito com a ficção científica, abandonei na minha estante por meses. Um dia decidi dar uma chance, depois de ler tantas vezes a respeito da obra. Eu acreditava que Isac Asimov se tratava de uma literatura de ficção fácil, até mesmo infantil, por causa do cenário envolvendo a própria ficção científica. Com o passar dos anos passei a enxergar a literatura de ficção como um entretenimento, mesmo aquela que se pretende ser clássica e explorar as reflexões e ideias mais refinadas das ciências, ainda não deixa de ser um entretenimento. Como por exemplo, um filme como Jogos Vorazes que explora a ideia do Darwinismo Social, não precisa necessariamente explorar com detalhes a origem sociológica do termo, nem mesmo os estudiosos que a cunharam, e nem mesmo os outros estudiodos que a combateram, e toda a discussão científica por trás da definição que ilumin

Torim e A Guerra Cósmica

Eu tive um aluno chamado Gabriel Mussolini. Antes de tudo, este não é um texto sobre a origem do sobrenome do ex ditador italiano. Não sei nada sobre o Benito Mussolini, mas imagino que o meu ex aluno seja o dimetrial oposto, afinal ele é um garoto extremamente doce e gentil, com uma imaginação fértil e aguçada. Ele é um sonhador, mas no bom sentido. Meu ex aluno, o Gabriel, escreveu um livro chamado Torim e a Guerra Cósmica. É um livro de fantasia com inspiração em mitologia grega misturada com modernidade. Mais ou menos o que o autor de Percy Jackson fez. Aqui vou fazer um adendo: eu não me oponho de forma alguma à literatura fantástica, pois a considero uma excelente porta de entrada para a leitura. Exsitem divisões até mesmo no meio da literatura, é inacreditável, porque enquanto há pessoas que defendem o ato da leitura como um hábito saudável e necessário, existem outros que sim, concordam com a ideia, contanto que a leitura seja restrita a determinado tipo de material. É

Maestro João Carlos Martins e a valorização da tragédia na TV

Minha mãe estava me contanto hoje sobre o Maestro João Carlos Martins, que visitou um programa de TV aí (não sei o nome, não assisto TV há muitos anos). O maestro vive um drama pessoal, é um pianista, apaixonado pelo ofício, tem na música a sua própria motivação para viver, e por causa de um assalto, onde sofreu uma pancada na cabeça, causou-lhe um problema neurológico que o impede de ter o movimento natural das mãos, quase impossibilitando que toque piano. Neste programa ele começa a tocar uma música no piano, apenas com o dedo indicador de cada mão, e em dado momento, começa a chorar: o motivo, um jovem promissor, da música (segundo minha mãe) morrera por causa de uma tragédia de violência. Minha mãe falava isso com uma voz piedosa e uma expressão de pena, e se via tocada por isso. A TV tomou tamanha proporção na vida das pessoas dos anos 50 a 2000, que esta geração desse período de 50 anos foi completamente convencida a dar qualquer situação nessa tela como verdadeira.

Quem sou eu afinal?

Retirei este trecho do meu livro de fantasias favorito: Irmãos, não falem mal uns dos outros. Quem fala contra o seu irmão ou julga o seu irmão fala contra a Lei e a julga. Quando você julga a Lei, não a está cumprindo, mas está agindo como juiz. Há apenas um Legislador e Juiz, aquele que pode salvar e destruir. Mas quem é você para julgar o seu próximo?  Tiago 4:11-12 Pois bem, quem sou eu? Direi, peço licença a vossa divindade, porque eu estou aqui neste lugar que mais parece um circo de horrores do que uma obra divina. Eu posso dizer que não gosto da maior parte das pessoas que já conheci, mas eu posso dizer também com quase absoluta certeza o quanto eu desprezo pessoas religiosas, especialmente os cristãos. Cristãos são a nata da hipocrisia na sociedade, sem contar o cinismo, a falsidade intelectual e a cretinice de comportamento. Certa vez um cristão sente os desejos que um ser humano normal sente, de desfrutar do que o próprio mundo oferece, coisas que o se

Aquele velho tédio que me diverte

Eis o porque eu gosto tanto de você, embora não pareça, porque não é do meu feitio: você nunca está satisfeito, e isso é ótimo. Existe sempre esse tormento impregnado na sua mente, às vezes com a coisa mais estúpida e irrelevante. Isso é um deleite, acredite. Mas eu odeio meu melhor amigo... Porque ele é fraco. Vive em negação da realidade, o que me diverte, claro, mas comumente eu me impaciento, e de tanto já dizer, opto por calar-me. Já pensei no quanto me aborrece que as pessoas acreditem ser verdade a própria negação dela, enquanto ser verdade é ir desesperadamente em busca de uma vida que nega tudo aquilo que realmente precisamos. Essa imaginação confluente sempre nos faz pensar que somos mais do que somos, mas no fim das contas, no auge da nossa solidão depressiva, entendemos realmente que tudo o que fizemos até este raro momento de lucidez, não passou de uma mera fantasia para não nos entregarmos de verdade à cruel realidade: estamos aqui para nada apenas. E com
A santa paciência da vida. Esta paciência que em tudo a gente espera, e nada acontece. Grudaram o meu cérebro no teto de uma Igreja Basílica, daquelas altas, em que nos sentimos um grande nada. As coisas simplesmente pararam de fazer sentido, e agora, com pessoas tentando nos trazer de volta ao limiar da ignorância, com um negacionismo da fatídica falta de sentido da vida, isso me cansa ainda mais. Parece que me querem fazer crer que as coisas que eu sei, eu soube erradas, essa atitude fajuta de reescrever a história apenas para comprovar que o que já foi comprovado não pode de fato ser comprovado se for fruto de uma história inventada. Mas como fazer para superar toda essa questão, toda essa problemática? É como se eu visse além da nuvem e pensasse: ok, aqui é fresco, mas o que vem depois? O querer depois, essa insistência da vida. Santa paciência enquanto eu vivo nessa impotência servil da minha condição limitada. Mesmo que algumas pessoas não tenham ciência disso, d

Porque eu gosto tanto do filme Karatê Kid

Karatê Kid é um filme de 1984, e mesmo assim, é raro conhecer uma pessoa daquela geração que não sinta uma ponta de nostalgia quando falamos sobre a história. Este filme conta a história de Daniel Larusso, um garoto de Nova Jersey que se muda para Los Angeles com a mãe, e lida com alguns problemas de adaptação ao lugar. As coisas se agravam quando ele conhece uma garota, Ali Millis, pois ela /é ex-namorada do melhor aluno do dojo de Karatê Cobra Kai, Johnny Lawrence. Em um momento do filme, Johnny junta-se com seus colegas do dojo e dão uma surra em Daniel, que é salvo pelo zelador de seu condomínio, o Sr. Miyagi. Impressionado pelas habilidades de Miyagi, Daniel pede para que ele o ensine caratê, e aqui começa a jornada do personagem. Não quero entrar nos detalhes desta sinopse ruim que acabei de escrever, apenas quero dizer os motivos que me fazem gostar tanto deste filme, embora seja uma história que já foi contada várias vezes, de maneiras diferentes, em outros filmes, seg

A Falácia do "Mimimi": O mimimi de todas as falácias

Eu não tenho smartphone, não uso facebook, não tenho twitter, não tenho conta no Youtube, odeio youtubers, odeio gente famosa de internet, e de um modo geral, tenho odiado a internet também, embora eu a use pra me expressar. A maior argumentação sobre quem adere a estas coisas é a de que precisa se socializar. E a maior argumentação contra quem não as adere é a de ser um homem das cavernas, e variantes disso. Chamem-me do que quiserem, troglodita, vive na era da pedra, vive na era medieval, enclausurado, recluso, excluído, vive na bolha, etc, etc. A minha autoestima não se mede pela opinião dos outros sobre mim, porque se eu pudesse falar abertamente o que penso da maioria das pessoas que conheço eu estaria preso ou já teria sido assassinado com requintes de crueldade. Agora eu começo a identificar, apenas por hobby, a geração patética que se alastra diante dos meus cansados olhos. Antigamente era um desafio poder descobrir a idiotice estagnada na cara das pessoas. Mas a human

Amigos para Sempre: A mentira da geração Coca Cola

Eu não sei nem por onde começar. Não falo por todos, falo apenas por mim, pela minha experiência, e isso aqui não é uma fórmula ou uma receita de bolo, portanto não me siga, apenas leia, se quiser. Minha vida foi sempre vítima do idealismo televisivo. Acho que todas as nossas foram. Nosso comportamento foi condicionado, dia após dia, a ser de modo x, isso não é novidade para ninguém. Qualquer pessoa adulta com um mínimo de consciência sabe disso, e também não vejo problema algum nisso. Já vi pessoas com mais de 25 anos que brigam e perdem a cabeça porque o mundo não entra nos trilhos do seu trem individual (eu mesmo já fui um deles, até bem irritante), mas isso é puro narcisismo, escapismo, negação da realidade. A vida é o que é, ponto final. Você pode me dizer: mas não podemos nos conformar. Esta resposta messiânica de que temos que mudar tudo o que nos incomoda é o que realmente mais me deixa transtornado. Porque honestamente eu gostaria apenas de ser e só. Só ser, simpl