Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens com o rótulo Isabelle La Fleur

Devaneio de um Sonho

 Eu vejo a distância a morte de uma flor Primeiro ela para de crescer, numa decisão impetuosa A cor que desvanece, empalidece, esmorece. O perfume cheira a frio e a saudade. Pouco igual ao fim de um espetáculo Testemunho o longo adeus, se recolher Dá-lhe água, adubo, carinho ou amizade Ela existe mas para de viver. Na veia corre o sangue em aflição Pois mesmo queira a flor se extinguir Mais forte sinto ainda o desistir. Pra que escolho esta flor como objeto? Servir como o frescor de um novo amor? Ou o consolo expurgo desta dor? Como a vela em dia claro, sob a luz ardente Não quero que se vá, que me deixe, que termine Como pés cansados num deserto transcendente Pende a pétala no instante em que decline. E as pétalas as deixam, avassalada Uma morte por dia, a flor que emudece Mas menos que um sopro de vida: Ao cadáver de pé, uma prece: Tenta, a vida que se arrasta, arrasta ainda e segue.

San Michele a Ripa

Sai da espada tua lágrima de pérola E atira-me violenta à danação eterna Esta prisão de sangue, suor e sorte. Com o tordo e larva preso em tua jaula Que ao ter a porta esgarçada e frouxa Voa em certa liberdade para a morte. No pulso, a cela em ferro e estilhaço Do cheiro ao gosto da ferrugem rompe No indulto face em frente à encruzilhada? Tuas janelas que ao Tibre se refletem Olham fundo ao abismo que os mira De uma boca dolorida e desdentada.

Laço Amarelo

Arco do rebento O raio do Astro A trompa do anúncio Do Rei do perdão Encontra a menina De pauper pezinhos Lacinho amarelo Em levitação O Rei que outra vez Verteu água em vinho O vinho é sangue O sangue é um pãozinho Caminha sobre águas Da dor do rebento Verto água meu vinho Salvação sangrenta

A Única Coisa

Abdiquei de toda a ostentação Poderia ter sido rainha das arábias Perdida em meu próprio deserto Mas não, Não desejei não. A única coisa pela qual O meu vil coração implora Vil de tanta mágoa No passado e no agora Repleto de cicatriz A única coisa  A coisa que sempre quis Foi apenas ser amada.

Mal Amada

Eu passo oitenta e cinco por cento do meu dia em cima do travesseiro do sonho. Eu sonho com justiça social, com o fim da desigualdade, com um mundo mais pleno de empatia, um mundo menos preocupado com a imagem ao invés da essência. Eu especialmente sonho com um grande amor. Eu perdi todos os meus. Eu sonho com um amor que comece agora, e seja tão puro e pleno, que não existirá o ontem e nem o amanhã, e ele estará aqui. Eu sonho com um tipo de amor que já entenda que sou imperfeita e cheia de temores. Eu sonho com um amor que considere minhas feridas e meus medos. Eu sonho absurdamente com um amor onde eu possa me sentir segura, e que possa cuidar de mim. Eu sonho com um amor que não importa a loucura do mundo, ou a minha própria loucura, ele estará ali para me salvar. Eu sonho com um amor que não me culpe e não me condene, e que não me cobre um preço, pois não vou cobrar. Com um amor que não sinta que amar é demais ou insuficiente. Um amor que não me abandone à solidão. Com um amor que

Nihilumbra

Ainda vivo pelo ódio Que eu sinto de você Porque esta vida é uma mentira Mas você é ainda mais. Cada vez que eu te vejo Uma parte de mim morre Já morreram tantas partes Que o que sobra é uma penumbra Nihilumbra amores vãos Não existe mais pulsar Nem pelo nobre sentir Do pobre coração O que sinto é a derradeira sede Temo saciar com um último gole E o que restar é só vazio Tédio e vazio Como queria que com trovejar Caísse em mim e me dividisse Com o raio da renovação. E nada mais temo. Não temo deitar em vã espera Tal a morfina da névoa da manhã Recita em silvos o sacrilégio Dos sussuros da aurora É só o crepúsculo das horas A falta de fome na fartura E o nado urgente em mar raso O vôo em salto de colchão Segue em corpo são Mas em espírito tardio Como se a tudo visse E a tudo cheirasse Já nem há mais o ódio A mágoa cavada em estaca A ressaca da conviva inesperada Ou mesmo a depressão O que há é pior que o morrer Em retrasada musculatura De esganar-se nas próprias mãos. O que há é ar sem

Liebe Ist Für Alle Da

Eu me lembro do quanto nossa vida era repleta de música. Eram músicas ora obscuras, ora festivas, ora eletrônicas, ora progressivas, sim, músicas polêmicas, nada melhor do que isso para ser a trilha sonora do que se aconteceu.  Ninguém entende, ninguém entenderia. Se soubesse o vazio que existe agora, um vazio de tudo. Vazio até mesmo de música. Uma sensação intensa de que algo muito importante se acabou para sempre. Eu acho que precisamos reconhecer quando essas coisas acontecem, e hoje entendo melhor os motivos dos homens tristes. Algo morreu, e não existe ressurreição, isso é o mais trágico de seguir existindo. E eu percebo cada vez mais o quanto tudo era especial, único, marcado para sempre na memória, e digno daquela tamanha dor quando ficou para trás. Nunca houve nada tão digno para ter tanto pranto, e a vida seguiu apesar de tudo.  Não sei como será o futuro e desde aquele tempo parei de me importar com ele, acredite, não vale a pena. Mas sei como foi meu passado, u
Quantas vezes mais descerei ao inferno Para ter a pele mutilada em intenso drama Que se reconstrua do zero e ressurja Sob a dura carcaça de uma dama? Eu sei que a vida é aprendizado, eu sei disso. Mas quantas vezes mais terei eu mesma que me destruir, a cada vez que deposito minha fé em algo, ter minha alma despedaçada, sim, dessa forma intensa e degenerada, porque já não sinto mais a sutileza das coisas, e tudo é isso como parece, um eterno grito, um eterno berro de dor, e enfim ressurgir mesmo, como pessoa nova? Eu estou cansada de ser uma pessoa nova, e estou cansada de ter meu coração apunhalado pelas imagens espontâneas dos meus desejos não realizados. Quando será que vou conseguir me perdoar por não conseguir te perdoar? E quando será que vou conseguir não sentir mais pena de mim mesma a cada vez que eu te ver numa foto ou receber por um acaso uma mensagem que não foi direcionada a mim? Eu tento, eu juro que tento te esquecer, tento fingir que você nunca existiu

Locomotiva

Há o escuro em minha alva superfície Sua seco o sem santo elixir Sobra apenas o gás da imundície Sobe apenas o que deixo de existir. Dentro aspira, rouba minha vida Em seus trilhos vil locomotiva Fora expira, larga-me a ferida Fica a estação, faz-se a votiva Mas frágil alma, frágil criatura Não segue o passo da vida prometida E parte o trem sem mia presença E fica assim, em solita tortura Veneno esfumaçado, morte vertida Em gás espiralado, minha sentença

Goth Love

Enquanto teu corpo se decompunha Eu via essa alma podre como a minha Éramos como duas vagabundas Rolando em cima da moral corrupta Dessa humanidade tão decrépita Mas meu amor, tua alma com a minha Convergia nesse vômito necessário Estávamos a um passo da morte do vigário E que se danem, não eramos, não seremos Nunca seria santa Mas por que a tua confusão tão tardia Permitiu que a tudo desintegrasse? Isso não mais parece um poema Senão um desabafo de amargura Esteja aqui no último momento Dessa interminável tortura E se? Não ligo Se aponto para o norte Na verdade paro em meu umbigo E assim vou seguindo

Ode a Uma Alma Destruída

Serei a eleita a destituir teu poder sobre mim? Enquanto aqui ajoelho submissa Você me pega pelos cabelos Ergue minha cabeça e faz de mim A escrava mais que absoluta! Até quando virá esta perdição? O quanto mais resistirei à luta? Sou apenas uma alma frágil, eu sei Ela está aqui exposta como ferida aberta Arde a cada leve brisa A cabeça estoura ao mais ameno som Ou me deixa ou me deixa Destrói-me até o último dia Desapareça ou fuja Largue-me no lamento ou na queixa Enquanto me jogo no chão, indefesa É isso, sou isso, apenas isso Esse pedaço de autopiedade Sim! A vida não é brincadeira! Sim, estamos diante do colapso mortal Entre a casta que aborta a esperança Ou a multidão que se finge de freira Mas pouco importa enquanto cavo este poço infindo E descubro a cada metro fétidas verdades Sim! É isso? Sou isso? Apenas isso? Essa larva interminável corroendo com amargura No enquanto que não sai de mim Ganho pouco a pouco uma escuridão tardia Deixo uma pel

Tempestade

Quanto tempo leva Pra que este rápido relâmpago Divida-me da cabeça aos pés E já nem mais serei duas Serei múltipla no revés Este frenesi constante Bate em mim como a uma megera Não domo minhas dores Não dôo minhas flores Ah essa vida! Quimera! Ah essa vida tão pura! Mas estes olhos tão carnais! Manchados com algo tão solvível! Algo tão pouco guarnecido! Essa linha contínua! Atira-nos assim, entre o limiar da sede! E da mais sublime loucura! Ah essa condição desconhecida! Que tortura! Essa condição de ora servil de mim Ora servil de escrava sua! Qual a monção que a tempestade me leva? Para qual selva hostil esta sina existe? A vida que cresce, ela insiste Mas e eu? Que desiste? Ah esta vida que passa a ser só dor Seja lá ela como for, vil ou pura Enquanto fica em busca desse ópio Vivo apenas em busca de cura! Ah essa vida! Que dura!

Sangra

Acho que tem alguém me olhando por aquela janela. Shh escuta. Nossa, escutar o que? Ele não tá nem fazendo barulho... É que as coisas vem me deixando assim mesmo, desorientada. Já ouviu da última? Que quem comete a gafe é que demanda piedade e exige perdão? O perdão agora é assim, saldo, liquidado, sem luto e sem nada. Que se exploda sua alma que sangra, se é sangue de dor, de hímen, de menstruação, daquele arranhão nas costas daquela noite... Se é feito direito é amor, mas se não, é açoite, ainda que seja, é sangue. Como saber distinguir? Cospe e bate na minha cara igual uma... Essa carapuça que não me serve mais, porque na boa, cansei de dar. Andei dando pra caramba por aí, dei mais que prostituta desesperada, mas cadê os meus trocados? Já viu prostituta depois do sexo, fingindo que é feliz, forçando pra ser sua amiga? Sou eu. Mas eu sei que quando você paga, veste a roupa e sai fora, você só vira olha: que gostosa, mas é puta. Todos somos, mas uns lucram mais do q

D.D.M.

Destrói-me drástica mania Desde dada melancolia Muito intensa vilania. Este veneno que em silêncio A alma dos mais puros Com sado açoite corrompia. Tem em mim uma trilha escura Basta que se veja com atenção A mancha que pesa o coração Mas eis a clara luz do dia Essa antítese da minha negação Não existe pois explicação Porém é esta que mais mata Uma carne que em plena lustre Inundada em podre embuste.

Amor da minha Vida

Às vezes te quero tanto como nunca Como nunca quis nada da vida. Às vezes te encontro assim, largada Como refúgio, como sonho Como ilusão perdida. Sempre me engana e por isso Às vezes te odeio Às vezes por ti pranto, Agarrada em convulsão No escuro lençol da cama. Às vezes fico séria, E quando te perco a saudade Tudo se alastra em drama. Às vezes te amo E como te quero Começo o dia sorrindo Tudo brilha, tudo é perto Andar por cima é fácil Às vezes chove Essa metáfora dos românticos Dos realistas e dos modernos É fresco, é triste, é silêncio, é paz Às vezes te quero tanto que não te quero mais. Às vezes sinto vontade de ficar aqui Agarrada aos joelhos, longe de ti Às vezes quero apenas o teu conforto A certeza de que é meu amigo Tem vezes que me quero só, comigo. Na maioria dos reveses Reveze felicidade com tristeza Isso com aquilo Controlo-me, controla-me Vejo o dia como dia Ou como metáfora Igreja vira vidro, ou fé Prédio vira pedra ou moradia

Peônias após a dinastia Han

Enxofre, carvão, nitrato de potássio Badala o sino anunciando a missa Perco a missa O café amarga, azeda, queima Sem a fumaça do consolo Largo ali a xícara Que permanece por uma semana Porta entreaberta, todos os dias Espero alguém chegar Ninguém chega. Luz vai e volta sozinha O calor existe, mesmo debaixo da sombra da árvore. Ouço um choro na caverna Nesse som que bate no fundo e ressoa. Badala o sino anunciando a missa Perco a missa. Caverna escancarada, todos os dias Espero alguém chegar Ninguém chega. Bebo o café, acabou o café Largo ali a xícara Que permanece por um mês Odeio o lago da calmaria Quando se tem medo de nadar Badala o sino anunciando a missa Perco a missa Mar aberto, escancarado, agitado, calmo, todos os dias. Espero alguém chegar Ninguém chega. Badala o sino anunciando a missa Ninguém chega. Enxofre, carvão, nitrato de potássio. Pedaços de porcelana ao chão. Ninguém chega, todos se vão.

Meu caso com Anna O.

Hoje, nesta tarde fria e nublada Estarei te esperando, de coração, Levando-te para todos os vazios Pelas quais minha mente passeia Depois da meia noite Estarei só, ainda aguardando Antes de que a gota caia surda Deixa-me saber que tentou. Leve-me daqui até onde der Infinito, belo ou impossível Faça-me apenas sentir livre Enquanto olho pro inalcançável horizonte.

A valsa de máscaras de Bethlem Royal

Leve e irrequieta a noite vai chegando E sei que contigo ela o traz em seu encalço Um misto de inquietude intensa me desmancha Tuas garras, mãos delicadas acercam-me fortuitas Perco-me só, isolada, não sei o que faço Esgueiro-me furtiva, finjo estar falando, estou quieta. Fecho os olhos, acalmo-me, sei que estás me olhando Pego um copo, outro copo, outro copo, outro corpo Sorrio em nervosismo, morro em silêncio, afundando. Levanto-me, deito-me, sento-me, levanto-me Um outro copo, um outro corpo, o coração palpita O pensamento, túrbito, se escancara enquanto eu quase... Tu chegas, suave, sorri e não me aguarda Segura-me nas mãos, eu me levo, indefesa E quando menos quero, estás em mim Estás em minha vida, em meu corpo, em minha roupa Estás em minha cama, estás na minha gente, sem licença E tudo o que de mim conheço, não dura mais que um beijo E este beijo, ele é frio, deixa-me a sofrer E de mim sei, não te preciso, mas estás aqui, um vício Observa-me enquanto t