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Devaneio de um Sonho

 Eu vejo a distância a morte de uma flor

Primeiro ela para de crescer, numa decisão impetuosa

A cor que desvanece, empalidece, esmorece.

O perfume cheira a frio e a saudade.


Pouco igual ao fim de um espetáculo

Testemunho o longo adeus, se recolher

Dá-lhe água, adubo, carinho ou amizade

Ela existe mas para de viver.


Na veia corre o sangue em aflição

Pois mesmo queira a flor se extinguir

Mais forte sinto ainda o desistir.

Pra que escolho esta flor como objeto?

Servir como o frescor de um novo amor?

Ou o consolo expurgo desta dor?


Como a vela em dia claro, sob a luz ardente

Não quero que se vá, que me deixe, que termine

Como pés cansados num deserto transcendente

Pende a pétala no instante em que decline.


E as pétalas as deixam, avassalada

Uma morte por dia, a flor que emudece

Mas menos que um sopro de vida

Ao cadáver de pé, uma prece:

Tenta, a vida que se arrasta, arrasta ainda e segue.

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