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Liturgia dos Corpos Doentes

Conheci um dia um artista que me despiu por inteira

Despiu-me com palavras

Com olhares

Com um toque suave

Mas de tão suave que me fez incendiar


Gritei teu nome como se grita por uma prece

E ele, ele orou em mim

Fui deusa

Ele foi altar

Fui esperança

Ele foi templo e contemplação!

E quando balançou teu aspersório

Fui tua bacia de água benta

Tu, lavou-me em oferenda e salvação.


Diz ele para mim

Escrevo, escrevo sim um poema

Neste teu coração vadio e sem rumo

Porque escrevo como quem sangra

E te amo como quem morre.


Ouço longe como do outro lado do mundo

O lamento de um passarinho solitário

Tenho ele preso em tua jaula

Venha buscar a tua chave

Através dos densos caminhos do meu bosque.

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