Eu não sou uma boa pessoa. Admitir isso é libertador, pois me livra de uma obrigação moral com quem quer que seja. Não estou vivendo em função de nenhum tipo de virtude pessoal e eu não quero passar atestado de bondoso. Não existo para que as pessoas gostem de mim. Os meus raros amigos me aceitam como sou, sabendo da minha natureza difícil e insuportável, e raramente faria isso, mas viver e ter pessoas que não se deixam intimidar pela minha acidez e desprendimento destas questões da moralidade é libertador. Até às vezes me permito ser grato à vida. Talvez seja a única razão que me desperta este sentimento de gratidão, por eu poder ser a péssima pessoa que sou, e ainda despertar o afeto de raras pessoas que não se deixam enganar pela necessidade de reforçar os seus egos e seu narcisismo em mim. Por isso amizades parecem realmente coisas muito raras.
Almíscara penumbra O ar que pesa em febre As sedas ardem chamas Verte-me a maré da criação. Recebo em exortação As faíscas que te explodem sob a pele Cubram-me, estrelas cadentes. Ergo-te minha aberta taça Largo anseio a coletar Neste cristalino cálice As pérolas de deleite mar. Perfeita ondulação Com um arqueio para trás Transmuto em Eva Rosa aberta das Mil Noites Das mil insaciáveis noites! Sem medida. Deixe que caiam Que cerquem-nos as brumas Banham a alma o noturno orvalho Ouça este canto É a beleza do profano hinário. Neste sonho vivo Altivez de devoção cutânea Rito ao lúgubre exorcismo Governa e acata simultânea. Sorve dominada a benta água Aceita a nativa incumbência A viva e infinita exultação. Quente e pesada Cai a noite Salto na cidade inteira Soltas rubras copas Sem medo Reflexo brilhante das estrelas Embebe o lacre dos segredos. Quente e pesada Em açoite Salta a cidade inteira Um, dois, três, quatro Brindem ao pórtico Abraçados às cortinas Rasguem o m...
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