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Cidade Fantasma

 Fechou o dia. A cidade está vazia, Ruas inteiras com a imensidão da ausência. Portas fechadas, Janelas fechadas, Porcas fachadas. A cidade está vazia O dia está vazio Tudo está vazio. O Sol nasce cinza e lamenta O movimento de translação dos planetas. Pobre Lua, escrava nossa, eterna rainha dos amantes loucos. Não consigo sentir o cheiro. É por isso que sempre estou do lado de fora das vitrines. Por que o dia fechou. A cidade fechou.

Filosofando o Tic-Tac

 Dias vão, dias vêm Vão-se as cavalarias e infantarias Boemias e orgias inteiras Vão-se as horas de gozo e as obrigações Mas nada disso me faz entender, Nada; Nada me faz compreender o porquê do relógio às vezes fazer tic [e às vezes fazer tac. Por que do seu ir para a esquerda E depois para a direita? E porque os seus ponteiros giram giram giram Incessantemente... Dolorosamente...

O Espelho

O Espelho Diante do espelho constatei minha teoria: O espelho é liso e brilhante O espelho é branco e reluzente O espelho é silencioso como um gato. É puro como o leite das rãs. É calmo como as águas do Éden. Quando olhei para o espelho, Não consegui enxergar nada.

Mariposa

 Viver me fez entender um pouco que há sempre uma mariposa                 [branca rasgando o céu. Ela vem voando, vem voando Se eu nunca a olhar Talvez ela vá voando, vá voando e eu nunca mais olharei.

Rosa Proibida

 Nasceu uma linda Rosa no meu jardim O meu jardim é cheio de cravos e espinhos No seu profundo jaz a Madre Pérola A Rosa pintou os Cravos com as cores confusas Mas a Rosa não fez nada...  Foi o Jardineiro astigmático e míope.

Doce Mentira

 Meu Deus, meu santo Cristo. Como eu queria Ah! Como eu gostaria de saber mentir. As doces mentiras da convivência, das juventudes alheias. Como eu gostaria de ver as flores dessa vida. Mas eu só falo a verdade Eu só vejo a verdade Eu ouço a verdade de ouvidos feridos A poesia da vida é uma gota d'água num mar tempestuoso Nada como um dia após o outro Eu suspiro - É nada como um dia após o outro... Meu mar de rosas não tem pétalas. Só espinhos e sangue.

Eis a Estrela (Para Manuel Bandeira)

Flagraram a Estrela na plenitude de sua humilhação.  Com um assaltante e um assassino Encontrava-se fatigada e ofegante Mas que importa? Acharam a Estrela! O delegado austero, fardado Com o papel constituinte e todo o rigor de sua lei nas mãos Bateu, gritou, xingou, cuspiu e prendeu os dois homens. A Estrela Fatigada e docemente delicada Limpou-se na farda policial Arrumou-se e foi ter com outro cliente. Mas que importa? Acharam a estrela da manhã!

Ecos do Menino

Um menino de 12 anos que nasceu preso no túnel. Caminhou errante, dando pequenos passos pelo complexo                     [túnel comprido. Ele tinha medo e tinha frios. Um menino de 12 anos. Num ato de loucura chorou: Socorro! ...Corro... ...Corro...   ...Corro... O choro não atingiu alma nem coração Apenas paredes de mármore frias. O menino nasceu preso no túnel comprido. A resposta que veio, que matou o último suspiro Do menino de 12 anos O grito que parecia ruídos estranhos. Masmorra! ...morra... ...morra... ...morra... Fechou os olhos e sentiu sua mente se diluir. Abriu novamente e notou que o túnel não tinha fim. O túnel... ele não tinha fim.