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Maçãs

Foi ali debaixo daquela macieira Onde despencou do mais alto galho A bela maçã vistosa Doce Sensual Tentadora E quando caiu no chão Ruiu as estruturas da alma Tremeu as bases da calma Fortaleza Tremores Restos Maçãs mesmo com casca são gostosas E provar do líquido suave É provar do pecado grave É viver de súbita culpa Por desejar a bela maçã Que sem querer despenca do alto E querendo nos faz descobrir A maior lei da gravidade.

No Restaurante

 O garçom: - O que vai ser senhor? O cliente desesperado: - Eu desejo carne ao molho de lavanda. O garçom sobreolhando, olhando os dedos do cliente: - Sinto muito, o senhor está à mesa algemado. O cliente resignando: - Perdi a fome então.

Desejo Íntimo

Escreverei sobre os belos lugares Belos espaços vistosos Voluptuosas noites que não existiram Diversas garrafas que não entornei Dos olhares que me tiraram o fôlego E dos olhares que me tiraram o intento E a concentração Para só assim preencher Na mente imaginária Os buracos que eu mesmo criei.

Há a Luz, Entretanto

Eu sinto que quero abraçar o mundo Eu sinto que quero que o mundo me abrace Que tire a minha alma do impasse De ser um riso fútil pelo dia E um choro um tanto inútil no noturno. Estas cordas vis Que presas aos meus braços Lhes dão o movimento E uma maior Hospedada no cérebro Evitam o choque com a persuasão Eu uso o toque Com a sensação De que estou dopado Do meu conhecer. As falas que eu quero Não me pertencem E a língua que eu uso E em alto grau de desuso São como as asas do burro recluso.

Das Impurezas do Templo

Eu vivo numa alcova sagrada E diariamente um anjo bom Visita-me despindo-se do manto Que herdou do pai que eu não creio. A flecha sibilou do inexistente Ruidosa e poderosa atingiu-me O coração morto amortecido. Que agora devidamente aquecido Virou um nômade de espírito ardente. De olhar preciso e espada quente Me ataca em pose indefesa E se o ato ao invés de sacro é de morte Então mate-me e depois jogue minha carcaça Sorrindo para ser levada ao mar Entregue às divindades e à sorte.

Deserdada

Louca, louca e como sofro! A dor da indulgente desgraçada A dor de uma megera deserdada De uma mente insana inconformada Eu tinha em pote o ouro afortunado Tinha a flecha esperta presa ao peito Doces pétalas perfumando o leito Qu'em abundância viva, era estreito. Mas hoje só o assola a mágoa escura Hoje, ai, hoje é só de pranto O pranto que em delongas se perdura. Pois se antes tinha eu a vida flora Sozinha destruí a todo encanto E agora a minha alma se deplora.

Desabotoando

Já estava a receber De manto branco o cavaleiro Alojador de pernicidas Pernicioso, presunçoso - É uma menina! Limpavas as mãos o orgulhoso. E em terra que se cava com ardor Depois da tempestade carinhosa Nasce ali uma solitária flor. E solitária é toda flor que desabrocha Pois da árvore só o fruto é devorado E bem sabido é que o rimador Sempre vai rimar a flor com dor. E aquela que é da mais esperta Convalescente cria seus espinhos E na flor que a mão vadia se estapa Ali o sangue cai devagarinho.