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Epitáfio

Carlos de Ossanha era Cristão Mas Ossanha não era nome de Cristão. Antes de Carlos morrer Veio o Padre da Sacristia de São José Fez-lhe uma oração na presença do nosso Senhor E Carlos morreu sob a extrema unção. Mas Ossanha não era nome de Cristão. Quando lia em seu epitáfio "Carlos de Ossanha, ardoroso Cristão..." O seu Ossanha chamava atenção Então Carlos foi condenado após a morte A arder no inferno da especulação. Tudo o que era carne: O cérebro de idéias apassarinhadas Os braços que carregavam o que queria As pernas que lhe levavam segundo seu desejo E o seu coração sincero consigo mesmo Já entravam em decomposição. Por isso Carlos de Ossanha Servo de Jesus Cristinho Cristão Virou mártir do que o povo achou que fosse E caiu no esquecimento da condenação.

O Lago Interior

Minha quietude Orvalhada num vale de assombrações Por onde até O mais imponente dos seres O alvo homem sentado ao chão Franzindo o semblante destilador dos destinos Enquanto deixa que as folhas caiam sobre si Não impressionam tão ou mais Que a mais exposta arquitetura. Meu mistério Mais fundo, oculto. Um caminho só. Na trilha tortuosa do Além do Bem e do Mal Descobre-se um ser de mim Colhendo pedras pelo chão Enquanto possuo o dom de saber Que não se transformam em pão. Numa feira livre tudo se vende O homem das alfaces Ao homem da Pera Numa feira livre. O mistério, mais fundo, oculto Está comigo Meu reflexo no lago interior Distorcido, mal visto, mal mal inacabado, Está vendido. Um torpor imaculado Uma nesga de boa aceitação... Quando mais, o que de verdade está Nos olhos das gentes da feira livre É o que está nos meus olhos. Enquanto me importa se sou mais ou menos Alfaces e peras são vendidas. Enquanto colho pedras para mim Alfaces e peras são

O Poema Perfeito

Assim seria a fórmula de um poema perfeito: Sem meias palavras Sem frases inteiras Reduto de uma simples conclusão Envolto apenas de si mesmo E exclusivo para uma única emoção: Karina meu amor nunca fui mais feliz na vida do que tenho sido desde quando te vi pela segunda vez.

Princesa de Minas Gerais

Laranja sem metade apodrece mais rápido Por isso não sou nada sem você Menina da minha vida que me tira do travesseiro Para pensar em você. Metade sou eu metade você. Espreme laranja e faz o suco sem metade de mim que sem você me faz Sensível.

Éter meu para Bandeira e Bashkirtseff

"Uns tomam etér, outros cocaína. Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria. Tenho todos os motivos menos um de ser triste. Mas o cálculo das probalidades é uma pilhéria... Abaixo Amiel! E nunca lerei o diário de Maria Bashkirtseff."* Já dizia o poeta. Qual é então o motivo da minha tuberculose? Qual é então, o às vezes que me persegue, retorcendo o bem estar? A ferida que não cicatriza, as marcas da autoflagelação. O acesso ao voluntário sofrimento e horror. Se fosse um aleijado de pernas, não andaria. Maria Bashkirtseff ficou famosa por sua profunda tristeza e pelo relato fiel de sua miséria tão comovente e semelhante. Seremos todos cadáveres vivos? Éter meu para Bandeira e Bashkirtseff Uma estrela Duas estrelas Cinco estrelas Dez estrelas É de manhã Ainda teimo em contar estrelas. Um peixe Dois peixes Cinco peixes Dez peixes No aquário do restaurante de frutos do mar Teimo que estou no Oceano. Uma ave Duas aves Cinco a

Do câncer da minha alma

Eu navego de foto em foto, de fato em fato, sedento por um espaço naquela brecha, naquele local. Deus do céu, quanto é preciso para que um homem enlouqueça de solidão ou de saudades? Ou como se chama mesmo aquele sentimento obscuro de uma saudade dos lugares que não estivemos. Fotos antigas dos amigos... não mesmo, elas estão todas presas na minha memória. Estas fotos senhores, elas não existem. Pouca diferença faz aquilo que pensamos, ou o que sentimos. Tanto faz os pensamentos profundos quando na verdade queremos só esquecer de todo esse lixo que é a vida. Voamos como urubus de podridão em podridão, é assim mesmo ciscando, nestes tempos de incertezas, procurando os nossos pedaços. Ah Deus, há quanto tempo abandonamos os aconchegos de nossos corações e caímos no conto mal falado das ilusões? Inteligência, beleza, carisma, tudo sem provas, para que precisamos delas? Eu só gostaria de saber o quanto alguém precisa de mim sem que eu precisasse provar a minha qualidade ou utilida

Não sou obrigado a querer água

Sou jovem demais para algumas coisas que andei descobrindo nesta vida. Sou jovem demais, talvez, para viver sob verdades absolutas. Entretanto, a filosofia teimosa, por mais que ela insista, não consegue me convencer plenamente de que ao menos algumas não sejam, absolutas, eu quero dizer. "A vida é feita de escolhas." Está aí uma delas. Coloco entre aspas porque é uma frase que mesmo o mais sábio dos mais tolos conheceria. Entretanto o processo estupidificação dos nossos valores mais profundos está tão avançado que é lamentável, mas hoje em dia só podemos dialogar a partir do mais óbvio. O mais óbvio neste caso seria aquilo que eu acredito como o pensamento fundamental. Não tem nada a ver com valores pessoais, não tem nada a ver com as nossas crenças, mas as escolhas, elas sim fazem o que nós somos realmente. Esta noite saí da casa dos meus pais e prestei bem atenção naquele olhar da minha mãe e da minha irmã. Reparei bem na voz preocupada do meu pai, por causa

Bullying - Parte 2

Peço licença raros leitores, para ser ao mesmo tempo informal e adentrar neste assunto tão desagradável de novo. O meu relato não foi um desabafo com a capa de "eu sou a vítima do mundo". Acho que as pessoas não entenderam a minha intenção. Não tive idéia de por nomes numa lista negra esperando uma vingança que jamais aconteceria, por motivos extremamente lúcidos, entre eles: com a mentalidade de um adulto eu entendo que para muitas pessoas que presenciavam estas atitudes, tratava-se de inocentes brincadeiras de criança. Outro ponto a salientar é que naquela época, no Brasil, o bullying sequer era discutido. Enquanto no exterior este problema foi diagnosticado e muito pesquisado nos 70, no Brasil, só passamos a falar de Bullying em meados dos anos 90, ou seja, na minha época de escola isso ainda sequer era assunto para debates. E por fim, a questão que quero colocar aqui é: as marcas ficam, as pessoas não. Não me refiro àquele discurso comum do tipo: "não po